Em serviço não se brinca

OPINIÃO24.07.201801:25

Os treinadores vulgarizam-se nas análises aos jogos de preparação. Se perdem , não tem a menor importância por se tratar, precisamente, de um jogo de preparação. Se ganham, a importância passa a ser muita por refletir a enormíssima qualidade do trabalho que está a ser feito, com promessa  de uma época de festejos que na maioria dos casos não passa disso mesmo, de promessa sem confirmação.

Sérgio Conceição, porém,  não  é adepto desta linha e revelou-o  após o primeiro teste a sério, com derrota diante do Portimonense, ao destapar o défice de soluções no plantel. «Há meia dúzia de jogadores que não têm capacidade para jogar no FC Porto e isso é visível»,  declarou, para espanto de quem está habituado a que os problemas, se deveras complexos, sejam  varridos para debaixo do tapete até que os ventos amainem.
O treinador portista nem esperou pela segunda derrota, diante do Lille, para  anunciar a sua indignação e assinar a guia de marcha a Saidy Janko e Ewerton, mais Paulinho, Waris, Mikel e Oleg (este regressa à equipa B), a tal meia dúzia de uma lista  que, como  A BOLA  noticiou na edição de quinta-feira, poderia ser mais extensa e abranger Chidozie, Adrián López e José Sá.  É evidente que Conceição não fica isento de culpas neste cardápio de reforços falhados, na medida em que também ele terá sugerido alguns,  mas pior do que não emendar o erro é fazer de conta de que nada aconteceu para  proteção de quem os inventou e das mordomias geradas.


Ninguém se convence que Conceição foi de férias sem, antes, dar a conhecer as suas pretensões em matéria de contratações para a próxima época. Admite-se que seria empreitada difícil satisfazê-las na plenitude, isso é normal, mas entende-se mal que nem um dos nomes indicados tivesse sido adquirido, partindo-se do princípio de que o treinador nada pediu  que a SAD não estivesse em condições de conseguir.


A administração portista, para surpresa geral, tão experiente e hábil  noutras circunstâncias revelou-se desta vez - e até agora - descuidada e incapaz. É uma das conclusões que podem extrair-se,  embora  não fique mal  a quem tentar descobrir o que se esconde por detrás deste aparente desleixo e qual o  objetivo que se pretende alcançar. Tenho a sensação de que Sérgio Conceição ficou com a cabeça a prémio a partir do momento em que proclamou  a sua  independência e vincou que só o presidente e ele se pronunciariam sobre  o futebol profissional do FC Porto.  


É claro que a hierarquia da SAD/clube, respetivos assessores e colaboradores e afins  não devem ter apreciado o bloqueio imposto pelo treinador. Como vem nos livros, quando não se pode falar, faz-se constar, mas Sérgio não nasceu ontem, nem brinca em serviço e a verdade é que, coincidência ou não, os alvos que identificou  começam a chegar.

O problema do Benfica é o próprio Benfica

No seu espaço das sextas-feiras, O Senador de A BOLA,  o conhecido benfiquista Sílvio Cervan  escreveu que  realizar jogos  com Sevilha, Dortmund, Juventus e Lyon é «uma prova de qualidade e rigor na preparação de uma época».  


Concordo por inteiro. Aliás, o Benfica está onde estão os mais poderosos clubes europeus, integrado na International Champions Cup (este ano com jogos nos Estados Unidos, Europa e Singapura),  uma prova concebida para acolher os melhores, gerar receitas e explorar novos mercados. Também lá esteve há três anos e foi o fiasco que se conhece. É passado. Na altura Rui Vitória tinha-se mudado de Guimarães para a Luz, e o salto foi grande de mais.


Hoje, é diferente. Tem de ser, aliás,  de aí que me surpreenda o receio pelo resultado do sorteio da 3.ª pré-eliminatória, quando, à partida, o Benfica, 15.º no ‘ranking da UEFA, olha para baixo e só de binóculos enxerga  o mais próximo dos prováveis oponentes.  Escreveu Cervan, a propósito: «(…) desejo, por agora, fugir de Istambul (Fenerbahçe) e Moscovo (Spartak). Tirando estes adversários, qualquer outro é bom para um Benfica de qualidade nesta fase da prova. Esperemos não começar com sorte madrasta.»


Discordo em tudo. Um Benfica  de qualidade bate-se com qualquer emblema, mas um Benfica normal  chega para atingir o play-off da Liga dos Campeões  e passá-lo. Era que o que faltava que assim não fosse.


A questão é outra: em face daquilo que se viu no particular com o Sevilha -  a equipa da 1.ª parte foi uma tristeza  e a da 2.ª melhorou mas não muito - é caso para questionar se duas semanas serão suficientes para disfarçar fraquezas e diluir equívocos. Disse Rui Vitória que o plantel não está fechado, mas recusou identificar as posições deficitárias. Também não é preciso. Estão à vista e convém que sejam normalizadas  até 7 de agosto, quando se disputar  o primeiro de quatro jogos, cujos benefícios financeiros  oscilam  entre mais de 40 milhões de euros e uns trocos. Porque, olhando as coisas como elas são, o principal problema do Benfica não é o Fenerbahçe, é o próprio Benfica.