Em defesa de uma Liga forte… e de Pedro Proença
De repente, sem que nada o fizesse prever (falo por mim) o Benfica desgostou da Liga de Clubes e do seu presidente, Pedro Proença. Não se percebe exatamente quais as causas, salvo o que alguns amigos do Benfica me dizem - que Proença faz o que o Porto quer… Deve ser algo pouco visível, daqueles bastidores do futebol (e melhor diria bas fond futebolístico, demasiado parecido com romances de Mario Puzzo ou filmes de Francis Ford Coppola).
O pretexto foi uma carta que Proença mandou a diversas autoridades, incluindo o Presidente da República, a defender que alguns jogos desta retoma de final de campeonato fossem transmitidos em sinal aberto. Luís Filipe Vieira não gostou. Nem ele, nem o presidente do Braga que, por acaso (mas deve ser mesmo por acaso), está sempre de acordo com o presidente do Benfica. E Vieira não gostou porquê? Porque Proença estava a dar um passo num sentido que o astuto líder do SLB percebeu imediatamente: os direitos das transmissões futebolísticas corriam o risco de ser negociados em conjunto e não ao gosto dos maiores - cada um por si.
E, no entanto, Proença estava cheio de razão. Não só o caminho da centralização dos direitos deve ser feito, como o foi em todos os desportos e países civilizados, como o facto de os jogos serem todos transmitidos na SportTV, e sem qualquer público nos estádios, torna mais pobre este regresso. Mais ainda quando o maior clube do país, aquele que tem mais adeptos, que se orgulha de serem mais de seis milhões, transmite no seu canal privado os seus próprios jogos, quando eles se realizam na Luz.
Ontem, finalmente, um adepto encarnado que não tenha Benfica TV (que devem ser quase todos) pôde ver, e ainda assim na SportTV, as potencialidades da equipa de Lage, e apostar, com base nisso, quais as hipóteses do seu clube. Mas só porque jogaram em Portimão…
Há, ainda, a registar que o facto de os jogos serem em canais premium propicia ajuntamentos que não são desejáveis neste período de pandemia. Mas há demasiada gente a querer, de novo, os estádios com gente. Compreendo, e eu próprio lá gostaria de ir… Mas expliquem-me como se vê futebol sem gritos, abraços e exclamações. Nem na televisão, quanto mais no campo!
Mais reformas
Além desta oposição nebulosa à direção da Liga que em breve se verá como se concretiza, uma vez que Vieira já veio proclamar que duas pessoas o tinham abordado a mostrar a sua disponibilidade (dando a entender que qualquer nome que se oponha a Proença vem dos lados da Luz), o presidente do Benfica teve outra atitude estranha: foi aos balneários ralhar com os jogadores, e não sei se com o treinador. Este, depois de perdidos os sete pontos de avanço para o Porto e depois de desperdiçada a oferta que o Porto lhe fizera ao perder em Famalicão, parece ter passado de bestial a besta. Já se sabe que no futebol é sempre assim, mas desde o assalto a Alcochete, cujo julgamento terminou a semana passada, que não se via um conjunto de adeptos (?) atacar a própria equipa.
A gravidade não foi semelhante, mas os resultados podiam ter sido graves. Neste ponto, honra seja feita ao líder do Benfica, a sua reação não teve nada a ver, bem pelo contrário, com aquela que teve o então presidente do Sporting. Vieira disse o que era necessário, de forma dura e sem evasivas. As únicas evasivas benfiquistas, aliás, são não se perceber por que motivo insistem em que não têm claques… Quer dizer, aquela malta junta-se para apedrejar a camioneta do clube e para vandalizar a casa de jogadores e treinador, mas é tudo espontâneo. Nem uma criança, apenas habituada a histórias da carochinha, engolia tal mentira.
Esta é outra reforma importante que a Liga tem de fazer - em conjunto com a FPF e as autoridades (que neste aspeto têm sempre o ar de andar a dormir ou com medo de desagradar a alguém) - acabar com esta pouca vergonha. Eis uma causa em que o Sporting deve ser líder.
O futebol, onde se sublimava a agressividade, passou a contar nas suas fileiras com bandos de agressores, de gente sem escrúpulos, de criminosos… o problema é que muitos dirigentes dos clubes, tendo eles algumas destas características, ainda os apoiam e lhes fazem homenagens.
Reprimir a sério estes comportamentos tem de ser um compromisso de quem está, e joga, na Liga, seja ela a primeira ou a segunda. A expulsão de clubes das próprias competições pode ser uma sanção adequada a determinados comportamentos, quando estes se repetem vezes de mais. Só isso pode forçar os clubes a não dar gás a claques agressivas e a atitudes não desportivas entre as suas fileiras.
O futebol não pode continuar a ser, como tem sido, um espaço híbrido entre a legalidade e a ilegalidade - comissões, transmissões, empréstimos falsos - com milhões envolvidos. O futebol tem de ser uma indústria e um comércio regulado, de preferência até autorregulado, e a Liga precisa de estar não ao serviço deste ou daquele clube, mas dessa indústria e das mais-valias que naturalmente gera.
De todos os presidentes que passaram pela Liga, foi Pedro Proença o mais credível e o mais - digamos assim - apresentável. É um homem que vem do futebol, que sabe delegar e que não me parece privilegiar ou discriminar alguém em particular. Por isso, caso seja seu desejo continuar, espero que o meu clube vote nele e não num daqueles (dois?) que pediram a bênção a Luís Filipe Vieira, e com os quais nada podemos ter a ver.
Este Sporting
Amanhã volta a ser dia de Sporting, desta vez em casa, com um Paços de Ferreira que deu muito boa conta de si no jogo em Vila do Conde. Sem outro objetivo possível que não seja o de ultrapassar o Braga, que aliás fez um jogo medíocre com o Santa Clara na Cidade do Futebol e recebe sábado o Boavista, a equipa de Alvalade apresentou-se razoavelmente bem em Guimarães. Desde logo, há que dizer que dos quatro maiores clubes fez, com o empate a dois, o melhor resultado nesta retoma; o Porto perdeu em Famalicão, o Benfica, desastrado, empatou em casa contra o Tondela e o Braga perdeu também contra o Santa Clara.
Por um lado, o Sporting jogou fora contra o mais difícil dos adversários dos quatro primeiros classificados; depois, porque jogou de um modo diferente do que se vira até agora. Raramente, esta época, senti raça e vontade na equipa. Os elementos mais jovens que Rúben Amorim dispôs em campo (Eduardo Quaresma, Matheus Nunes, e, depois, Jovane Cabral e Gonzalo Plata) deram boa conta de si. Sporar fez o seu melhor jogo e todos os outros mostraram vontade (pena a distração de Max, mas foi em retribuição a Douglas, que também oferecera um golo). A equipa ainda não é o Sporting que queremos e de que gostamos, mas parece, finalmente, haver um caminho. Claro que me recordo das entradas excelentes de Keizer e de Silas. Mas espero que à terceira seja de vez.