E tudo setembro levou
O Sporting voltou a perder em casa e a terminar um jogo fisicamente menorizado. É um setembro péssimo. A equipa apresenta o pior registo defensivo desde 1955 (17 golos sofridos em oito jogos…) e não consegue superiorizar-se aos adversários, sejam eles quais forem. O SCP não tem atitude de grande - não manda, não domina, não se impõe a ninguém - a despeito de possuir um craque como Bruno Fernandes e mais três/quatro jogadores de categoria indiscutível. Mas o plantel, em termos globais, não é famoso, tal como os números de Leonel Pontes: três jogos, nenhuma vitória e já duas derrotas, além de umas quantas opções/decisões discutíveis. Claro que ele é o menos culpado da situação atual (um começo ainda pior do que a equipa de Godinho Lopes na época desastrosa de 2012/2013…), mas é um facto que Pontes cravou um valente tiro no pé com o meio-campo que escolheu para este último jogo e a substituição descabida de Luciano Vietto. Um erro de palmatória que lhe poderá ter destruído o crédito junto dos adeptos.
Em boa verdade, nada disto surpreende. O planeamento da época e a (des)construção do plantel - sintetizada na ridícula borla de Bas Dost e na não inscrição do goleador Pedro Mendes na Liga sabendo a estrutura leonina que Luiz Phellype era o único homem de área no plantel… - revelaram um amadorismo, uma trapalhice, uma falta de visão num grau que, estou em crer, já não se via em Alvalade desde a gestão de Godinho Lopes. É claro que Varandas não está a dar tiros no pé de propósito, apenas a mostrar (ao contrário do que garantiu) que ainda não estava preparado para uma «missão» desta complexidade. Pode vir a estar e até dar um ótimo presidente, mas este processo de aprendizagem pontuado por erros demasiado básicos não deixa de ser preocupante num clube ainda muito fragilizado pelo terrível legado final de Bruno de Carvalho.
Parece evidente que Frederico Varandas ficou fragilizado com mais esta derrota e mais ficará quando se vir obrigado a destituir o treinador a quem confiou (sic) «uma missão»… acredito que vagamente esperançado que dali saísse um Bruno Lage verde. Lembro que o próximo treinador será o quinto (!) no curto consulado de Varandas. Lembremos: a 31 outubro do ano passado José Peseiro foi despedido e substituído por Tiago Fernandes; a 24 novembro, Tiago foi substituído por Marcel Keizer; a 3 setembro último, Keizer foi despedido e substituído por Leonel Pontes; next?... ; ou seja, em menos de um ano (outubro 2018-setembro 2019) o Sporting arrisca a somar CINCO treinadores (!!!) na equipa principal, o que é uma coisa absolutamente impensável no futebol de alta competição. Ainda não chegámos ao fim de setembro e o Sporting, se Varandas decidir substituir Pontes, terá de recomeçar tudo de novo numa espécie de terceira pré-época com esta a decorrer (novo teinador = novas ideias, novos métodos, novas abordagens, mais tempo para consolidar todo o processo).
Se dificilmente um clube sólido com hábitos de vitória no futebol resistiria a uma turbulência assim, imaginem o efeito num clube dividido com uma Direção relativamente frágil - no sentido em que não foi eleita por maioria esmagadora (42%); clube esse que ainda por cima sofre há muitos anos de incontrolável vertigem autofágica ...; quem navegou pelas redes sociais nas horas seguintes à derrota com o Famalicão ficou mais uma vez esclarecido sobre a pior das perversidades que brotam nos clubes balcanizados, quer dizer, fragmentados em fações e trincheiras (pró-Bruno, anti-Bruno, anti-croquete, pró-investidor estrangeiro, sei lá que mais): adeptos que aproveitam derrotas no futebol - sempre o maior barómetro - para esgrimirem, quantas vezes com desmedida agressividade e estúpida grosseria, méritos e deméritos de presidentes em exercício, ex-presidentes e putativos candidatos; como se não se reconhecessem já na única causa que lhes devia interessar: o clube de que todos dizem gostar.