É sempre o mesmo
NA jornada 23, o Benfica recebeu e empatou com o Moreirense a um golo, enervando os seus adeptos com medíocre desempenho. No entanto, por volta do minuto 61, explicou o antigo árbitro e comentador Pedro Henriques, em A BOLA TV, que ficara um penálti por marcar a favor da águia. Na conferência de imprensa, Bruno Lage deu a seguinte resposta: «Nunca comentei lances e não será agora, que estamos sem vencer.»
A propósito do mesmo lance, em oito linhas, escreveu Duarte Gomes, no seu espaço O árbitro de A BOLA, o seguinte: «Rosic pisou, com o pé direito, o pé esquerdo do recém-entrado Dyego Sousa (…). Ficou pontapé de penálti por assinalar favorável à equipa visitada.»
… E o Benfica perdeu a liderança, o árbitro realizou um «trabalho globalmente positivo», ainda segundo Duarte Gomes, mas o penálti que devia ter sido marcado e não foi depressa se varreu para debaixo do tapete.
Na jornada 24, o FC Porto recebeu e empatou com o Rio Ave, oferecendo aos seus adeptos uma atuação esforçada, mas pouco clarividente. No entanto, à passagem do minuto 56, Pedro Henriques, no programa de televisão A BOLA de Sábado, identificou e fundamentou, com a clareza explicativa que o distingue dos restantes, um penálti por assinalar a favor do dragão.
Na conferência de Imprensa, Sérgio Conceição deu o espetáculo que todos viram. Utilizou um discurso com ar esgazeado. Ao falar como falou e ao descarregar a sua ira na figura do árbitro, por acaso o mesmo que dirigiu o último FC Porto-Benfica, apenas reforçou a opinião do presidente do Supremo Tribunal de Justiça que, em entrevista à SIC, considerou que o futebol vive em ambiente de suspeição permanente e generalizada.
Sobre o mesmo lance, com direito a título («Erro com influência»), escreveu Duarte Gomes na edição de domingo, em A BOLA (pág. 16), o seguinte: «Aderlan, já na sua área, chegou tarde e derrubou Marega (…). A infração foi clara e óbvia (…). Soares Dias seguiu a trajetória do remate e terá, por isso, perdido esse instantâneo. Competia ao VAR dar-lhe a ajuda que se exigia.»
… E o FC Porto não foi capaz de distanciar-se do Benfica em 100 minutos, mas o seu treinador foi célere em proclamar que o árbitro teve influência no resultado.
Duas situações idênticas no período de uma semana, envolvendo os dois candidatos ao título, dois resultados e dois lapsos idênticos, embora com tratamentos diferentes, a indiciar que há erros de segunda (o da Luz) e de primeira (o do Dragão): sem importância no caso do Benfica, como se nenhuma influência pudesse ter no resultado final, escandaloso no caso do FC Porto, ou até mais do que isso, como se pode intuir do desatino de Conceição.
Dúvida minha: sei de práticas antigas e de vícios enraizados, mas será que insinuar, intimidar e fazer barulho continua a valer a pena? Quero acreditar que não, mas o treinador do FC Porto deve pensar que sim. De outro modo não teria dito o que disse antes e depois do jogo com o Rio Ave. Ou será que, na perspetiva de especialistas e similares, erros na não marcação de penáltis são para esquecer se o lesado for o Benfica e, por outro lado, justificam tamanha gritaria se o prejudicado for o Porto? Ou porque o treinador de um é urbano no trato e coerente na palavra e o treinador de outro ferve em pouca água e quanto a coerência é consoante o jeito que lhe dá?
Há dois pesos e duas medidas, mas desta vez, pela proximidade dos jogos, deu muito nas vistas. Não me refiro, em concreto, aos erros de arbitragem, mas, sim, ao ignóbil aproveitamento que deles se faz. Olha-se em redor, e é sempre o mesmo.