E se Marrocos...
França a caminho de uma terceira final em 16 anos, mas há um milhão e 300 mil emigrados marroquinos prontos para estragar o sono a 68 milhões de franceses
A NTES de Marrocos, só tinha havido um país fora do eixo Europa-América do Sul numa meia-final do campeonato do Mundo: a Coreia do Sul de Guus Hiddink em 2002 (Mundial do Japão-Coreia do Sul). Apoiados por milhões de compatriotas em êxtase e autenticamente levados ao colo por duas arbitragens aberrantes nos jogos com a Itália (oitavos; apitou o equatoriano Byron Moreno) e a Espanha (quartos; apitou o egípcio Gamal El Ghandour), os sul-coreanos, que nos haviam eliminado na fase de grupos (lembram-se?), perderam a meia-final com a Alemanha, em Seul (0-1, cortesia de Michael Ballack) e falharam o objetivo da final. Teriam sido a primeira seleção asiática a chegar lá.
Hoje é a vez de uma seleção africana, Marrocos, tentar essa proeza. Terão com eles o continente negro e, de uma forma mais geral, todo o mundo árabe. Acredito até que boa parte dos adeptos europeus esteja a torcer pela continuação do conto de fadas marroquino. Uns estarão, de certeza: os ingleses! Serão mais 57 milhões a torcer pelos Leões do Atlas contra o velho inimigo gaulês.
Se a Coreia do Sul tinha um mestre como o holandês Guus Hiddink no banco e algumas irritantes formiguinhas atómicas no relvado (Ji-sung Park, do Man. United, e Jung Hwan Ahn, do Perugia, à cabeça), Marrocos tem no treinador Walid Regragui uma espécie de Simeone magrebino e um onze forrado de jogadores com escola de jogo «europeia». Veja-se onde jogam aqueles que têm feito a diferença, a começar pelo excelente guarda-redes Bono (U2, perdão, Sevilha): Mazraoui (Bayern), Hakimi (PSG), Sofyan Amrabat (Fiorentina), Ounahi (Angers), Ziyech (Chelsea) e En-Nesyri (Sevilha). Além de alguns bons executantes, Marrocos tem algo sem preço: alma. Crença. Uma vontade imensa de dar a alegria de uma vida a 43 milhões de compatriotas (37 milhões em casa, mais 6 milhões na diáspora).
Nesse aspeto, os Leões do Atlas lembram a Coreia do Sul em 2002. Jogam por algo que nos escapa, europeus endinheirados e aburguesados.
Deixem-me acrescentar que não gosto do futebol de Marrocos: acho aquilo uma valente estopada, a roçar o antijogo (e não o digo por nos terem eliminado); consigo perceber que continuem a jogar assim, coesos, entrincheirados e inviolados, depois de terem dado cabo de Bélgica, Espanha e Portugal. Mas, quem viu a magnifica Nigéria de Yekini, Jay-Jay Okocha, Finidi George, Oliseh, Adepoju, Amokachi, Ikpeba e Amunike no Mundial de 1994, bem como o bravíssimo Gana de Asamoah Gyan, Andre Ayew, Appiah e Muntari no Mundial de 2010, percebe que esta seleção de Marrocos não ficará na história pela qualidade e audácia do seu jogo.
A França, depois de vencer uma excelente Inglaterra no melhor jogo do Mundial - uma espécie de final antecipada, já que opôs, a meu ver, as duas melhores equipas do torneio -, está mais que avisada sobre o perigo marroquino. Veremos o que farão os campeões do mundo para perfurarem a muralha defronte de Bono. Os franceses têm um bloco forte e experiente, habituado a momentos decisivos. E, além desse fenómeno mundial chamado Kylian Mbappé, contam com um artista em estado de graça (Griezmann) e um matador em estado de golo (o bom e velho Giroud). O normal é a França conseguir qualificar-se para a sua segunda final consecutiva, terceira em 16 anos (depois de 2006 e 2018).
Surpreendente seria ver, mais logo, 68 milhões desconsolados citoyens de la Repúblique engolidos e abafados pela alegria do milhão e 300 mil marroquinos radicados em França. E se…?
Walid Regragui, treinador marroquino de 47 anos que a 31 de agosto substituiu Vahid Halilhodzic na seleção, conseguiu unir os jogadores
AMORIM: CEM!
O treinador do Sporting demorou apenas 142 jogos (dois anos, 11 meses e nove dias; e 40 segundos no encontro de ontem) a atingir a 100.ª vitória em provas profissionais. Conseguiu-a em Alvalade a expensas do Marítimo (5-0) em ambiente pandemia (porta fechada) e com inspirada atuação de Paulinho (hat trick em 30 minutos e três remates).
Lembro que o primeiro êxito de Amorim aconteceu a 4 janeiro de 2020 no jogo de estreia (como treinador do SC Braga) e logo por goleada: 7-1 ao Belenenses SAD no estádio do Jamor com golos de Ricardo Horta (bis), Francisco Trincão, João Palhinha, Paulinho e Rui Fonte (bis). Menos de três anos volvidos, aí está o centenário (90 vitórias com os leões, mais dez com o Braga) obtido numa competição onde mister Rúben só sabe ganhar: a Taça da Liga, onde soma três títulos seguidos (2020, 2021 e 2022) e triunfos em todos os (12) jogos disputados. A seguir vem… o SC Braga!
Eis as 100 vitórias de Amorim: 75 na Liga, 6 na Taça de Portugal, 12 na Taça da Liga, uma na Supertaça, 5 na Liga dos Campeões e uma na Liga Europa.
MESSI: DEZ!
N OTA MÁXIMA para o génio nascido em Rosário a 24 junho 1987 por tudo o que tem feito no Catar: está a 90 (ou 120) minutos de ganhar o Campeonato do Mundo para a Argentina (sexta final) e tornar-se o Diego Armando Maradona do século XXI. Feliz o país capaz de produzir dois talentos deste tamanho no espaço de uma geração! A Croácia, do imenso Luka Modric, esteve por cima até Messi marcar o primeiro de penálti. A partir daí percebeu-se que ia dar Argentina! A crença, a determinação, a firmeza e a estrelinha (os ressaltos ganhos por Julián Álvarez no lance do 2-0…) estavam todos do lado albiceleste. O terceiro golo, em preciosa filigrana de Messi, projecta o jovem avançado do Man. City (bis) para a galeria das figuras argentinas deste Mundial, ao lado de Enzo Fernández, Alexis Mac Allister, Rodrigo de Paul, Nicolás Otamendi e Emiliano Martínez.
Acima deles sempre Lionel Andrés Messi Cuccittini mais os seus fabulosos pés de veludo. Artista argentino eterno como o outro génio nascido em Lanús a 30 outubro de 1960.
Bravo!