É mesmo assim...
Se na vida todos temos uma certeza: que acabaremos por morrer um dia - no futebol os treinadores têm duas: que um dia acabarão por morrer (como todos nós) e que, antes disso, hão de ser despedidos, despedidos por muito bons que sejam. Ottmar Hitzfeld, que nem é um perdedor (e foi mais do que campeão europeu por dois clubes) revelou-o, poético, filosófico:
- Como treinador só o sucesso me salva. Não o meu afinco ou a minha paixão, não a minha aptidão psicológica, não o meu espírito ou a minha devoção, não a minha esperteza tática. No fundo, só tenho argumentos quando ganho. Eu e todos os outros.
Ao chegar à final da Taça da Liga, Sérgio Conceição tinha o seu destino e o seu futuro em jogo - e aquele terrorista remoque que se soltou dum vídeo rufia dos Super Dragões era um sinal, sinal trauliteiro e injusto, rasteiro e cruel, disso mesmo. Por isso sabia que não lhe basta ter a alma de Pedroto a ferver dentro de si (como Pinto da Costa disse que tem) - e sabia também que, tal como na sentença de Hitzfeld, só se salvará numa condição: ganhar! Ganhar ou, pelo menos, não perder o que não poderia perder mais (ou tão depressa). O que aconteceu em Braga, sabe-se. O que podia acontecer já a Sérgio Conceição, suspeitou-se. Não poderei, porém, deixar de o afirmar: se lhe acontecesse já o que se suspeitava que podia acontecer já - tal só aconteceria por o futebol ser um jogo de fraca memória e de iniquidade fácil. Porque, não tenho dúvidas: ninguém faria melhor que Sérgio Conceição o que ele fez num FC Porto que vai fugindo, desconcertado, da sua grande história. E ninguém perderia menos do que Sérgio Conceição perdeu num FC Porto em que se Pinto da Costa lhe aceitasse a demissão daria indício (ou pior...) de ser o que alguns acham que ele deixou de ser: o Pinto da Costa que se tornou no mais ganhador presidente da história. Mas como o futebol também é como Hitzfeld revelou que é na sina de qualquer treinador ou o Sérgio não perde mais - ou se perde adiante, de vez...