É chato, claro que é...

OPINIÃO09.03.202001:05

COMO diria Bruno de Carvalho, é chato. António Salvador preparou a época e, de repente, ficou sem dois treinadores. Abel Ferreira preferiu o PAOK e agora Rúben Amorim o Sporting . É chato, claro que é. Em Espanha, como bem disse o líder bracarense, tal era impossível. Se Zidane, por exemplo, sair do Real Madrid, não poderá ir na mesma época para Barcelona. Faz sentido. E não é chato. Por isso, quando em Portugal acontecem trocas assim, entre clubes duma mesma divisão, como aconteceu com Rúben Amorim, é natural que as pessoas se sintam frustradas. E António Salvador está frustrado. E impotente.

MAS este triângulo Sporting-Rúben Amorim-SC Braga, com troca de treinador a meio de uma época, não é virgem em Portugal. Talvez a mais mediática seja a de Bobby Robson. Em dezembro de 1993 foi despedido do Sporting e em fevereiro de 1994 assinou pelo FC Porto. Onde viria a ser bicampeão. Chato? Talvez. Mas Robson estava livre e desimpedido. Faria sentido ser impedido de treinar outra equipa do mesmo país e da mesma divisão? Não, não faria.

ALGO parecido aconteceu, em fevereiro de 2014, com Jorge Paixão. Estava ele, tranquilíssimo, a treinar o Farense da Liga 2 quando foi desafiado por um presidente da Liga para assinar por esse clube, substituindo Jesualdo Ferreira. E Jorge Paixão assinou pelo SC Braga. OK, mas neste caso, embora sendo chato, Farense e SC Braga não estavam na mesma divisão, logo não lutavam pelos mesmos objetivos.

ALGO diferente acontecera, oito anos antes, em novembro de 2006. Rogério Gonçalves estava a trabalhar na Naval na Liga quando foi tentado por um presidente da Liga para assinar por esse clube, substituindo Carlos Carvalhal. E Rogério Gonçalves assinou pelo SC Braga. Foi chato, pois a Naval tinha mais um ponto do que o SC Braga quando a troca se deu, à 9.ª jornada. Ou seja, lutavam pelos mesmos objetivos. Mas a troca deu-se. OK, mas, embora sendo chato, foi há já 13 anos. Não faz, pois, muito sentido falarmos muito nela. Não dá jeito, além do mais.

AVANCEMOS, então, mais de dez anos, até dezembro de 2016. Estava Jorge Simão, tranquilíssimo, a treinar o Chaves da Liga quando foi desafiado por um presidente da Liga para assinar por esse clube, substituindo José Peseiro (e o interino Abel Ferreira). E Jorge Simão assinou pelo SC Braga. É muito chato. E frustrante. Não faz sentido. Há um sentimento de impotência. A não ser, claro, para o então presidente do SC Braga. Que já era presidente em novembro de 2016 e em fevereiro de 2014. E é presidente desde  24 de Fevereiro de 2003. E que por estranha coincidência se chama António Salvador da Costa Rodrigues. É chato, é, claro que é.