E Bruno ficou. Porquê?
O mercado fechou em Inglaterra - um dia antes do arranque da Premier League, já agora, porque por ali estão sempre muito à frente no que concerne à defesa dos interesses do futebol, mesmo que para isso tenham de combater outros... - e Bruno Fernandes ficou em Alvalade. Até quando? É a grande questão, por ser fácil perceber que a um jogador como o capitão do Sporting as hipóteses de dar o salto não se esgotarão em Inglaterra. Há, tem de haver, outros clubes, de outros mercados - porventura menos interessantes mas ainda assim apelativos -, atentos ao médio leonino. Resta saber se algum deles reúne as duas condições essenciais para levá-lo: capacidade financeira para corresponder às exigências de Frederico Varandas e capacidade competitiva para convencer Bruno Fernandes.
Veremos o que acontece até final de agosto. Para já, e porque isso fará, eventualmente, confusão a muita gente, talvez seja preferível tentar perceber as razões por que ficou, afinal, Bruno Fernandes quando se dava como inevitável a sua transferência para Inglaterra, como era, assumidamente, o seu desejo. Há quem veja a entrada tardia de Jorge Mendes no negócio como uma explicação. Pode ter tido algum peso, é um facto, porque não há, no mundo, outro agente com as relações e os contactos daquele que é, há muitos anos a esta parte, o melhor empresário do mundo. Mas, convenhamos, um jogador como Bruno Fernandes não precisaria, se todos os outros pressupostos estivessem garantidos, da intervenção de Jorge Mendes. Talvez o Sporting dele precisasse, para garantir o maior retorno financeiro por aquele que é o seu melhor jogador em muitos anos, mas não Bruno Fernandes. E é essa, no fundo, a questão.
Frederico Varandas foi intransigente, como sempre disse que seria. Primeiro porque embora o Sporting não viva situação financeira confortável, toda a gente sabe, não seria por isso que deixaria sair o seu capitão em saldo - ainda mais sabendo-se que metade do que ganhasse iria de pronto para os bancos. Segundo porque os extraordinários 120 milhões de euros encaixados pelo Benfica por João Félix transformaram, num ápice, aquilo que seria um negócio fantástico para a realidade portuguesa num péssimo negócio para o Sporting. Alguém compreenderia, por exemplo, que Varandas deixasse sair o seu capitão, o melhor jogador da Liga Portuguesa nas duas últimas épocas, por metade desse valor? Ou ainda menos? Pois...
Há, depois, o outro lado. O de quem compra. E se é verdade que em Inglaterra dinheiro não é problema, é inegável que o Tottenham, aparentemente o único dos clubes ingleses que avançou efetivamente por Bruno Fernandes, não quis chegar às exigência do Sporting. Primeiro porque sabe (toda a gente sabe, repito...) dos problemas financeiros do Sporting e jogou, até ao fim, com uma pretensa (ou real?) necessidade de um significativo encaixe financeiro - como seriam, sempre, 60 milhões de euros. Segundo, porque embora o mercado futebolístico esteja, de facto, louco, não é o Tottenham um daqueles emblemas que se possa dar ao luxo de arriscar tudo num jogador, mesmo que se chame Bruno Fernandes.
Tudo junto... não havia Jorge Mendes que pudesse salvar a situação. Bruno Fernandes tem, agora, duas hipóteses: fica em Alvalade à espera que o sonho da Premier League se concretize em breve (janeiro ou para o ano) ou sai já para um campeonato que lhe dê estabilidade financeira mas não adrenalina competitiva.
Andámos anos a discutir foras-de-jogo milimétricos e agora que as linhas de off-side chegaram ao VAR dizemos que vão matar o futebol. Nunca estamos satisfeitos. Um fora-de-jogo é, sempre, um fora-de-jogo. Seja de um centímetro ou de um metro. Ou o problema é gostarmos mais da discussão do que da verdade desportiva que sempre jurámos defender?