Dos possessos...
Os jogadores do Benfica voltaram a ter nos pés (e não só...) a cabeça do comedor da orelha
A NTES de Soares Dias dar início ao Benfica-Gil Vicente, apareceram-me na TV imagens do que se percebia ser uma manifestação - e, se de um dos papelotes que se levantavam em maior ou menor frenesim, se soltava:
Fora o Vieirismo!
de um outro insinuava-se:
Falta Benfica ao Benfica!
Lembrei-me, depois, de Os Possessos do Dostoiévski - esse genial romance que mostra como um revolucionário pode acabar como um tolo a mortificar-se sem entender que o inferno está dentro de si (e sem de lá querer sair...)
Sim, esse é, também, o romance onde demónios entram por gretas de almas em dissolução - e ,de uma festa interrompida por um fogo posto, se apanha, perturbante (ou talvez não) o brado:
- O fogo não está nos telhados, está na cabeça das pessoas.
Quando o jogo da Luz acabou a luz que me surgiu foi, porém, a de um outro episódio que o romance conta: o rapaz bem-amado a lançar-se em audiência ao governador da sua província - petrificado na sua dignidade quase sobre-humana. Aproximando-se dele, inclinou-se no que parecia reverência - e, com sorrateira dentada, arrancou-lhe metade da orelha. O governador empedernido na sua vetustez nem um ai ciciou - e o rapaz saiu do palácio sem que a guarda suspeitasse do que fizera. Ao saber-se, pôs-se o povo em escarcéu a matutar em justificações - e a ninguém ocorreu que a ferradela fora o que foi por lhe ter entrado na cabeça mafarrico que o empurrou para o disparate num súbito desconcerto de juízo (e alma). Contra o Gil Vicente, o comedor da orelha apoderou-se da cabeça dos jogadores do Benfica - e, torcendo-lhes o coração e entortando-lhes os pés, atirou ao ar pior do que só a ideia de que ao seu jogo faltava Benfica. Ao invés, o Gil (do seu treinador aos seus jogadores...) nunca deixou de dar a sensação de que o melhor Benfica estava nele - e, por isso, não foi por causa de Soares Dias (ou do VAR) que ganhou o jogo que, na verdade, justamente ganhou...