Domingo em Anfield, Bruno
No momento em que escrevemos este texto ainda não é certo se Bruno Fernandes vai poder despedir-se dos adeptos em casa e no jogo que mais mexe com os sportinguistas - o dérbi eterno. Os adeptos do Sporting (e do FC Porto) esperam que sim, os adeptos do Benfica esperam que ele faça as malas já hoje e parta o mais depressa possível. O que parece quase certo é que o médio leonino e da Seleção Nacional deixará Portugal ao fim de dois anos e meio a encantar adeptos - e não só os do Sporting. Ele é, de facto, um futebolista de exceção (62 golos e 45 assistências em 134 jogos dizem tudo, para mais tratando-se de um médio), um influencer (para recorrer ao jargão das redes) como não se via em Alvalade desde os tempos de Luís Figo e Krassimir Balakov. O destino de Bruno é o Manchester United, um poucos clubes de dimensão verdadeiramente global - os outros são o Real Madrid e o Barcelona, o Liverpool, o Bayern, a Juventus e o Milan. Podemos dizer que o Man. United (como o Milan relativamente à era Sacchi-Capello-Ancelotti) está um caco relativamente ao padrão instituído durante quase 30 anos por Alex Ferguson, e é verdade: está! e vai ser difícil nos tempos mais próximos atingir o nível dos grandes rivais Liverpool e Man. City. Mas do ponto de vista de Bruno, é o apelo da Premier que deve prevalecer: ele merece expressar o seu talento na liga mais competitiva e fascinante do Mundo.
O que também não podemos ignorar é que o United tem uma dimensão e um poder financeiro de tal ordem que qualquer crise está sempre à distância de uns meros 300 ou 400 milhões de poder ser resolvida (como José Mourinho bem sabe). Sem menosprezo para Ole Solskjaer, a contratação de um treinador experiente, de primeira linha, capaz de perceber a essência do clube e aquilo que mudou relativamente à era Ferguson (e a epifenómenos como a classe de 92); e umas quantas intervenções no mercado finalmente certeiras e criteriosas, o que manifestamente não tem acontecido nos últimos tempos a julgar pela recente sucessão de flops milionários (Pogba, Alexis, Mkytharyan, Bailly, Fred, entre outros…), poderão devolver rapidamente o United a um lugar cimeiro no futebol inglês. É muito mais fácil dar a volta à crise quando se tem resultados financeiros de 700 milhões (como aconteceu em 2018/2019) e se reclama ter, em cada jogo, a fidelidade de dez por cento (!) da população mundial. A contratação de Bruno Fernandes, um jogador que já vinha com curso feito em Itália (134 jogos e 20 golos em cinco épocas no Novara, Udinese e Sampdoria) antes de explodir em Portugal, pode ser um passo importante nesse sentido. Eles até podem ainda não saber o que levam, mas nós aqui sabemos muito bem o que é que Bruno Fernandes vale.
Para Bruno, um líder nato com talento, golo, chispa e um salutar nojo à derrota, Old Trafford pode vir a ser o palco da afirmação internacional- a popularidade e o mediatismo do United garantem imediata projeção planetária a quem se distingue. Este é o clube onde Cristiano Ronaldo (2003-2009: 299 jogos, 118 golos) se fez o melhor jogador do Mundo e onde o talentoso embora irregular Luís Carlos Nani (2007-2014: 230 jogos, 40 golos) ganhou 12 dos 17 títulos da sua carreira. Domingo o Manchester vai a Anfield desafiar a melhor equipa do Mundo, ciente de que foi o único até agora a roubar pontos a Klopp. Pode até acontecer que Bruno assista ao jogo na bancada. E perceba o tipo de montanha que tem para escalar. Enorme.