Domingo e quarta, se Deus Keizer
O Sporting volta a estar na primeira linha noticiosa. Desta vez por boas razões. Ganhou a final da Taça da Liga nos penáltis graças a uma decisão acertada dos VAR Tiago Martins e Pedro Mota, que impediram que a Taça de 2018-2019 tivesse novo vencedor falseado, dez anos depois da grande asneira de Lucílio Baptista no Algarve; a sétima vitória dos leões em nove finais com o FC Porto (quinta consecutiva) ficará na memória como a final dos narizes partidos (André Pinto e Petrovic). Dos quatro ilustres na Final Four o Sporting foi o que menos queixinhas gemeu e mais lutou em campo. Levou o caneco apesar de não ter ganho nenhum dos dois jogos no tempo regulamentar, exatamente como na época passada. Foi portanto um triunfo atípico, como atípica tem sido a vida do Sporting no último ano. Nada de novo. Também nos lembraremos dos erros do VAR nas meias-finais (em prejuízo dos vencidos mas também dos vencedores, convém lembrar…), do mau perder do Braga de Salvador e Abel Ferreira (os dois de cabeça perdida), do Benfica de Luís Filipe Vieira («esse homem não pode apitar mais!» , decretou ele sobre o árbitro Veríssimo) e do FC Porto de Sérgio Conceição (virar costas a um adversário que antes se tinha perfilado para o cumprimentar é feio e pequenino). Um festival televisivo de berraria, mão na anca e descargas biliosas à boa maneira portuguesa - a eterna cultura do azedume, como lhe chama o meu amigo Bruno Prata. É um facto que Frederico Varandas brilhou por contraste; ele tem exercido a liderança de forma serena e parece ser farinha de outro saco, o que vivamente se saúda num futebol demasiado povoado de wise guys -, mas lembro que o verdadeiro fair play vê-se na reação às derrotas custosas. Ser magnânimo, tolerante e comedido na vitória é fácil.
O Sporting volta à realidade hoje em Setúbal, onde costuma sentir muitas dificuldades, com a obrigação perentória de ganhar para não correr riscos de aumentar o fosso (8 pontos) que o separa da líder. Ganhar a Taça da Liga foi bom para unir a equipa e estreitar os laços com os adeptos, mas poderá ser bálsamo de pouca dura se o Sporting ficar afastado da luta neste fim de semana. E ficar em situação aflitiva na Taça. Pode acontecer. É que a seguir ao Vitória vem Benfica em dose dupla. Domingo à tarde em Alvalade, quarta-feira na Luz (1.ª mão na final da Taça de Portugal). Os leões acreditam na vitória (se Deus Keizer, li algures) mas não se lembrem de invocar o fator casa para sustentarem o putativo favoritismo: é que o Benfica costuma ter ascendente no Alvalade XXI, basta consultar a estatística que Lage deseja reforçar (também tu Bruno?!?). Um Benfica que, apesar de ter perdido com o FCP por dois golos, deu sinais muito interessantes em Braga (escrevo antes do jogo de ontem com o Boavista). É um dérbi de crucial importância para os dois, tendo em conta que só um resultado conta: a vitória!; um empate pode fazer com que fiquem ambos ainda mais longe do FC Porto (se o FCP ganhar os seus jogos, bem entendido). A rivalidade é a de sempre e não se pode dizer que haja favoritos, quer dizer, que um esteja a jogar visivelmente mais que o outro - a verdade é que estamos perante duas equipas em fase de (re)construção. Julgo que o plantel do Benfica é mais recheado e o seu futebol, comparativamente ao do SCP, que sofreu grossa convulsão no defeso, apresenta naturalmente maior fluidez e entrosamento. Mas uma coisa já todos percebemos: o Sporting é muito competitivo, muito coriáceo nos jogos grandes - é muito difícil ganhar-lhes (o FCP não me deixa mentir).
Todos percebemos menos Rui Gomes da Silva. Entre bicadas à atual Direção do Benfica, o assumido candidato à presidência escreveu no blogue Nova Geração Benfica: «(…) Vem aí um Sporting de papel, que veremos se um VAR qualquer não transforma em candidato ao título»). Uma coisa simpática de se dizer (papel?, qual papel?, como diria RAP) em vésperas de duplo confronto com um rival que, afinal, não está assim tão distante do próprio Benfica (dois pontos, no momento em que escrevo). É caso para rezar por um árbitro atentíssimo e um VAR afinadinho. Se em Braga foi o que foi, imaginem dois dérbis seguidos com casos arbitrais. Deus nos livre desse pandemónio. Safa.
Só nós três, por fim
Nole esmagou Nadal na Austrália, deixou Sampras para trás e os três magníficos tenores estão finalmente sozinhos no pódio. Roger Federer (37 anos; 20 Grand Slams; 99 títulos ATP em 151 finais), Rafa Nadal (32 anos; 17 Grand Slams, 80 títulos ATP em 117 finais) e Novak Djokovic (31 anos; 15 Grand Slams; 73 títulos ATP em 106 finais) são desde o último domingo os três maiores tenistas da história se atendermos ao desempenho nos quadro torneios do Grand Slam (Austrália, Roland Garros, Wimbledon e US Open). Pete Sampras (14 triunfos) caiu definitivamente do pódio. A única dúvida agora é saber se o recorde de Federer vai ou não sobreviver aos ataques de Djokovic e Nadal, mais novos seis e cinco anos, respetivamente. O antigo tenista Mats Wilander disse que os próximos majors serão dominados pelo sérvio e pelo espanhol sem descartar a hipótese de Federer ainda poder aumentar o pecúlio. Com Djoko nesta forma (intratável cilindro compressor!, roçou a perfeição na final de Melbourne) será muito difícil. Apaixonei-me pelo ténis na época de Connors, Vilas, Nastase, Borg, McEnroe e Lendl e segui a par e passo as carreiras de Wilander, Edberg, Becker, Agassi e Sampras. Do que vi não tenho dúvidas (desculpa, Borg): estes três tenores são mesmo os maiores. E já começo a acreditar que Nole (desculpa Roger) pode vir a ultrapassar o stradivarius suíço - em número de slams, nunca em classe, estilo e elegância. Que tempo maravilhoso para quem gosta de ténis.