Do ser ao não ser

OPINIÃO18.02.202106:00

O que o FC Porto mostrou contra a Juventus (para lá do Ferrari e do Sartre...)

O Sartre que achava que importante não é aquilo que fazem de nós mas o que nós fazemos daquilo que os outros fazem de nós, tinha, no encanto da sua filosofia, uma outra ideia:
– … o não ser do adversário complica tudo.
Na vida sim (ou talvez). No futebol não (ou pouco). No futebol não porque, no futebol, o não ser pode não ser só o não ser do adversário. Foi o que se passou com o FC Porto contra uma Juventus que poderia ser o que Carlos Carvalhal disse há tempos (antes de um jogo com o FC Porto) que poderia ser o Liverpool (embrulhado numa bela metáfora):
– É um Ferrari sim, mas no trânsito da cidade o Ferrari é carro igual aos outros.
Por ter o espírito que tem, Sérgio Conceição não quis que, contra essa Juventus, a sua equipa pudesse ser o seu não ser – preocupada apenas em transformar o campo ao seu adversário numa subida para os Clérigos, à hora de ponta, atormentando-a, afunilando-a. 
Mesmo começando a ganhar mal saiu do balneário (naquele golo que mostrou, uma vez mais, que o génio de Taremi lhe vêm também do coração e da cabeça que ele tem da ponta do cabelo à ponta da chuteira) – não deixou nunca de ter a equipa a jogar o jogo com argúcia e esperteza, de igual para igual – no que era, à vista grossa, trabalho bom de treinador. 
Sim, foi Ferguson quem o afirmou: 
– O bom treinador consegue que os seus jogadores acreditem nele, o excelente treinador consegue que os seus jogadores acreditem neles próprios.
Foi o que igualmente se viu, ontem, no Dragão: um treinador excelente – e não apenas excelente por pôr os seus jogadores a acreditarem mais neles mesmos. Um treinador excelente por construir uma equipa capaz de lhe caber na cabeça cheia de sonho - e fazer com que os jogadores a levassem mais além (e ainda mais além do que a sua boa ideia de jogo). Por isso ganhou como ganhou, demonstrando que, em condições normais, a melhor equipa em Portugal é este seu FC Porto - sem que seja o seu não ser (no que isso tem de pior) a complicar-lhe tudo…