Do dinheiro bem gasto...

OPINIÃO08.03.202106:00

É verdade que o bilhete lhe custou dez milhões de euros, mas a Varandas saiu-lhe a sorte grande. A taluda. O ‘El Gordo’. O ‘Powerball’

D UVIDO que Frederico Varandas tivesse, há um ano, noção do verdadeiro impacto que Rúben Amorim viria a ter no Sporting. Duvido que, em março de 2020, Frederico Varandas acreditasse que estaria, um ano depois de apresentar um treinador com poucos meses de experiência numa equipa de Liga, à beira de conquistar um título que foge ao clube de Alvalade há 19 épocas. Duvido, até, que Frederico Varandas não tenha hesitado (e muito...) quando soube que tinha de pagar por Rúben Amorim o que, em Portugal, nunca nenhum clube tinha pago por um treinador. Duvido ainda que haja alguém que não tenha torcido o nariz quando se confirmou que o Sporting ia pagar dez milhões de euros por Rúben Amorim. E (para acabar com as dúvidas) duvido também que exista, hoje, alguém que duvide que, acreditasse ou não nisso, Frederico Varandas tomou a melhor decisão da sua presidência no Sporting - da que já exerceu e, provavelmente, do que dela lhe resta.
«Por vezes o que é barato sai caro. E o que é aparentemente caro sai barato», disse o presidente do Sporting quando, a 5 de março de 2020, apresentou Rúben Amorim como novo treinador do Sporting. E a verdade é que Frederico Varandas, até então um presidente com pouca sorte, acertou na mouche. O bilhete custou-lhe dez milhões de euros (mais alguns se contarmos com IVA e juros...), mas ao Sporting saiu-lhe a sorte grande. A taluda. O El Gordo. O Powerball. Ou seja, foi dinheiro bem gasto. Mais: acredito (disso não tenho a mínima dúvida) que se houvesse forma de adivinhar o futuro, haveria quem estivesse, há um ano, disposto a gastar bem mais do que o Sporting pagou para poder ter, hoje, Rúben Amorim como treinador. E esse mérito, o de ter apostado - por convicção ou desespero - num treinador para quem muitos olhavam de soslaio, nunca ninguém poderá tirar a Frederico Varandas.
Quando contratou Rúben Amorim, Varandas garantiu um treinador, um manager e, até, um diretor de comunicação. E embora tenha por convicção que apenas é possível perceber a real dimensão de um treinador nestas três funções quando as coisas correm mal depois de correrem bem (veja-se o caso de Bruno Lage no Benfica...), sou quase forçado a admitir, desde já, que Amorim é, por alguma razão, diferente. Porque a verdade é que, no caso do treinador do Sporting, até começou por correr mal, quando perdeu, no final da última época, o terceiro lugar para o SC Braga. Ou quando, já no início desta, foi afastado da Liga Europa com uma derrota humilhante, em Alvalade, com o LASK Linz. De alguma forma Rúben Amorim sobreviveu àquilo que para muitos seria uma hecatombe, usou o desastre a seu favor e está, agora, à beira de ser campeão. Não é, acreditem, para todos. É preciso competência, sim, mas também inteligência. Amorim tem ambas as coisas. É, como se costuma dizer, o pacote completo. E por isso, além do título (que não dá prémio financeiro, é verdade), vai dar ao Sporting um retorno de milhões, pela presença na Champions, pela valorização de jogadores que (e neste caso irei sempre lembrar-me de alguns jogadores do FC Porto com Mourinho) nunca renderão tanto com outro treinador e, por fim, com a sua própria transferência para um campeonato onde gastar 20 ou 30 milhões num técnico não é, como cá, visto como um motivo para destituição.
Em suma: Varandas gastou 10 milhões em Amorim e com ele vai ganhar, no mínimo, dez vezes esse valor. E, é quase certo, mais quatro anos como presidente do Sporting. Dez milhões? Estava em saldos...

DUVIDO que haja um português que não sinta orgulho ao ver Auriol Dongmo, Pedro Pablo Pichardo e Patrícia Mamona com a medalha de ouro no peito, a Bandeira às costas e o Hino nos lábios. O mesmo orgulho, independentemente do local onde nasceram.