Do Bonfim ao VAR
1 - Ontem no Bonfim o Benfica de Rui Vitória venceu, com um grande espírito coletivo, um Vitória de Setúbal bem organizado e muito lutador. Foi um jogo duro, bem agressivo, com assumidas picardias principalmente de alguns jogadores do Vitória de Setúbal. Com o lindo golo de Jonas o Benfica, este Benfica, conquistou três importantes pontos que reforçam o legítimo sonho da reconquista. O Benfica, este Benfica, mereceu ganhar. Foi um jogo sofrido para um Benfica em recuperação anímica e que põe de parte o lado artístico e evidencia, e bem, a primazia do resultado. São três importantes vitórias consecutivas. Agora segue-se um jogo que vale acima de tudo para a tesouraria. É a despedida da Liga dos Campeões face ao AEK e importa que esta embalagem de vitórias continue. E se reforce. Com a certeza que para o Benfica, e para os benfiquistas, é determinante, a todos os níveis, um Dezembro totalmente vitorioso. É determinante mesmo.
2 - Bem sabemos que errar é humano. Não ignoramos que, muitas vezes, mais humano é atribuir o erro aos outros. Como a busca permanente da tia solteira para nos redimir das faltas ou nos atribuir uma verba extraordinária! E eu que fui criado por duas tias solteiras sei bem dessa fascinante situação! Mas o que está a acontecer em certas não decisões do VAR é bem perturbante. E não me falem de protocolos. É, tão só, bom senso. Puro. E duro. Assumamos que o VAR é uma conquista irreversível do futebol contemporâneo. Mas sabemos, também, que o VAR é tecnologia, por ora, interpretada por humanos. E o VAR, o nosso VAR, implica, na sua construção e na sua avaliação, coragem. Diria que nas atuais circunstâncias do futebol português acrescida coragem. Sem Var seria coragem extrema. Com VAR é coragem. Coragem individual e não coragem corporativa. Já que esta não é coragem. É submissão. O que está para além da essência do futebol. Sabemos com Thomas Fuller que «algumas pessoas foram consideradas corajosas porque tinham medo de fugir». Mas também lemos que só «quem tem coragem para enfrentar os perigos, vence-os antes que eles o ameacem». E é este o desafio do VAR, exclusivo ou não, em Portugal e na nossa Liga NOS. E importa que estes derradeiros jogos de 2018 não perturbem mais a coerência do VAR. E da possibilidade de existir uma latente não coragem em certas circunstâncias. É que, então, coragem e razão não combinam. O que é um perigo terrível. Mesmo! E esta é, mesmo, uma chamada de atenção para o nosso Conselho de Arbitragem!
3 - Hoje, e de forma original, o estádio do Real Madrid - estádio emblemático do mundo do futebol - assistirá à segunda mão da final da Taça dos Libertadores da América do Sul. Na Europa, e num jogo apenas, seria a final da Liga dos Campeões. Quase que antecipando uma Liga mundial de clubes - em marcha verdadeira, tal como a reformulação perturbante das competições europeias de clubes! - o jogo deslocaliza-se de Buenos Aires e aterra em Madrid. Trata-se, aqui, de uma verdadeira final obrigatoriamente exportada e não, como já acontece em determinadas situações, uma final contratada. Como já ocorre com Supertaças europeias disputadas em outros e atrativos espaços. Esta final exportada surge em razão de gravíssimos fenómenos de violência ocorridos em Buenos Aires e que evidenciaram, para alguns distraídos, - mesmo entre nós! - a globalização da associação de claques. Que nós, por cá, semanticamente, designamos como «grupos organizados de adeptos». E mesmo que invocando solidariedades erráticas percebemos a deslocalização de claques entre a Europa e a Argentina! O que esta final representa é a incapacidade argentina de organizar a segunda mão de uma final. Incapacidade policial e incapacidade da estrutura da confederação sul-americana de futebol. E perante estas dupla incapacidade, Boca e River, rivais de sempre, viram a segunda mão da sua final ser exportada para Madrid. É a confissão de uma gritante incapacidade argentina. E perante tamanha incapacidade até houve a globalização de ofertas de estádios alternativos: Miami e Doha, Milão e Génova, Belo Horizonte e Assunção. Mas falou mais alto o espírito ibérico, a língua comum, a capitalidade de Madrid, um estádio comum. E havendo, necessariamente, acordo da Federação espanhola e também da UEFA. E a não oposição da FIFA. O que traduz um precedente. Sério! O que fica mesmo é uma alegria imensa para o milhão de argentinos que vivem na Europa, e entre eles os 350.000 que trabalham ou estudam em Espanha. O futebol está mesmo a mudar. Como escreveu Jorge Valdano, na sua deliciosa crónica de ontem neste jornal, é um River - Boca: «for export»!
4 - Sei bem, por experiência vivida, que «a amizade duplica as alegrias e divide as tristezas». E que as verdadeiras ligações de amizade são, por vezes, mais fortes do que algumas ditas ligações de sangue, de família. Nesta semana, em que uma gripe me condicionou vivamente, vivemos - o Paulo, o Hermínio e o Paulo - largos momentos de alegria. Em Oliveira de Azeméis, olhando para uma Simoldes em contínuo crescimento, percebemos que há vontade e competitividade, inovação e internacionalização, calçado de sonho e gastronomia de embalar. Assim abraçámos, em momentos diferentes, e após um almoço bem familiar e bem delicioso - no recomendado D. Gomado do Hotel Dighton - homens que representam o Portugal que labuta e luta, que tem mérito sem vaidade e que na sua simplicidade evidenciam, sem forçar, humildade e hospitalidade. Já com T.S. Elliot aprendemos que «a única sabedoria que uma pessoa pode esperar adquirir é a sabedoria da humildade». Os Senhores Vitorino Coelho e os irmãos José Augusto e Paulo da emblemática fábrica de calçado Hércules merecem uma nota especial. Pelo que são e pelo que representam. E nada mesmo, após um polvo espetacular e um leite creme divinal, que encaixar os dedos dos pés em cómodos sapatos - com sola encarnada, pois! - e duplicar, também, a alegria desta caminhada, e desta partilha, e que evidencia que estas pequenas coisas e estes pequenos e longos encontros nos fazem bem. Mesmo que a gripe tenha um intervalo e regresse, depois, em força como que a pedir para uma valente recuperação a degustação de um enchido cozido à portuguesa. Com um Dão a embalar a gripe. A embalar mesmo!