Disciplina ou talento?
ESTIVE na semana passada num workshop com treinadores provenientes de diferentes culturas. A determinada altura discutia-se a necessidade de a equipa ser disciplinada e a forma como se deve impor esse mesmo rigor. Defendiam que a disciplina era a questão primordial para que tudo funcionasse de forma eficaz. A importância de existirem regras, conhecidas por todos, mesmo que por vezes contestadas, é decisiva para o sucesso da equipa. Concordo. Mas será mais importante que o talento? Para mim, não. O que mais procuro é talento. Os treinadores melhoram a capacidade dos jogadores, mas não lhes dão a genialidade que os diferencia. Ninguém escolhe onze jogadores de forma aleatória, tentamos sempre escolher os melhores para cada uma das funções. Não conseguimos dar talento a um jogador, mas podemos potenciar as suas capacidades. Por outro lado, podemos impor um quadro disciplinar adequado às exigências do clube ou da equipa. Mesmo com resistência, conseguimos. Mas sem jogadores com classe nunca seremos grande conjunto. Precisamos de talento e nem sempre percebemos onde ele está. Claro que este talento tem que ser integrado num quadro de respeito e rigor. Este nós podemos estabelecer, a genialidade do jogador é própria. Prefiro o que não consigo dar ao jogador, e ensiná-lo a respeitar as regras, do que uma equipa sem criatividade. Óbvio que a influência da educação e a cultura do País onde crescemos e vivemos são factores que determinam muitos dos comportamentos. Mas, nesta discussão multicultural, com influências de Angola à Rússia, temos espaço privilegiado de crescimento. Entender o pensamento e comportamento de treinadores de outros pontos do Globo dá-nos possibilidade única de crescimento. Continuo a querer talento, depois criamos o modelo de o integrar. Quantas vezes treinamos e no jogo nada sai como queremos? As suficientes para surgir o génio e resolver o desafio.