Diogo Matos Ribeiro

OPINIÃO07.09.202206:30

Portugal tem prodígio emergente na natação. Tricampeão e recordista mundial júnior, como ele promete nos Jogos de Paris-2024!

N EM FC Porto, nem Sporting, nem Benfica, nem… futebol! Diogo Matos Ribeiro, o jovem de 17 anos que colocou Portugal no mapa da natação, com três títulos e um recorde nos Mundiais Juniores de Lima, fez história na modalidade, com proeza inédita.

Declaração de interesses: cresci na natação e cresci com a natação. Atleta federado durante duas décadas, sei o que a prática da modalidade exige de dedicação e sacrifício. Sem nunca nadar atrás de mais do que mínimos para competir nos Nacionais, chegava à piscina antes do nascer do sol e deixava-a já noite escura, com a escola entre os treinos diários. A fórmula repetiu-se dia após dia, semana após semana, mês após mês.

A competição, na natação, pressupõe rotina(s). Cumprimo-la apenas com disciplina que compromete toda a família, devido às refeições muitas vezes fora de horas, aos fins de semana quase todos nas piscinas e ao nenhum tempo livre para os amigos. No meu caso, muito feliz, tive-a sempre ao lado. A minha irmã, também nadadora, encontrava-se na água, o meu pai tratava da burocracia da secção de nata- ção do clube que representávamos (até integraria direção da Associação de Lisboa) e a minha mãe dedicou-se à cronometragem.

E a natação deu-me muito mais: abriu-me o mercado de trabalho, primeiro como professor (e treinador de polo aquático, modalidade adotada após o fim na carreira desportiva possível), depois como jornalista! À natação, confesso-o, de- vo (quase) tudo. Por isso, celebro de forma tão especial e particular estas proezas de Diogo Matos Ribeiro, atleta agora confrontado, seguramente, com uma decisão determinante para um futuro de sucesso na elite da modalidade: na promoção a sénior, permanência por cá, próximo da família e da equipa de técnicos com que trabalha todos os dias, ou mudança para o estrangeiro, para combinar o estudo com a natação?

Hoje, sei-o agora, para ser bem-sucedido existem (mais e melhores…) condições do que nos meus tempos de nadador: ao talento e ao trabalho do Diogo Matos Ribeiro somam-me, nomeadamente, a disponibilidade do Centro de Alto Rendimento do Jamor e o apoio da equipa multidisciplinar de especialistas liderada por Alberto Silva, o rosto por trás dos sucessos da nata-ção brasileira entre 2004 e 2021 - no currículo extensíssimo do treinador, por exemplo, medalhas em Jogos Olímpicos (2) ou Campeonatos do Mundo (24), além de recordes mundiais (2). 

Durante a década de 1980, convivi com Alexandre Yokochi, (ainda?!) o nome maior da história da natação portuguesa. Finalista nos Jogos de 1984 (7.º), em Los Angeles, nos 200 metros bruços, o nosso sapo (a alcunha colou-se-lhe), na mesma distância, ganhou a prata no Europeu de 1985, em Sófia, além de ouro e prata em duas edições das Universíadas (respetivamente, Zagreb-1987 e Kobe-1985). 

Recentemente, sinal da mudança de paradigma na história da natação nacional: em agosto, nos Europeus de Roma, Portugal, que ti- nha apenas duas medalhas no palmarés, somando o bronze de Alexis Santos em 2016, nos 200 metros estilos, à prata de Yokochi, re- gistou um número recorde de finais (9) e conquistou dois bronzes, por Gabriel Lopes (200 metros estilos) e Diogo Matos Ribeiro (50 metros mariposa). Nas águas abertas, Angélica André de bronze nos 10 km.

Em Roma-2022, Diogo combinou o metal com o tempo de 23,07 segundos, registo apenas 0,02 segundos acima do recorde júnior, do russo Andrei Minakov, que implodiu em Lima, Perú, nadando a distância em 22,96 segundos, depois da renunciar à meia-final dos 100 metros livres para algum repouso do corpo e da mente. Em julho de 2021, após ganhar a prata nos Europeus de Juniores, nos 100 metros mariposa, acidente grave de moto quase comprometeu o futuro. Recuperou e, agora, o nadador, ainda mais poderoso psicologicamente, sonha com pódio nos Jogos de Paris-2024. Sonhamos todos!