Descalabro a abrir

OPINIÃO16.09.202003:00

Mais de cinco  anos depois do último jogo como treinador do Benfica (a final da Taça da Liga, ganha ao Marítimo em Coimbra, a 29 maio de 2015), Jorge Jesus iniciou a segunda etapa na Luz (jogo n.º 322) de forma desastrada (derrota n.º 46). O Benfica perdeu em Salónica e está fora da Champions. O prejuízo é grande - mais de 40 milhões a voar - e outras consequências que ainda estamos para ver. O vice-campeão nacional foi eliminado por uma equipa que, teoricamente, estava perfeitamente ao seu alcance - o PAOK de Abel Ferreira - e que, afinal, acabou por justificar a passagem graças a uma segunda parte de grande coesão e eficácia. Bem sei que o nosso foco é o Benfica, mas não se faça a Abel Ferreira a injustiça de não reconhecer que ele foi muito competente na forma como preparou os seus (medianos) jogadores para a final e soube aguardar o momento certo de mostrar que não estava ali só para defender. O Benfica até fez uma primeira parte sólida perante um PAOK muito defensivo, mas a equipa grega conseguiu o essencial: ser eficaz quando teve oportunidade de golo. Nas duas que teve não perdoou nenhuma. O Benfica, pelo contrário, foi demasiado perdulário (ai Seferovic…) para se queixar de azares ou infelicidades e mostrou, a partir dos 60 minutos, uma alarmante semelhança com o Benfica da fase final de Bruno Lage. A máscara facial de Jesus na reta final do jogo e na conferência de imprensa só enganava quem não o conhece: desilusão profunda. O Benfica falha a tentativa de afirmação na Champions pela enésima vez. Mas cair perante o PAOK é que não tem atenuante possível. Foi mesmo mau.


A caução de António Costa
O adepto benfiquista António Costa não podia desconhecer (por motivos óbvios) que foi convidado para a comissão de honra da candidatura de Luís Filipe Vieira por ser quem é e ter a relevância pública que tem - ele é primeiro-ministro de Portugal e toda a gente o conhece; consequentemente, tudo aquilo que diz e faz tem um peso enorme na opinião pública. É indiscutível que a candidatura de Vieira deu um grande golpe ao conseguir o apoio do primeiro-ministro (e também do presidente da Câmara de Lisboa). É um facto que Costa já tinha feito parte da comissão de honra de Vieira em 2012 (era presidente da CML) e 2016 (já como primeiro-ministro), como é um facto (que o primeiro-ministro certamente não ignora) que a perceção pública da imagem de Vieira mudou profundamente nos últimos três anos - e não por boas razões. Deste modo, o sim de Costa parece-me uma caução muito arriscada por parte do adepto… que governa o país. Costa podia ter escolhido resguardar-se, não dizer nada, não tomar partido na eleição presidencial do Benfica. Seria uma prova da sensatez que é expectável num primeiro-ministro. Mas não. Costa quis MESMO dizer-nos que confia plenamente em Vieira e que não vê qualquer problema em apoiar publicamente um homem que tem a reputação que se sabe por estar envolvido numa série de casos judiciais e episódios duvidosos. Para António Costa, pelos vistos, isso não tem importância nenhuma. O que me surpreende, tendo em conta que o próprio Costa - e outras figuras institucionais - foram desaparecendo paulatinamente da tribuna presidencial do Estádio da Luz (onde eram vistos regularmente) à medida que as revelações dos e-mails iam obscurecendo a reputação de Vieira e do Benfica.
Cada um sabe as linhas com que se cose. Espero que António Costa tenha consigo próprio e com os seus colaboradores um grau de exigência maior do que aquele que deu mostras neste episódio, o enésimo envolvendo política e futebol. De resto, repito o que aqui escrevi a propósito dos apoios políticos à candidatura de Pinto da Costa: são misturas que me parecem sempre de evitar. Vale para todos os clubes.