Dérbi empatado,VAR avariado, canoa dourada

OPINIÃO29.08.201800:58

1Ao contrário das duas primeiras jornadas do campeonato em que os três ‘grandes’ venceram, à terceira foi de vez: nenhum ganhou. Os de Lisboa, no já habitual empate, seja na Luz, seja em Alvalade (creio que o quarto seguido). O do Porto, numa inabitual derrota caseira, com um score de 0-3 na segunda parte. Promete este campeonato. Se juntarmos o Sp. Braga e o ‘ex-moribundo’ Sporting, creio que vai ser um campeonato taco-a-taco.

Concentrando-me no dérbi dos dérbis, mais uma vez o Benfica teve no guarda-redes adversário o principal oponente. Grande prestação - como agora se diz, em vez de actuação - de um jogador pré-dispensável há dias e, provavelmente, agora mais titular que nunca. É assim o futebol dos adeptos e, não raro, dos dirigentes: um dia uma besta, outro dia bestial. Ou vice-versa.

Gostei do ambiente antes, durante e depois do encontro. Não apenas por parte dos adeptos e claques, mas sobretudo dos dirigentes, treinadores e atletas. Num futebol entrincheirado em ódios figadais, inimigos inventados e amoques entre treinadores, respirou-se um ar bem menos poluído. Foi a principal vitória no empate.

Já o principal empata no empate foi um árbitro sem classe, titubeante, com momentos de manifesta incompetência durante a partida. Foi pena. Não querendo fazer o recorrente choradinho de não se ter ganho por causa dos homens do apito, houve critérios enviesados e uma actuação a nível disciplinar absolutamente indigente. Aliás, neste ponto, contrariando as instruções públicas dadas aos árbitros no início da época, o uso dos cartões deve ser uniformemente ajuizado do primeiro ao último minuto e não - como é prática na arbitragem nacional - concentrar-se nos minutos finais para infracções iguais. Neste jogo, dos 9 cartões amarelos exibidos, 6 foram mostrados nos últimos minutos. Por exemplo, Salin viu-o aos 94 m (por demora na reposição da bola, prática que teve desde o minuto zero) e Ristovski teve-o aos 24 m por carga imprudente sobre Cervi quando aos 9 segundos (!) já o merecia por carga ainda mais imprudente sobre Fejsa. O cronómetro, esse foi um tormento: entre o penálti (bem assinalado) e o recomeço do jogo passaram 5 minutos, por causa de transtornos com a comunicação entre os juízes. Pois, se a isso juntarmos as substituições e paragens que houve, Luís Godinho concedeu 6 minutos (onde, por sua vez, se jogaram de facto apenas 2 minutos). Por fim, assinalo a claríssima intencionalidade (ainda que não intensa) de Jefferson no último lance, derrubando na área João Félix. Nem sequer o VAR Jorge Sousa o mandou ver no monitor… Curioso, bem curioso mesmo, foi o comentário de ‘o árbitro de A BOLA’ (Duarte Gomes, que acho um bom analista) ter considerado Godinho «um jovem com muita personalidade, coragem e qualidade. Continua a crescer e ontem deu passe de gigante nesse sentido» (!). Esta coisa de ex-árbitros classificarem ex-colegas é no que dá. Mas agora está na moda (corporativa), seja nos jornais, seja nas televisões. Enfim… adiante.

Quanto ao jogo da minha equipa, tirei ou consolidei (para mim) a ideia de que Facundo Ferreyra, que acredito ser um bom jogador, não pode jogar neste esquema táctico de um ponta-de-lança isolado. Não tem a robustez de choque de Castillo, nem a superior classe de Jonas. Evidentemente que compreendi a opção de Rui Vitória que não tinha alternativa, com as lesões dos outros jogadores, a não ser o quase dispensado Seferovic. Ou teria? Bastou ver João Félix uns minutos em jogo para, talvez, podermos afirmar que sim. Aliás, aquele passe açucarado do miúdo para Ferreyra que, depois, ‘passou’ a bola ao guarda-redes no jogo contra o PAOK, é a prova disso. O jovem craque mostrou, claramente, que a (jovem) idade não deve ser barreira quando é tão notória a capacidade, técnica e visão de um jogador talentoso. Este é até um ponto em que Rui Vitória tem evidenciado coragem, desde que está no SLB e cujo último exemplo é Gedson Fernandes, outro menino talentoso. Para eles, a receita deve ser dar-lhes as devidas oportunidades e evitar que se estraguem com mimos e fartas declarações messiânicas de astros em que os media são pródigos.

2O Benfica joga hoje a tudo (leia-se 40 e muitos milhões), menos a feijões. Escrevo com a esperança de que seja ultrapassado o obstáculo grego, depois de um resultado injusto na Luz. Injustiça que se deve, em parte, à ineficácia na finalização e à grande exibição do guardião helénico (como contra o SCP, o guarda-redes foi decisivo, mas verdade seja dita, o keeper é um jogador dos onze, logo com o mérito do colectivo). O Benfica é manifestamente superior ao PAOK e, se a normalidade acontecer, alcançar-se-á a fase de grupos.

3Ainda tenho memória suficiente para me lembrar do que ouvi, de portistas, quando no campeonato passado, no jogo Desportivo das Aves 1, Benfica 3, o VAR ‘deu o prego’. Por acaso, coincidiu com o terceiro golo encarnado, precedido por uma falta uns segundos antes no meio campo por um jogador do SLB. Então, credo, o que ouvi eu. Manobras, esquemas, ‘coincidências’, num momento - recorde-se - em que o Benfica já estava a ganhar. Pois acontece que no melhor VAR, volta a cair o apagão. Só que agora no Dragão, onde o vírus do blackout técnico logo contagiou o árbitro Fábio Veríssimo (não confundir com Varíssimo) e seus ajudantes que confirmaram um golo tão claramente ilegal que até faz dó e não viram um penálti do tamanho dos Clérigos a favor do Vitória. Claro que, neste caso, a avaria do VAR foi… um mero acidente, tal qual foi um acidente o 0-3 da segunda parte. Depois e desta vez, o imbróglio teve honras de explicações oficiais da operadora e da FPF. O VAR parece estar para alguns momentos de jogos, como o SIRESP está para outros momentos da protecção civil.

4Fernando Pimenta é bicampeão mundial em canoagem. Português de Ponte de Lima e benfiquista de clube. Um brilhante especialista que tem vindo a vencer provas mundiais e europeias com inegável classe e dedicação. Ao contrário do que é habitual nos jornais desportivos portugueses, sempre colados ao futebol, apreciei muito a capa de A BOLA desta segunda-feira quase toda ela consignada a este grande feito desportivo deste ‘senhor da água’ (sic), recordando que nunca um canoísta havia vencido até agora dois títulos em campeonatos do Mundo. Claro que houve as felicitações dos principais políticos, a começar pelo Presidente da República. Mas, injustamente, aqui também se sente a hierarquia dos desportos. Se fosse no futebol, olá lá, as palavras, promessas, agraciamentos e condecorações já teriam fervilhado e o país já estaria suspenso por uma qualquer recepção de luxo e de discursatas. É a vida, dirão alguns. É que, também nas modalidades desportivas, há umas que são filhas e outras que são enteadas (e até há aquelas que são mesmo enjeitadas…).