Dérbi dos dérbis: foi assim que aconteceu

OPINIÃO10.05.202509:45

Ode ao futebol entre rivais, paz entre adeptos e respeito demonstrado por todos os protagonistas: uma decisão da Liga digna, no dérbi dos dérbis, a proporcionar uma festa segura

Sensacional. Apaixonante. Memorável. A Liga 2024/25 foi nivelada por baixo, mas o título ficou decidido de forma inesquecível, épica, em jeito de ode ao futebol (português), proporcionada por Benfica e Sporting, mas depois entoada a uma só voz na Praça Marquês de Pombal.

Apesar das ameaças à ordem denunciadas nos dias prévios, em casas e núcleos pintados a vermelho ou verde, o dérbi decorreu de forma pacífica e ordeira. Em absoluto contraste com a violência ignorante de quem não tem lugar no desporto, o jogo da Luz foi espaço livre para quem sabe que rivais e inimigos não são sinónimos.

Enquadrado por um dispositivo policial mais preocupado com o trânsito do que relativamente a eventuais desacatos, o cortejo de adeptos leoninos fez a viagem de Alvalade para a Luz de forma atempada e serena, num ritmo marcado por cânticos de louvor ao emblema verde e branco.

Já em redor do palco do jogo o chão parecia lava, tal o fervor encarnado, mas para lá do fumo da grelha da roulote foi possível ver casais unidos pelo amor mas separados pela cor, filhos deserdados pela preferência clubística a comer bifanas pagas pelos pais, rodadas de bebida oferecidas por amigos do peito que carrega(m) outro emblema.

O jogo esteve à altura da inédita ocasião: empolgante, intenso, inesquecível. O mérito do campeão foi proporcional à réplica do derrotado, e nem o apito final cessou a nobreza do duelo, tal o respeito entre protagonistas. Não só os jogadores, honrados pela entrega, como também os treinadores, dignos timoneiros no cumprimento final e na posterior troca de elogios.

O desgaste do jogo europeu arbitrado menos de 48 horas antes, em Londres, não condicionou o desempenho de João Pinheiro, de quem nem se deu conta no dérbi, como sempre é desejável.

A cara de quem ganha nunca é igual à cara de quem perde, mas até os presidentes foram cordiais no rescaldo de um jogo a que assistiram lado a lado.

Nas ruas da capital, mas não só, a alegria de quem venceu cruzou-se respeitosamente com a tristeza de quem perdeu. Houve reserva perante o desalento, mas também espaço para a festa, que recebeu os campeões de forma entusiasta mas regrada.

Foi assim que eu vivi este sábado, a partir da redação d'A BOLA, e espero que ninguém me venha contrariar com cenas lamentáveis.

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