Demita-se, sr. Fontelas

OPINIÃO21.02.202305:30

O Conselho de Arbitragem não explica, não reage, não se indigna, não existe, portanto. Mais preocupante, porém, é constar-se que a ordem vem de cima…

DEPOIS do que já se escreveu e falou sobre o mais recente erro grosseiro na análise de um lance, na noite do último sábado, no Estádio do Dragão, não vislumbro que possa enriquecer a discussão com elementos novos, mas sinto que, com o meu modesto contributo, devo participar no combate às forças que, por diversos meios e insondáveis objetivos, impedem que a arbitragem se liberte do mundo fechado em que sempre viveu e do qual não consegue sair. 

Não é preciso tirar um curso de arbitragem para ver que Pepe deu uma pancada no vila-condense Boateng (FC Porto-Rio Ave, 21.ª jornada da Liga) e que Tormena deu uma sarrafada no benfiquista Gonçalo Guedes (SC Braga-Benfica, quartos de final da Taça de Portugal). Em ambos o casos, a marosca compensou, o que é grave.

Pepe voltou a passar por entre os pingos da chuva sem se molhar nem causar prejuízos evidentes ao seu clube. Nem foi admoestado com um cartão amarelo, sequer, nem a sua equipa foi penalizada com o devido pontapé de penálti. O que, em teoria, significa que, na corrida pelo título, o FC Porto foi presenteado com um bónus de dois pontos. Ninguém pode garantir que o penálti seria marcado com sucesso, pois não, mas também ninguém pode garantir o contrário.

O bracarense Tormena, por seu lado, com a mesma leviandade, em vez de pontapear a bola acertou num pé de Gonçalo Guedes e nada lhe aconteceu, nem o devido pontapé de penálti foi assinalado, ficando o Benfica impedido de ampliar a vantagem para dois golos e, quem sabe, decidir a eliminatória. Mais uma vez, ninguém pode garantir que o penálti resultaria em golo, mas também ninguém pode garantir o contrário. 
 

DUAS situações e duas consequências, com benefício claro para o FC Porto, arrecadando dois pontos que talvez não fosse capaz de amealhar sem a preciosa ajudinha do VAR (Luís Ferreira/João Bessa) e prejuízo notório para o Benfica que, a vencer por dois a zero, muito provavelmente teria continuado na competição não se desse o infeliz acaso de o VAR (Fábio Melo/João Bessa Silva) dormitar naquele preciso momento. Só assim se entenderá tamanha distração. 

Pode parecer brincadeira, mas não é. O problema é sério e mais sério se torna quando quem exerce a responsabilidade no sector assobia para o lado, faz de conta que nada de especial acontece e opta por manter-se refugiado no convento onde sempre se escondeu para não ter de revelar segredos nem prestar esclarecimentos pelos erros, que são imensos. Se antes era assim, agora parece continuar a ser, o que é inaceitável. A pouca experiência e o défice de competência dos atores não podem ser as desculpas instituídas para desresponsabilizar a inépcia do Conselho de Arbitragem presidido por Fontelas Gomes. No entanto, tem de ser dito, ainda não se percebeu quem, na realidade, manda nos árbitros, nos assistentes e nessa coisa chamada VAR, a ficar sem vargonha e a desenterrar práticas antigas, apesar de desmentidas por imagens vistas e revistas na Cidade do Futebol por gente supostamente especializada e de uma credibilidade à prova de bala. 

AS dúvidas sucedem-se e os reparos avolumam-se, o que muito se estranha porque a aplicação é útil e pode ajudar a esclarecer quase todas as questões, deixando de fora apenas os casos de interpretação para os especialistas se entreterem. 

Os avanços têm sido significativos, mas parece pacífico que será preciso melhorar o protocolo no sentido de o tornar mais claro e fiável. É um instrumento novo, com falhas que devem ser assumidas e eliminadas sem preconceitos, como fez Howard Hebb, antigo árbitro internacional inglês e atual presidente da arbitragem da Premier League, que pediu desculpa a dois clubes por causa de erros na videoarbitragem. 

Por cá, o silêncio é o biombo pode detrás do qual se esconde quem sente dificuldade em enfrentar a severidade dos factos. O Conselho de Arbitragem não explica, não reage, não se indigna, não existe, portanto. Mais preocupante, porém, é constar-se que a ordem vem de cima, da própria Federação de Futebol, e o que se consta, sem ser contrariado, depressa assume a força de uma verdade. Como consequência, tendo a arbitragem um presidente omisso, melhor seria Fontelas Gomes demitir-se. 
 

COMPARAÇÕES  

Ofutebol tem coisas muito engraçadas. Com a saída de Enzo Fernandez para o futebol inglês, Roger Schmidt viu-se obrigado inventar uma alternativa e a preferência incidiu em Chiquinho, o qual está dar a boa conta do recado. Foi quanto bastou para o compararem a Zidane. 

Na Alemanha, Gil Dias está a cumprir uma nova etapa na sua vida profissional. Já apontou dois golos pelo Estugarda e a fértil imaginação de um jornalista do Bild comparou-o a Arjen Robben. 

Enfim, se moda alastra, e como o pensamento é livre, um dia destes teremos alguém a sugerir que Rafa Silva revela pormenores que o comparam a Diego Maradona.