Deficiências

OPINIÃO23.03.201900:04

Nos termos do artº. 71º da Constituição da República Portuguesa, «os cidadãos portadores de deficiência física ou mental gozam plenamente dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição, com reserva apenas do exercício ou do cumprimento daqueles para os quais se encontrem incapacitados», obrigando-se o Estado «a realizar politicas de reabilitação e integração dos cidadãos portadores de deficiência e de apoio às suas famílias, e desenvolver uma pedagogia que sensibilize a sociedade quanto aos deveres de respeito e solidariedade para com eles e a assumir o encargo da efectiva realização dos seus direitos, sem prejuízo dos direitos e deveres dos pais e dos tutores».
Este dever do Estado deve ser entendido não apenas como um dever do Governo, mas um dever de todos os cidadãos, organizados ou não, sem prejuízo do dever constitucional do Estado de apoio às organizações de cidadãos portadores de deficiência.


E todos os cidadãos têm direito ao desporto. E por que assim é, todos nós temos o dever - e o Special Olympics a missão - de proporcionar aos jovens e adultos com deficiência intelectual o acesso à prática desportiva de forma continuada, de acordo com os princípios da equidade, e tendo em atenção o enquadramento técnico qualificado e incentivando a partilha dos seus sucessos com os outros. Também esse dever é partilhado com o Estado, que com a colaboração das escolas e das associações e colectividades desportivas, promove e estimula, orienta e apoia a prática da cultura física e do desporto.


Há um principio - e eu cultivo esse principio -  que a justiça se não agradece, e poder-se-ia dizer que a deslocação do Secretário do Desporto e da Juventude a Abu Dhabi para a cerimónia de abertura dos Jogos Mundiais, foi apenas um acto de justiça para com os deficientes intelectuais que, através do desporto, se dignificam a si próprios e ao País a que pertencem. Não posso porém, agora que os jogos terminaram, e os nossos atletas regressaram, deixar de manifestar o meu profundo reconhecimento por este sinal de apoio e consideração por esta organização, que não tem a mediatização de outras organizações desportivas, pois ela realiza-se sobretudo no coração de todos nós. Num país que atravessa dificuldades, quando os apoios não podem ser muitos, já é gratificante que os governantes olhem para nós com algum carinho e afecto - o afecto que é tão caro ao Presidente da República.


É assim confortados, que queremos que o Special Olympics Portugal leve o desporto a todos os deficientes intelectuais. Que o país se orgulhe sempre dos seus atletas, porque eles, não obstante as suas deficiências intelectuais, têm sentimentos e capacidade para amar e respeitar o próximo, e a noção de qual é o seu país, e a responsabilidade de o representar. E queremos também que o Movimento Internacional se orgulhe do seu filiado de Portugal.


O Senhor Secretário de Estado, considerando a dimensão do evento «bem representativa do seu poder unificador, sendo considerados mundialmente como os Jogos da Inclusão, onde a nossa delegação simboliza o quanto os nossos atletas ocupam na nossa comunidade o espaço a que têm direito, constituindo - se como um claro estímulo ao aumento da prática desportiva no desporto para todos, em particular para pessoas com deficiência» e que a «forte aposta na representação portuguesa é mais um forte estímulo para a afirmação destes atletas como símbolos da valorização do desporto como instrumento de inclusão social», reconheceu, através do despacho 1014/2019 de 17 de Janeiro,  a representação nacional do Special Olympics Portugal aos 15.º  Jogos Mundiais de Verão - Abu Dhabi 2019, como missão de interesse público.
O Senhor Secretário de Estado teve oportunidade de ver os nossos 31 atletas, entre os 7000 em representação de 170 países, que prestaram o juramento solene na abertura dos jogos:

«Queremos vencer. Mas se não conseguirmos deixem-nos enfrentar o desafio corajosamente».

Os nossos atletas não se ficaram pela coragem, e atingiram o sucesso. Trinta e um no meio de sete mil conquistaram 7 medalhas de ouro, 7 de prata e 10 medalhas de bronze, e ainda mais 7, 8 e 3 medalhas, respectivamente, por quartos, quintos e sextos lugares.
Citámos a Constituição da República Portuguesa para falar de deficiência intelectual e da pratica do desporto pelos portadores deste tipo de deficiências, como forma de inclusão na sociedade. Estes desportistas não causam problemas ao desporto, antes o praticam de uma forma séria e pura. Quem causa sérios problemas ao desporto, tal como ele deve ser entendido, não são os deficientes intelectuais, mas os intelectuais cheios de deficiências, designadamente, de carácter!
Ao olhar para estes atletas, certos indivíduos que poluem o ambiente, deviam envergonhar-se e, andar na rua, já seria uma ousadia e uma ofensa aos restantes cidadãos e seres vivos.
Os atletas chegaram ontem ao aeroporto de Lisboa, em mais um momento de grande alegria e emotividade, como aliás são sempre vividas as vitórias das representações nacionais. Pena que só a Sport TV tenha estado presente e assim só ela possa testemunhar o que representa para os jovens e para as jovens este momento de gloria, com muitos risos e lágrimas. Compensa tudo aquele momento. Pena é que toda a comunicação social, com aquele honrosa excepção, não releve estes acontecimentos, dando apenas tempo de antena aos deficientes que conspurcam o desporto, e, muito particularmente o futebol.
O Senhor Secretário de Estado não ficará certamente arrependido de ter considerado a missão de interesse público destes atletas «símbolos da valorização do desporto como instrumento de inclusão social». Respeitosamente lhe faço notar que será também missão de interesse público a exclusão dos parasitas, dos escroques e dos cobardes que vêm invadindo a sociedade desportiva portuguesa

‘Special Number One’

ESTE sim, um muito especial número um de todos os sportinguistas - o Dr. Salvador Marques que há três dias nos deixou. Aos quase noventa e nove anos de idade e mais de 97 anos de filiação clubística. Para além do enorme respeito, admiração, estima e consideração, simpatia, aliás extensiva a sua adorável esposa, foi a única pessoa até agora de quem senti inveja, porque jamais poderei alcançar tão longa ligação ao clube, enquanto associado. É um homem do tal tempo que para mim acabou, uma referência que em mim perdurará e que devia servir de exemplo a todos, neste tempo de arrogância, violência, verbal e física, em resumo, de falta de educação!
Partiu sem ficar a dever nada ao Clube que amou e serviu. Nos, sportinguistas, ficámos mais pobres, e com uma enorme dívida de gratidão!...