De olhos bem abertos
Às vezes precisamos de olhar para fora para perceber as alarvidades que dizemos quando teimamos em menosprezar o que temos dentro de casa. Vem isto a propósito do videoárbitro, por cá tão maltratado - nunca a FIFA se teria atrevido a estreá-lo no Mundial se passasse algum cartão ao que em Portugal se diz e escreve... - e que na Rússia também já dá que falar. É perfeito? Claro que não. Mas não é tão mau como alguns por cá querem fazer crer. É verdade que nos falhou logo a nós, naquele primeiro golo da Espanha - incrível como, pelo que diz a FIFA, não aconselhou, pelo menos, Gianluca Rocchi a ir ver o lance. Mas acertou em cheio no França-Austrália, descortinando um penálti que, existindo, não era tão claro quanto isso. Ou no Peru-Dinamarca.
Não vale, portanto, embarcar em teorias da conspiração quando os nossos VAR tomam decisões que nos parecem incompreensíveis. Acontece em Portugal e acontece também em palcos tão maiores como um Campeonato do Mundo. Não é mais, perceba-se, que uma questão de competência. E é nisso que nos devemos concentrar: chamar os melhores para a função e formar a pensar no futuro. Tudo o resto é, só, alguém a tentar mandar areia para os olhos, numa tentativa - às vezes bem-sucedida, infelizmente - de nos fazer mais cegos do que pareceu o videoárbitro do nosso jogo com a Espanha.
Às vezes precisamos de olhar para fora para perceber as alarvidades que dizemos quando teimamos em menosprezar o que temos dentro de casa. Vem isto a propósito de Cristiano Ronaldo, que alguns por cá tão maltratam apenas porque cometeu o pecado de nascer português. A esses - aos que continuam a olhar para Cristiano, e para os nossos maiores, com a pequenez própria de quem nunca aspirará a ser grande - aconselho apenas uma consulta (e nem precisa de ser muito aprofundada) à imprensa internacional deste sábado. Talvez assim percebam que os que, por cá, destacam os feitos daquele que é o nosso melhor jogador de sempre não sofrem de qualquer complexo de saloiice aguda. É (muito) mais ao contrário...
Às vezes devíamos ser proibidos de olhar para dentro para não termos de ver as alarvidades que dizemos quando queremos defender o que não tem defesa. Vem isto a propósito de um dos últimos episódios da crise do Sporting - peço desculpa mas a novela desenrola-se a um ritmo tão elevado que se torna difícil acompanhá-los todos -, que parece não ter fim à vista. Começou por dizer Bruno de Carvalho, numa das muitas (e infindáveis) conferências de imprensa para que chamou os jornalistas, que o juiz que suspendeu as duas assembleias gerais por si pensadas para legitimar o que, percebe-se, criou sem legitimidade não tinha feito considerações, tinha apenas decidido sem mais. Dois minutos depois estava a dizer que o mesmo juiz, na mesma decisão, tinha determinado que «os sócios do Sporting não eram mentalmente capazes de decidir o seu futuro». Isto não é uma consideração?
Mas foi, logo a seguir, mais longe o presidente do Sporting - embora ninguém consiga perceber bem se ainda o é. Disse Bruno de Carvalho que, não em nome dos «superiores interesses do Sporting» mas em respeito aos sportinguistas, iria permitir a Jaime Marta Soares consultar os cadernos eleitorais e, pasme-se, iria até suportar os custos da AG de destituição de dia 23. Estaria tudo bem, não se tivesse sabido no dia seguinte que tinha BdC sido, afinal, obrigado a isso em mais uma decisão de um tribunal. Como me dizia alguém que muito respeito há uns dias, chegámos a um estado em que a verdade já pouco interessa. O importante é, afinal, a realidade que se passa para o exterior, mesmo que toda truncada. E o mais ridículo é que a estratégia funciona. Porque há sempre gente com uma incrível disposição para andar sempre de olhos fechados.