De Mou a Ole

OPINIÃO29.12.201800:38

Será que as grandes equipas precisam de treinador? Ou será que este não está sentenciado a tornar-se mero selecionador de titulares e passador de informação sobre adversários? Pergunto-o porque começam a surgir sinais de que os grupos de elite começam a dar-lhes decrescente importância. A substituição de Mourinho por Ole Solskjaer no United foi paradigmática: saiu um treinador com 30 anos de carreira, dezenas de títulos e comprovadíssimo conhecimento e entra um cujas valias salientadas têm sido o passado como jogador e a ligação afetiva ao clube; logo sem resultados no currículo, sem experiência de nível elevado. Ole é alguém com o mérito de não estorvar e isso parece servir. Recorde-se o que ainda recentemente disse Sérgio Ramos, capitão do Real Madrid, já passando guia de marcha a Lopetegui: «Mais do que o conhecimento, é importante gerir o balneário». Sintomático, sobretudo porque Zidane era, antes, uma espécie de Solskjaer: não chateava.


Na realidade paralela da NBA, Steve Kerr, treinador dos Warriors, surpreendeu em fevereiro deste ano, num 123-89 aos Suns, quando deixou os jogadores orientarem a equipa na escolha do cinco, nas entradas e saídas, nos descontos de tempo e nas orientações estratégicas. Há dias, LeBron James, estrela dos Lakers, admitiu à ESPN que na nova franquia assume também o trabalho de manager, recrutando jogadores. É um exemplo especial, concordo, mas é em todo o caso um jogador-treinador-dirigente, logo um jogador que dispensa treinador e dirigente. Tirando um ou outro Guardiola que vá surgindo, mesmo os treinadores que chegam aos grandes clubes parecem mais descartáveis, em falência, sem conceitos ou com conceitos que, no mínimo, já não se sobrepõem aos jogadores.