De maus ensaios resultam sempre boas récitas?
Os ingleses, para desejar boa sorte a alguém que se prepara para entrar em palco, ou para ter qualquer prestação importante da qual depende a arte ou o engenho, dizem a frase break a leg (parte uma perna); o mesmo se diz na Alemanha. Já os italianos têm, para o mesmo efeito, a frase in bocca al lupo (na boca do lobo). Os portugueses, um pouco menos subtis, dizem mesmo merda, que também se usa em França e Espanha. Tudo isto vem de uma superstição simples: desejar boa sorte dá azar. Do mesmo passo, nasceu a ideia que um bom ensaio geral corresponde, em regra, a uma péssima estreia. Sendo o contrário verdade: um péssimo ensaio resulta numa estreia de sucesso.
Como veem poderia estar aqui a utilizar várias superstições e explicações para dizer que o Sporting tem todas as hipóteses de ganhar a Supertaça no próximo domingo, no Estádio Algarve. E ter condições talvez tenha… vamos ver se tem equipa e, se tendo equipa, tem sorte.
De um modo geral, considero que neste momento o Benfica está a jogar melhor do que o Sporting. Sem dúvida. Cometo a heresia, do ponto de vista de alguns sportinguistas, de dizer que Bruno Lage parece saber bem o que faz, aliando esse saber a uma humildade que até me leva a simpatizar com ele. Porém, como todos sabemos (os que gostam de futebol) isso de estar a jogar melhor nunca foi decisivo para ganhar um dérbi destes. Pelo contrário - e aí está mais uma superstição - costuma dizer-se que ganha quem está pior. Por isso, rapaziada, ouçam bem o que eu vos digo, contra todas as expectativas, façam o favor de trazer a taça. Como terá dito Frederico Varandas antes da final com o Porto, se não for nos 45 minutos que seja no prolongamento e, se não for no prolongamento, pode ser nos penáltis. Interessa trazê-la!
Pré-epoca e incertezas
Dizer que os jogos de pré-época do Sporting foram bons é mentira. Começaram com uma derrota com uma equipa dos escalões inferiores suíços; passaram por três empates a 2-2 (St. Gallen, Club Brugge e Liverpool), dos quais só o último pode ser considerado um bom resultado, e terminaram com a derrota, domingo passado, com o Valência (1-2) no Torneio Cinco Violinos.
Sim, a equipa tem bons apontamentos. Sim, é verdade que Bas Dost marcou um golão contra o Valência. Sim, há boas revelações interessantes como Thierry Correia, progressos fantásticos como os de Wendell e de Doumbia; confirmações como a de Renan e - por enquanto - génios, como Bruno Fernandes. Mas o conjunto é intranquilo sem que se perceba bem porquê, uma vez que no essencial é o mesmo da época passada; a defesa tem erros, o meio-campo parece deixar de existir de vez em quando e o ataque é ineficaz.
A este propósito, temos a incerteza de Bruno Fernandes a pairar sobre todos. Penso que sobre a equipa também. Vai? Fica? Sabemos que podemos contar com ele contra o Benfica na Supertaça e, de certa forma, parece ser ele o menos afetado pela novela que gira à volta do seu nome, honra lhe seja feita. Mas há sinais para todos os gostos. Por um lado, ainda não saiu; mas, por outro, o facto de Keizer o ter posto a jogar em áreas que não são exatamente as suas parece ser uma preparação para a sua saída. Esta novela deixa-nos nervosos, por um lado, mas é compreensível, por outro.
Bruno só pode mesmo sair se as condições da sua saída forem plenamente satisfatórias. Que o Sporting precisa de dinheiro, não há dúvida; mas que não fará dinheiro sem jogadores de valia é, ainda, mais verdade. E por muito que seja difícil substituir o nosso n.º 8, precisamos que o dinheiro da sua venda nos permita ir ao mercado de talentos. Caso contrário, mais vale ficar com Bruno e contar com ele para a época toda, ou pelo menos até à janela de janeiro.
Com ou sem Bruno, a equipa precisa de garra, de uma atitude mais combativa. Isso parece-me óbvio, do mesmo modo que se torna demasiado evidente que toda a equipa joga a contar com Bruno, com o seu génio, a sua capacidade, o seu passe milimétrico. É normal, as equipas fazem isso com os seus líderes ou com os seus magos. Mas é preciso contrariar. Por muito mago, estrela e génio que se seja, o futebol é um desporto de equipa e não um jogo onde se espera que alguém resolva os problemas de todos. Por mim (mas não conheço quaisquer contornos de qualquer negócio nem a exata situação financeira), Bruno ficava e Keizer tinha de trabalhar o coletivo da equipa - contando com ele, mas não dependendo apenas dele.
No reino do leão
Omeu camarada e amigo Nuno Luz fez uma reportagem para a SIC que nos deu a conhecer de forma diferente e nova quem é o presidente do Sporting. Ontem, no mesmo dia em que a reportagem foi emitida, A BOLA desvendou partes desse trabalho que revelou facetas menos conhecidas de Frederico Varandas. Devo dizer, sobretudo para quem me ataca como defensor intransigente do presidente, que apenas o vi na noite em que venceu as eleições (8 de setembro do ano passado) e no jogo de futebol logo a seguir à sua vitória, quando os órgãos transitórios foram convidados pela nova Direção para a Tribuna do Estádio. De resto, convém não confundir a oposição frontal às violações sistemáticas dos estatutos da Direção anterior com qualquer apoio acrítico à atual Direção. Posto isto, devo dizer que me agradou a atitude do presidente do meu clube. Penso que esteve no ponto certo.
Demonstrou - como seria de esperar - conhecer os cantos à casa e ter empatia com os funcionários e atletas; salientou - e bem - a importância da Academia que tinha sido, de forma inacreditável - quase votada ao abandono; elogiou o mais querido funcionário do clube, o Paulinho; e revelou ter conversas e planos com Ronaldo (o que pode ou não ser importante, dependendo das conversas e dos planos). A propósito, Ronaldo esta semana foi a Madrid, depois da incrível derrota por 3-7 do Real face ao rival Atlético, e junto de Florentino Pérez, declarou-se pronto para jogar até aos 40. Assim, se as conversas com Ronaldo passam por este, ou o seu nome, ficar ligado ao clube, são mesmo bons planos a longo prazo.