De Istambul a Gondomar
1 Comecei a escrever este artigo na manhã da passada sexta-feira em Istambul. Olhando para o Bósforo e sentindo a vibrar a cidade que liga a Europa e a Ásia. Na história também é referenciada como Constantinopla e nela encontramos, entre outros, o Obelisco de Teodósio, a Cisterna de Basílica (ou Palácio Subterrâneo) ou a emblemática Mesquita Azul, um dos marcos na história otomana. E foi em Istambul que, na chuvosa e fria noite anterior, o Benfica fez história. Por duas razões. Desde logo pela primeira vitória frente a clubes turcos. Depois, por Bruno Lage ter apresentado o onze inicial mais jovem entre as quarenta equipas que entre terça e quinta-feira participaram nos dezasseis e nos oitavos de final da respetivamente Liga Europa e Liga dos Campeões. E estou certo que com os jogos da próxima semana nestas duas competições europeias - com as outras oito equipas da Liga dos Campeões - continuará a ser o onze mais jovem deste momento nas competições europeias. É uma grande notícia para o Benfica e, também, para o futebol português. A média de idades foi de 22,9 anos. E a seguir só Borussia Dortmund, Ajax e Dínamo Kiev. Com a particularidade deste clube ucraniano ter utilizado sete jogadores da sua formação e Benfica e Ajax seis. E, no polo contrário, deparamos, no que concerne ao onze inicial o Galatasaray, o Fenerbahçe, o Eintrach de Frankfurt, o Porto e o Inter de Milão com zero jogadores e o PSG, o Tottenham, a Lazio e o Nápoles, entre outros com apenas um jogador da respetiva formação. Constamos que os grandes e mais ricos clubes da Europa compram grandes nomes. Os clubes que, sendo grandes, estão em ligas periféricas se apostaram, em tempos próximos, em formação de qualidade estão a recolher os primeiros frutos de uma aposta consistente e estratégica. E acredito que esta aposta no Seixal e na sua Academia - em que importa salientar e cumprimentar a persistência, diria que por vezes a resiliência, de Luís Filipe Vieira! - permite que o Benfica, este Benfica, sem euforias e com efetivo realismo, possa sonhar, com plena legitimidade, num futuro sustentado e sustentável em termos de futuro próximo quer em termos internos quer em termos europeus. Ao recordar aquela espinha central no jogo da passada quinta-feira - Rúben Dias e Ferro, Florentino e Gedson, mais o João Félix e o Yuri Ribeiro - não deixei de enaltecer a coragem e a ousadia consciente de Bruno Lage - que esteve pouco tempo, mas com uma impressionante dignidade, no Sintrense quando estive a liderar o Município! - e de sublinhar estes miúdos coragem que não se perturbaram com o ambiente, bem turco, de um Estádio em que cinquenta e dois mil turcos tentaram condicionar a equipa adversário e a espanhola equipa de arbitragem e a quase abafar o apoio os aplausos o apoio de poucas centenas de portugueses (as), e entre eles e elas a simpática e eficiente tripulação da TAP que nos transportou de Lisboa a Istambul. Foi mesmo, em termos de futebol, um grande manjar. Depois de uma longa visita ao singular e único Grande Bazar. Bazar e manjar foram duas notas relevantes nesta visita do surpreendente jovem Benfica a Istambul. Com a esperança que na próxima quinta-feira, com a mesma sabedoria e sem nenhuma euforia, conquistemos, com todo o mérito desportivo, a passagem aos oitavos de final desta Liga Europa. Para já, e com este onze de Istambul, a Europa do futebol fixou, uma vez mais, os olhos no Benfica e, logo, no futebol português. O que implica o reconhecimento deste papel de verdadeiro embaixador do Benfica. Mesmo que tenha recebido, com um efetivo sentido de oportunidade a notícia da interdição do Estádio da Luz por quatro jogos na véspera deste jogo em Istambul. O sentido de oportunidade tem de ser entendido com efetiva comiseração. E, logo, as cautelas que surgem e são solicitadas e, também, as calmas sugestões de alguns intervenientes que evidenciam uma estratégia de não confronto que só alguns distraídos não percebem ou porventura, não querem entender! Mas o essencial é que, amanhã, o Benfica, com o colinho dos seus milhares de adeptos, ultrapasse o Aves - agora liderado pelo sagaz Augusto Inácio - e continue a motivar todo a sua imensa massa associativa. Sabendo todos nós que a combinação entre a juventude e a sabedoria dos mais velhos - ou diria menos jovens! - é mais do que meio caminho andado para ambicionada reconquista. Mas como escreveu o escritor espanhol Francisco Quevedo «o que se aprende na juventude dura a vida inteira». E este jogo de Istambul para estes jovens jogadores vai durar a vida inteira! Como a acrescento para nós! Do Bazar ao manjar no Estádio!
2 Gostaria de fazer uma anotação ao acórdão de 12 de Fevereiro de 2019 proferido pelo Pleno da Secção Profissional do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol e que impôs a sanção disciplinar de interdição do Estádio da Luz por quatro jogos e a sanção pecuniária de 28.888 Euros. Sei que uma competente - competente e com grandes capacidades e sagacidade jurídicas - equipa de juristas apresentará uma providência cautelar de suspensão da eficácia de ato e não deixará de suscitar interessantes questões jurídicas, incluindo, digo-o, questões de não conformidade constitucional de normas - por exemplo do artigo 24º.- da Lei 39/2009 na redação que lhe foi dada pela Lei 52/2013 de 25 de Julho. Fica prometida para um próximo artigo com a certeza que haverá tempo para descortinar da bondade dos argumentos que constam de um longo acórdão e de algumas pertinentes questões jurídicas nele ou abordadas ou outras, decerto por opção, não afloradas ou, até, suscitadas. Mas como escreveu George Sand «a recordação é o perfume da alma»! E nós no que concerne a recordações, incluindo jurídicas, já temos algumas … Que cada vez podem ficar mais tempo escondidas!
3 Duas notas finais. A primeira para sublinhar a goleada do Nacional ao Feirense. Não gostei nada, mesmo nada, de insinuações suscitadas a respeito do profissionalismo dos jogadores do Nacional. Cada um de nós já teve dias infelizes. Muito infelizes. Diria, assim, e acompanhando o grande Virgílio Ferreira que importa, por vezes, fechar «os olhos para não seres cego». A segunda para sublinhar a final do Europeu de futsal feminino que decorrerá no final do dia de hoje no esgotado e atrativo Pavilhão Multiúsos de Gondomar. Tal como há quase um ano - foi a 10 de Fevereiro de 2108 - poderemos conquistar este Europeu. Voltamos a defrontar a Espanha e seria mais um grande momento da nossa Federação, do seu Presidente e de uma estrutura competente e eficiente. E um momento histórico para um grupo de jovens jogadores - como Janice Silva e Inês Fernandes, Ana Catarino e Pisko, Carla Vanessa e Jenny, entre outras e de entre elas, e com os seus risonhos 18 anos, a benfiquista Fifó! Também, aqui, se sente que «a mocidade é temerária». Mas há certa qualidade e há muito talento. E também intensa vontade e verdadeira fé. E «onde há vontade forte não pode haver grandes dificuldades».