De corações
O Subasic sai sempre com mais coração dos dramas que lhe atacam a vida. Foi assim quando no NK Zadar (com Modric à sua beira) tinha de fugir de bombas e granadas que lhe atormentavam os treinos - ou das minas enterradas, traiçoeiras, a caminho do estádio.
Foi assim quando o pai da Antonije, a namorada que lhe vinha da escola, se transformou, bêbado, num demónio - com a Jugoslávia já desfeita pela guerra civil, Ante Boca, que lutara pelos independentistas croatas, passara meses e anos a avisar a filha de que a mataria se ela se atrevesse ao que, para ele, ia para além de um sacrilégio: «Casar com porco sangue de sérvio!» Nascido em Zadar (na Croácia), Danijel Subasic era filho de um sérvio e de uma croata - e, nesse dia, em que Ante entrou em casa, bêbado, num demónio, correu à cozinha, pegou num facalhão, abalroou a mulher que tentara travá-lo da loucura - e só por milagre não degolou Antonije. Passou vários dias hospitalizada - e da clínica Danijel levou-a para casa dos seus pais. Casaram-se de seguida, ao sogro atiraram-no, claro, para a prisão.
Foi assim (ainda) quando, meses depois, em março de 2008, num jogo contra o HNK Cibalia Vinkovci, bola chutada com violência estoirou na cara de Hrovje Custic e ele caiu desamparado sobre o muro da publicidade. O traumatismo craniano matou-o cinco dias após - no funeral Subasic prometeu-lhe: «Vais jogar comigo no Campeonato do Mundo.» No desafio seguinte, todos os jogadores do NK Zadar levaram camisola com a foto de Custic debaixo da camisola do equipamento - e Subacic jurou-lhe: «Vou usar essa camisola por ti até ao fim da minha vida». (É o que tem feito.) Com Custic ao peito defendeu três penalties do desempate com a Dinamarca, a chorar o disse: «É o meu anjo lá em cima e não deixa de me ajudar cá em baixo». (Fez mais, depois.) E, hoje, contra a França, o Suba e o Hrovje podem contar com o meu coração a jogar por eles (mesmo que, com isso, o Modric possa tirar dos pés de Cristiano Ronaldo a Bola de Ouro).