Da saída de Bruno Lage
BRUNO LAGE já não é treinador do Benfica. Era, assumamos, uma saída anunciada. Não há, pelo menos em Portugal, treinador, seja ele quem for, capaz de resistir a uma série tão negativa - duas vitórias, seis empates e cinco derrotas em 13 jogos... -, treine a equipa que treinar. Muito menos quando treina uma equipa como o Benfica. Pouco importa se há pouco mais de um ano Lage conseguiu recuperar de uma desvantagem de sete pontos para o FC Porto e conseguiu um título que muitos já davam como perdido. Ou se contribuiu (e não pouco) para a entrada de €120 milhões nos cofres da SAD com a venda de João Félix. O futebol, todos o sabemos, é o momento. O passado é passado. E o que fica no presente são os sete pontos de avanço perdidos para o FC Porto desde o início da segunda volta, as oportunidades desperdiçadas de recuperar o primeiro lugar já depois da retoma e os seis pontos de atraso para o líder que tornam a conquista do título numa impossibilidade - não matemática, mas evidente. Olhando para a questão com a frieza necessária, a saída de Bruno Lage era inevitável. Nada a dizer. É futebol.
O que não era, de forma alguma, inevitável foi o modo como se processou a saída de um treinador a que os benfiquistas, Luís Filipe Vieira à cabeça, deviam estar agradecidos. Não quer, claro, isto dizer que devia o presidente do Benfica, só porque Lage lhe ganhou há um ano um campeonato em que nem ele próprio devia acreditar, segurá-lo para sempre como forma de agradecimento. Nada disso. A hora de partir chega a todos os treinadores, ganhem muitos ou poucos títulos. E a hora de Bruno Lage partir do Benfica, repito, tinha chegado. Mas merecia ter saído de outra forma. De uma forma, digamos assim, mais digna. Foi inacreditável, e tremendamente injusto, o modo como o presidente do Benfica tratou da questão na última semana. Não merecia Bruno Lage, independentemente da frustração causada pelos resultados dos últimos meses, ser abandonado à sua sorte, tendo de enfrentar, sem qualquer tipo de apoio ou desmentido, as notícias que davam conta de que Vieira estava em contacto com vários treinadores para o substituírem. Não para a próxima época, mas para assumir já! O silêncio do presidente, e da máquina de comunicação encarnada, deve ter parecido a Lage como o som das metralhadoras de um pelotão de fuzilamento.
Não sei (e poucos saberão exatamente) o que se passou entre Vieira e Lage nas últimas semanas. É, por isso, difícil encontrar uma explicação para um comportamento muito pouco habitual no presidente encarnado sempre que teve de lidar com a saída de um treinador. Talvez Luís Filipe Vieira quisesse que Bruno Lage tomasse a iniciativa de bater com a porta. É, de facto, a única explicação que faz algum sentido, ainda para mais sabendo, como contou A BOLA, que a conversa entre presidente e treinador após a derrota nos Barreiros não foi, exatamente, como Vieira a contou na sala de imprensa quando deu conta do pedido de demissão de Lage. Não sei se Vieira ouviu mesmo Lage dizer-lhe que «ninguém o queria no Benfica», mas, convenhamos, tinha o treinador razões para afirmá-lo. Porque - e Lage sentiu-o de certeza - mesmo no Benfica já ninguém o queria lá. Presidente incluído!
A estratégia - se é que houve, de facto, uma estratégia para poupar alguns milhões... - pode até ter funcionado. É verdade que Lage não bateu com a porta, foi empurrado, mas é provável que o acordo de rescisão se mostre vantajoso para o Benfica, caso Lage encontre clube depressa - pague-lhe ou não os dois milhões/ano que ganhava na Luz, as águias sempre pouparão algum. Mas, mesmo que isso aconteça, e deve acontecer, porque Lage não ficará três meses parado, é seguro dizer que Vieira sai mal da fotografia. Porque sendo a saída de Lage inevitável, a humilhação não o era...