Da rudeza como personalidade
A importância às vezes maior, e até mais audível, das coisas que ficam por dizer
ADMITINDO abordar um tema a respeito do qual não sou especialista - outra vez... -, parece-me, com sinceridade, que aquilo que a chamam personalidade forte não passa, na esmagadora maioria dos casos, de evidente falta de educação.
Claro que o argumento em defesa é fácil de entender, como aquele que usam treinadores e dirigentes sempre que, a torto e a direito, entram em discussões com jornalistas, com treinadores, com árbitros ou com outros dirigentes; não fica nada por dizer, o direito à indignação, não ser totó como os outros que comem e calam e essas coisas que tais...
Mal comparado, fazem lembrar a cabeleireira que conta a história do que disse à vizinha de cima quando esta, sei lá, a lavar a varanda deixou pingar água suja para o vaso pendurado no parapeito: «Fui logo lá acima e disse-lhe tudo! Comigo já sabem que é assim! Eu não deixo nada por dizer.»
Mas não só vizinhas e cabeleireiras - com todo o respeito -, pois há uma frase de Mike Tyson que se encaixa também: «Toda a gente tem um plano, até que leva um murro na cara!»
São as agressividades das pessoas com personalidade, ao que parece.
Ora, para gente como eu, que deixa tanta coisa por dizer, isto dá que pensar. Há tantas coisas que eu acho que deveria dizer e não digo, ora porque me parece que podem magoar os outros, ora porque me parecem capazes de fazer mais mal do que bem, que dou por mim a perguntar se isso não fará de mim alguém sem um pingo de personalidade. Se calhar faz, lá está, eu avisei que não era especialista. Só acho, com franqueza, que anda muita gente por aí (e Sérgio Conceição é apenas um deles, não é o único) que deveria ter um bocadinho menos de personalidade.