Da falta de união e outras coisas mais…

OPINIÃO27.01.202003:00

Menos de um mês depois de ter sido comparado, por Pinto da Costa, a José Maria Pedroto, Sérgio Conceição insurgiu-se contra a falta de união dentro do FC Porto e pôs o lugar à disposição do presidente. Pela frontalidade com que assumiu o que o clube, por canais oficiais, oficiosos e similares, sempre negou, o gesto de Conceição foi pedrotiano.

Mas o Zé do Boné sempre soube - e na crise do verão quente em parceria com o então chefe do departamento de futebol, Pinto da Costa - tirar consequências das suas ações e, dessa vez, mudou-se para Guimarães onde, sob a presidência de Pimenta Machado e com o apoio de Pinto da Costa, fez uma travessia do deserto que precedeu o regresso, dois anos depois, às Antas, já com o sucessor de Américo Sá no poder. E que consequências serão tiradas das afirmações de Sérgio Conceição? Ou seja, qual a fórmula mágica que vai restaurar a união no universo do Dragão? A resposta simplista será sempre, «os resultados positivos, uma vitória sobre o Benfica e tudo retornará aos eixos.»

Porém, no ocaso da liderança de Pinto da Costa, a questão é bem mais vasta e complexa, tem a ver com a força e influência que alguns setores, nomeadamente os Super Dragões, ganharam no clube, sem esquecer a complicada teia de influências tecida na órbita presidencial, nem os putativos pré-candidatos à sucessão que, a cada vela mais que Pinto da Costa coloca no bolo de aniversário, procuram a melhor colocação para o dia em que se iniciar essa corrida.

Afinal de contas, depois de tudo o que se viu, Sérgio Conceição veio dizer apenas o óbvio.

A pergunta que os portistas mais devem querer ver respondida é esta: Pinto da Costa, que já não exerce a liderança com o impacto, interno e externo, de outros tempos, tem condições para promover a unidade reclamada por Sérgio?

A verdade é que o FC Porto, subjugado pelo despesismo estéril de um passado ainda recente e espartilhado pelo fair play financeiro da UEFA, não possui um plantel tão forte como noutros tempos, e depois do cataclismo Krasnodar ver-se-á obrigado a prescindir de mais alguns anéis (e não são muitos...) para salvar os dedos. Percebe-se, desta forma, que o que Sérgio Conceição gritou ao mundo foi mais do que um mero desabafo, depois de uma derrota.