Da angústia e algumas certezas
Dizem que o futebol é presente. Que a vitória de hoje apaga a memória da derrota de ontem, que não há glória passada que atenue a dor de um desaire.
Será assim para os outros, não para mim. Eu vivo permanentemente num angustiado futuro. Não há glória passada que me descanse, não há vitória que me distenda para o próximo jogo.
Claro que celebrei a nossa vitória na Supertaça, a vigésima primeira em quarenta edições, e fiquei muito contente com a belíssima exibição que fizemos na primeira jornada do campeonato. Foi bom ter percebido que o Aboubakar está de regresso à boa forma, que o Brahimi fez um daqueles jogos que nos lembra de que apenas lhe falta um bocado de consistência para ser dos melhores jogadores do mundo, que o Maxi é um dos profissionais mais sérios que jamais vi jogar pelo FC Porto, que o André Pereira está a confirmar tudo o que tenho dito sobre ele, que o Diogo Leite tem personalidade e classe, que o Corona e, principalmente, o Otávio prometem finalmente mostrar todo o talento que têm e que dá um gozo muito especial ver o conto de fadas que tem o miúdo Marius (faz-me lembrar o Jardel nos defeitos e rezo para que tenha as mesmas qualidades) como protagonista. Mas o mais importante foi termos mostrado que a equipa está com a atitude de conquista da época passada. Mais, gostei muito mesmo de ver que a equipa consegue ter um futebol mais apoiado, feito de triangulações e não está dependente de um jogo mais físico e vertical.
O problema é que, enquanto escrevo, caem as notícias: «Alex Telles prestes a sair», «Brahimi não se treinou», «Herrera muito pretendido». Ou seja, à angústia costumeira soma-se este crime contra o futebol, contra o bom senso, contra toda a lógica que é só sabermos quais são os plantéis com que o treinador conta depois de quatro jornadas do campeonato jogadas.
Por esta altura, já devíamos saber exatamente com o que contamos. Podia estar a reclamar sobre a não vinda dos meus tão reclamados extremo, médio transportador e defesa-esquerdo ou a felicitar a Direção por os ter trazido. Talvez estivesse a chorar a partida de algum, ou alguns, dos melhores jogadores do plantel e a escrever pela enésima vez que o Gomes, o Deco, o Jardel, o Hulk e tantos, tantos outros fabulosos futebolistas também saíram e o brasão abençoado não deixou de se cobrir de glória sem eles.
Tinha até muito preparadinho um relambório sobre alguns «nice problems», como dizia o grande Bobby Robson, que o Sérgio teria com a chegada do Militão face às boas prestações do Maxi e do Diogo (não me parece de todo possível que qualquer um dos dois saia da equipa titular) ou dos que terá, na definição do meio-campo, com o regresso do Danilo e do Marega. O facto é que daqui a duas semanas nada do que pudesse ter escrito teria validade.
Há, no entanto, um conjunto de convicções minhas que posso afirmar agora, que já aqui afirmei e afirmarei sempre.
Em primeiro lugar, é aos dirigentes que cabe contratar os jogadores - obviamente com a colaboração da equipa técnica - segundo os interesses presentes e, sobretudo, futuros do clube. Não gostaria de ver repetido o erro - recente mas que alguns de nós parecem estar esquecidos - de entregar a um profissional, que naturalmente irá mais cedo ou mais tarde para outras paragens, o futuro. Os treinadores e os jogadores passam, o clube fica.
Em segundo, a equipa técnica tem a tarefa de gerir os recursos que lhe são postos à disposição e de os potenciar o melhor que conseguirem - não percebo a celeuma quando o presidente Pinto da Costa disse mais ou menos isto. É absolutamente normal e mesmo aconselhável que queiram sempre mais e melhor.
Em terceiro, é aos sócios que são deixados os direitos e deveres de julgar quem pensam ser os principais responsáveis pelas vitórias e pelas derrotas.
Entretanto, vou roendo as unhas até ao sabugo, abro os sites desportivos vezes sem conta ao dia, espero que o dia 31 chegue rapidamente e faço promessas a Nossa Senhora da Vandoma para que deixe o meu grande amor com os seus mais preciosos anéis e que lhe acrescente outros. As mãos ficam sempre e, com mais ou menos anéis, é com elas que temos de manter coberto o brasão abençoado de glória.
O Adrián Lopez
e o ‘mister’
Nunca é demais elogiar o imenso talento do Sérgio Conceição, nem nunca agradeceremos o suficiente aos deuses do Olimpo a sua vinda para o FC Porto.
Da máquina trituradora em que ele transformou a equipa, da sua versatilidade tática, da capacidade de pôr a equipa a jogar em diferentes modelos, já foi quase tudo dito. Destaco, porém, a sua impressionante capacidade de levar os jogadores a dar o que têm e o que não têm.
Não é que já não o tenha feito e não será preciso dar exemplos, mas se o Sérgio Conceição conseguir que o Adrián Lopez faça uma boa época no FC Porto, acho que o milagre bíblico do Lázaro passa a ser uma coisa menor.
Eis o FC Porto e a homenagem a ‘Os Belenenses’
Aminha tristeza por não poder ir ver amanhã o FC Porto jogar contra uma empresa é largamente compensada pela alegria de saber que o meu muito amado clube vai, como sempre, homenagear o Clube de Futebol Os Belenenses e um dos seus símbolos ao Estádio do Restelo.
As grandes instituições são assim: conscientes das suas tradições e respeitadoras da história dos seus adversários.
Faltam-me as palavras para descrever o orgulho que tenho com esta atitude do meu clube. É por estas e por outras que tantas vezes repito que o que faz um clube é muitíssimo mais que vitórias e títulos.
O pouco misterioso fenómeno
da manutenção do preço
da SportTV
ASportTV, numa autopromoção, dizia ser um dos melhores canais dedicados ao desporto no mundo. Em função disso acertou, com certeza, o preço a cobrar aos seus clientes. Como, então, justificar que perdendo os direitos de transmissão da segunda melhor liga nacional de futebol do mundo e a mais importante competição internacional de clubes mantenha o mesmo preço? A resposta é simples: porque tem como seus acionistas a MEO, a NOS e a Vodafone.
Em qualquer mercado minimamente concorrencial, o preço que a SportTV cobra aos subscritores seria ajustado em função da redução da qualidade da oferta. Se não o fizesse por sua iniciativa, seriam os principais distribuidores a forçar a empresa a baixar o preço. Mas sendo essas três empresas acionistas da SportTV não o fazem. Ou seja, as distribuidoras preferem desprezar o interesse dos seus clientes, diminuindo o nível de satisfação, em função dos lucros de uma empresa em que são acionistas.
No mínimo dos mínimos, a manutenção do preço da SportTV configura uma situação de abuso de posição dominante. Mas, claro, parte de uma anomalia clara no funcionamento do mercado: o facto das três operadoras, que têm praticamente o mercado todo, serem distribuidoras e produtoras de um conteúdo tão importante.
Que fazem as autoridades responsáveis pela regulação do mercado, as que deveriam proteger os consumidores? Nada, ou seja, o costume.