Currículos à prova de bala

OPINIÃO11.11.201803:00

TER currículo é o quê? Ter títulos ou ter, por exemplo, passado suficientemente profundo. Porém, seja qual for o ângulo com que olhemos para o holandês Marcel Keizer, não vemos currículo. Títulos: zero. Passado suficientemente profundo: zero. É, pois, aposta de alto risco. O Sporting teve, nos últimos 25 anos, sete treinadores estrangeiros: Bobby Robson, Robert Waseige, Vicente Cantatore, Mirko Jozic, Giuseppe Materazzi, Laszlo Boloni e Frankie Vercauteren. Nenhum deles tinha currículo à prova de bala, mas, todos tinham um passado. Keizer, não. Tem 27 jogos pelo Ajax. E ponto final.

MAS será verdadeiramete decisivo ter currículo à prova de bala? Ou ter passado robusto? Aqui ficam alguns exemplos de treinadores com títulos ganhos antes de ingressarem no Sporting e que, em Alvalade, nada ganharam: Fernando Riera, Jimmy Hagan, Milorad Pavic, Jozef Venglos, John Toshack, Keith Burkinshaw e Pedro Rocha.


VEJAMOS as coisas de novo ao contrário. Algum treinador, nos últimos 50 anos, foi campeão em Portugal com currículo relativamente parecido com o de Keizer? Sim, vários. Mário Lino (Sporting-1974),  Artur Jorge (FC Porto-1985), Toni (Benfica-1989), António Oliveira (FC Porto-1997), Fernando Santos (FC Porto-1999), Augusto Inácio (Sporting-2000), Jaime Pacheco (Boavista-2001), José Mourinho (FC Porto-2003), Jorge Jesus (Benfica-2010), André Villas Boas (FC Porto-2011), Vítor Pereira (FC Porto-2012), Rui Vitória (Benfica-2016) e Sérgio Conceição (FC Porto-2018). Excluindo Oliveira (Supertaça-1982) e Vitória (Taça de Portugal-2013), nenhum tinha títulos quando chegou. A diferença é que são portugueses. E conheciam o futebol português de ponta a ponta.


Atroca de José Peseiro por Marcel Keizer é corajosa. Mas também arriscada. Se o Sporting bater hoje o Chaves, o holandês entrará em Alvalade com a equipa no segundo lugar e a apenas dois pontos da liderança. Ou seja, perfeitamente por dentro da corrida pelo título. Até à receção do FC Porto, na primeira quinzena de janeiro de 2019, o calendário dos leões não é de assustar: Rio Ave (f), Aves (c), Nacional (c), V. Guimarães (f), Belenenses (c) e Tondela (f). Tudo o que não seja somar 16/18 pontos nestes seis jogos será um fracasso, atendendo à súbita mudança de treinador. Peseiro deixou o Sporting na 5.ª posição e a dois pontos da liderança e Tiago Fernandes pode entregar a equipa no 2.º lugar e a dois pontos do primeiro. Para quem não tem currículo à prova de bala, é um desafio (no minímo) interessante para Keizer.