Corridas de cães

OPINIÃO23.11.201903:00

O hotel onde estou para esta cobertura da chegada de Mourinho ao Tottenham fica em Whaltamstow, muito a norte na cidade, e quando cheguei, anteontem, vi a fachada iluminada, em néones, do Whaltamstow Stadium, com um enorme galgo preto em aceleração, o que me despertou atenção. Há coisas que têm de ser vistas. Não aconteceu, porém. Aliás, não por falta de corrida que coincidisse com a minha estada, mas por falta de estádio, porque o que lá está é, notei ao aproximar-se, só a fachada. Fechou em 2008 e o interior foi substituído por outras construções. As vezes em que corri atrás do meu cão, há muitos anos, talvez tenham sido as únicas corridas destas que verei. Irei conformar-me.


As corridas de animais, cavalos e cães, sobretudo, beneficiam aqui de tradições raras em contexto europeu, porque estão ligadas a outro hábito britânico: as apostas desportivas. Até o símbolo do Tottenham tem um galo com esporas, porque alude a lutas de galos que se faziam na zona. Mas há mais em relação a este estádio de Whaltamstow, descobri entretanto em conversas: foi aqui que David Beckham teve o primeiro trabalho. A estrela inglesa nasceu pertíssimo e teve os primeiros salários, ainda adolescente, a apanhar objetos caídos na pista.  


No que toca à cultura desportiva, note-se, é com estes contactos que se percebe como as coisas são desiguais em Inglaterra. Mais do que o estilo do jogo, o ambiente dos estádios ou as escassas polémicas de arbitragem, coisas que nem sempre são assim tão diferenciadoras de outros países, a cultura desportiva de um país mede-se pela variedade mais do que pelo comportamento. Ou, no limite, em igual medida. Em Inglaterra, sempre houve grandes estádios de muita coisa.