Convém gerir apenas o que já se adquiriu
Diz-se que o treinador do Sporting decidiu não levar alguns pesos pesados para esta tarde defrontarem o LASK, na cidade austríaca de Linz. Poderia ser uma forma de gerir o desgaste da equipa, evitar lesões (o que Silas referiu) e dar oportunidade a novos num jogo internacional em que o Sporting nem precisa de ganhar para atingir o seu objetivo essencial. Isso permitiria chegar com maior pujança aos Açores, para no domingo defrontar o Santa Clara. Em teoria tudo isto é certo, como é objetivo que, desde 28 de novembro, quando derrotou por 4-0 o PSV em Alvalade, o Sporting já disputou mais três jogos e tem o desta noite e o de domingo pela frente. Ou seja, seis jogos em 17 dias com uma equipa que não tem substitutos à altura, talvez na maioria dos lugares.
Acontece, porém, que por motivos diversos, entre os quais os que andam a ser dirimidos no Tribunal de Monsanto, o Sporting precisa de ganhar, acima de tudo precisa de vencer os jogos e com essas vitórias construir a confiança que obviamente lhe falta. Vejamos a série depois da inacreditável eliminação da Taça de Portugal, de que é o detentor, em Alverca. Os três jogos seguintes venceu-os: Rosenborg, Guimarães e Paços de Ferreira (este a jogar fora). Se o jogo com o Guimarães parecia dar boas indicações, o do Paços de Ferreira foi uma aflição. Mas, enfim, tinha ganho. Seguiu-se uma deslocação a Tondela, onde perdeu. Foi à Noruega e venceu de novo o Rosenborg por 2-0; em casa derrotou também por 2-0 o Belenenses (jogo pior do que o resultado) e o PSV Eindhoven por inimagináveis 4-0 (embora os números não traduzam, igualmente, a realidade da partida). Seria agora? Três vitórias seguidas, com números claros, apesar das exibições? Não! Foi perder a Barcelos e por 3-1, para dias depois, na mesma cidade, contra o mesmo clube e no mesmo campo, ganhar 2-0, agora para a Taça da Liga. Finalmente, domingo passado, venceu 1-0 o Moreirense, talvez numa das melhores exibições (com um golo espetacular de Luiz Phellype), que se traduziu, não obstante, pelo mais magro resultado
A terapia da vitória
As vitórias, como sabem todos os atletas, são altamente terapêuticas para equipas em crise de confiança. Por isso vencer hoje o LASK não é apenas uma bizarria, para quem pode empatar e com isso ficar, à mesma, com o primeiro lugar do grupo. É terapêutico. Queiram os deuses que ganhemos, apesar da ausência de Bruno Fernandes (castigado por culpa própria, porque o capitão e «intocável» jogador do Sporting não pode passar os jogos a refilar e a tentar fazer tudo sozinho, mesmo quando tem razão). Também apesar da ausência de Mathieu, que ainda no domingo mostrou o que vale, como é esteio da defesa e pode, ao mesmo tempo, enviar uma bola teleguiada para a cabeça de Luiz Phellype, que para mais nem se distingue pela sua finalização de cabeça. Se Mathieu se entende, devido à sua idade e risco de lesão, o jovem Vietto, que tem vindo a subir de forma, só mesmo o risco de lesão pode justificar a ausência. Em todo o mundo em que o futebol tem a importância que entre nós tem, os jogadores fazem médias de dois jogos por semana. Só por cá vejo tanta gente a lamentar-se de sobrecargas. Resta-me lamentar, e muito, a lesão grave de Luís Neto, que penso ser bastante mais consistente do que Ilori, digam o que disseram sobre a velocidade deste último. Neto, enquanto jogou contra o Moreirense mostrou o que vale e o motivo de ser um internacional A português.
Veremos como o treinador monta esta equipa, sem Bruno, sem Vietto, que terá vindo para colmatar uma possível saída do capitão, com uma linha defensiva que se adivinha ser Coates e Ilori ao centro, com a boa notícia de Acuña jogar (Onde? Mais atrás, no meio-campo?) e com um ataque para onde pode contar com Pedro Mendes (irrita sempre a lembrança de que não foi inscrito para a nossa Liga), Luiz Phellype e Jesé (o qual já se viu ter jeito de pés, mas pouco mais).
O certo é que um empate que seja, acaso não resulte de uma exibição com nível, deixa-nos mais vulneráveis para o jogo dos Açores do que o descanso de alguns jogadores. É certo que é necessário gerir a equipa. Mas convém, em primeiro lugar, ter uma equipa. Com cada qual a saber o seu lugar e o seu papel; não um amontoado de jogadores, uns vulgares, uns melhorezinhos, três acima da média e um genial - com todos a jogar para este último. Ora, por enquanto, 13 pontos atrás do Benfica e ainda em quarto lugar, com menos um do que o Famalicão, é o que temos. Daí que pense que a melhor gestão é a que nos permite vencer, vencer, vencer, até os níveis de confiança voltarem ao desejável e que o Sporting merece. E até que a desgraça de Monsanto termine e o mercado de inverno abra e possamos corrigir aqui e ali lacunas importantes no plantel.
O terror
Esta semana, quando começaram a ser ouvidos os jogadores presentes em Alcochete aquando do ataque terrorista, percebeu-se melhor o crime cometido contra o Sporting e os seus jogadores e treinador (que, entretanto, foi considerado o melhor treinador do Brasileirão).
Percebeu-se que havia jogadores marcados para serem fustigados, castigados pelo bando de energúmenos que por ali entrou. Percebeu-se que sportinguismo que aquela gente diz sentir, não é mais do que uma hipócrita forma de estar na vida e sentir o poder de determinar quem é e quem não é do clube, quem deve e não deve ser, quem é digno de uma camisola e não é. Percebeu-se que não respeitam ninguém. Nem mesmo quem tem idade para ser seu pai como, para o caso da maioria ou talvez de todos, seja Jorge Jesus ou Manuel Fernandes; percebeu-se que têm de ser afastados do Sporting e do desporto em geral. Que devem cumprir pena pelos danos objetivos e morais que provocaram. Percebeu-se que os nossos jogadores tiveram todo este tempo medo, pânico, suores, pesadelos.
No verão de 2018 fiz parte da Comissão de Fiscalização que em boa hora concordou unanimemente em suspender até ao desfecho do julgamento todos os envolvidos a fim de expulsar os culpados (além de expulsar dirigentes que de um modo ou outro criaram as condições para aquela ação). Nessa altura percebi bem que para os jogadores - quase todos os que rescindiram e mesmo alguns que ainda estavam no clube - era decisivo que Bruno de Carvalho e a sua equipa não voltasse. Por isso aqui escrevi a semana passada que o julgamento de Monsanto afeta, ainda hoje, o rendimento da equipa, mesmo de jogadores que à época não eram do Sporting. Porque, hoje, sabem o que se passou e de que forma se passou; que houve jogadores a mandar as famílias para longe, a contratar seguranças privados. Sim; não foi uma «chatice» como disse o então presidente do Sporting que agora se arma em vítima. Foi um autêntico ataque visando o controlo absoluto do clube («aconteça o que acontecer, estão comigo?», perguntou ele), um ato digno de um rei enlouquecido, como surgem nas peças de teatro de Shakespeare, embriagados pelo poder que têm.
Agora percebe-se melhor e espero que no fim das sessões se perceba ainda melhor e que o Sporting possa, finalmente, ter tranquilidade.