Construir o futuro
Não basta levantar a mão na votação, é preciso pensar no que temos de fazer para melhorar o caminho do desenvolvimento
Ofuturo constrói-se dia a dia, com herança do passado e visão do futuro. Para isso, é imprescindível analisar os factos, entender as tendências, gerir as novas tecnologias e essencialmente defender o futebol. Manter um estudo atento permite investigações úteis, unir partilhas e criar rumos, evitando fases que têm de corrigir-se para evitar regressões. A saída de um árbitro do quadro competitivo, por atingir limite de idade, deve ser aproveitada desde que traga competência para o futebol, caso contrário poderá ser um golo na própria baliza, por decisões que vão alimentar a controvérsia que sempre o acompanhou, permitindo antever um futuro pior. É preciso devolver o jogo ao futebol. Quando se valoriza demasiado o poder do centralismo é obrigatório pensar em alternativas. Aperfeiçoando a legislação, há tempo para unir e motivar personalidades com independência reconhecida, que sabem colocar o futebol acima do clubismo e dignificar o desportivismo. Temos jogadores e treinadores fantásticos, assim como dirigentes, dos mais anónimos aos mais divulgados, muitos com obra notável, embora desconhecida a nível nacional. O universo do futebol tem de se movimentar, de erradicar abusos criando diálogos, evitando erros infelizes e recolocar os órgãos federativos com rigor sereno. O jogo real acontece dentro das quatro linhas e fora delas nunca se deveriam decidir os títulos, com falhas graves de arbitragem, castigos a uns e absolvição para outros, coincidências, incertezas de gestão do tempo para pressionar, criar desigualdade de tratamento (recordam-se do 5.º cartão amarelo sem castigo?!), sem sanções para todos os que erram com a gravidade que nos desprestigia internacionalmente (terá sido por isso que nenhum árbitro nacional foi escolhido para o Mundial do Catar?).
Uma das grandes tarefas que o futebol português precisa é de diálogo transparente, de concorrência eleitoral e surgimento de listas, com personalidades de prestígio e vasto conhecimento. Adaptar o regime eleitoral à evolução da sociedade é um sinal dos tempos para o progresso, fomentando oportunidades de várias candidaturas, para que vença a que melhor serve o nosso futebol. Sem concorrência, quer por limite de mandatos ou por influência de lóbis (nacionais ou internacionais), nunca pode ser impedida a liberdade para unir e para construir evolução constante. Se há exemplos que deixam boas pistas, há que analisar, aprofundar e aproveitar, em função das nossas realidades e possibilidades. Aproxima-se mais um momento eleitoral (em 2024 fecha-se o ciclo presidencial de Fernando Gomes: o tempo voa…). É comum ouvir-se que há demasiada dependência dos elementos da Assembleia Geral da FPF e que as escolhas das presidências e respetivos membros dos diversos órgãos carecem de público reconhecimento de isenção. Nessa área há muito a mudar e para garantir a imparcialidade e equidade, sem que as camisolas de uns pesem mais do que as dos outros. O processo eleitoral tem de ter tempo suficiente e métodos que orgulhem a frontalidade e a coerência. O futuro já não se conquista com estratégias ancestrais que se prolongavam, eventualmente para assegurar por antecipação a vitória sem surpresas. Esse tempo ficou fora de prazo. Hoje, as realidades de gestão são muito diversas e num negócio que envolve muitos milhões o rigor e a clareza das decisões são imprescindíveis, sem processos que deixem dúvidas e dependências; já não há espaço temporal, nem tolerância, para manter ou regressar a comportamentos que dividem para reinar, para manter cargos e situações que não devem continuar. As contas são auditadas e publicadas, assim como deveriam ser publicitados os respetivos relatórios de cada órgão, para se poder analisar os seus desempenhos. Num universo que tem no topo uma atividade muito profissionalizada não pode haver situações de pouca nitidez, com guardas pretorianas a tentar travar as mudanças necessárias e irreversíveis. Têm a palavra os dirigentes e os clubes, assim como as entidades que integrarem a próxima Assembleia Geral da FPF. Não basta levantar a mão na votação, é preciso pensar no que temos de fazer para melhorar o caminho do desenvolvimento sustentado. Os apoios dependem da pertinência da ação e não de hábitos ou lealdades. O futebol português tem tudo para vencer e convencer, cada jogo tem de ser um espaço de talento mas também de verdade, de imprevisibilidade e de mérito. Manter o clima de guerrilha contínua entre as mais altas instituições do nosso futebol, como se o jogo tivesse donos, é uma afronta a todos os clubes, dos distritais aos nacionais. Há tempo para mudar. Basta querer e dar os passos em frente, com dedicação, idoneidade, valorizando o jogo e tornando-o um património que nos orgulha e nunca um território de intriga, de suspeição, de absolutismo. Para acabar com isso temos as eleições. Quem entender que o futebol precisa de mudar, e muito, mobilize-se para conseguir sempre uma entidade prestigiada e não para prestigiar pessoas e controlar rumos. As eleições vencem-se também com a razão e a transparência. Antes dessas eleições, divulgar obra feita para que a instituição tenha paredes de vidro e todos possam conhecer o caminho a percorrer. No desporto vence quem consegue revelar-se melhor e não apenas os que são muito mediatizados, que promovem a sua imagem na comunicação social. E para avançar, não esquecer que tudo se faz com tempo e reflexão e, por isso, há que começar a construir um futuro melhor.
O Conselho de Arbitragem da FPF decidiu apresentar alterações para reduzir também os protestos dos bancos de cada equipa. Passar da falta de equilíbrio para uma tolerância zero é mito que contradiz a exigência e, por isso, irá amarelar mais cedo os elementos de alguns bancos de equipa. Respeitar as três equipas deveria ser medida certa, mas o primeiro jogo da Liga deixou imagem contrária. A distância do árbitro perante os outros elementos do jogo tem de ser reduzida, aumentando o respeito mútuo. As emoções merecem um comportamento adequado para todos! Gestos, movimentações de protesto, simulações têm de ser penalizadas, sem fundamentalismos. Reduzir o tempo de substituições de 45 segundos para 30 é medida certa. A Liga divulgou plano para futebol profissional. Condição indispensável é criar excelência de relacionamento institucional. Justiça mais rápida, extinção do TAD, substituído por um tribunal desportivo (destruir para construir em vez de aperfeiçoar é exagero sem benefício), para acabar com atrasos e confusões do que designam como «arquitetura jurídica» inadequada, que envolve o jogo da decisão e do recurso sistemático: uns valorizam a complexidade e, no outro extremo, outros preferem agilizar com rapidez exagerada: bom senso, precisa-se! Outra das propostas baseia-se na redução do preço dos bilhetes, no reforço da segurança, na concentração dos jogos no fim de semana, na centralização das receitas televisivas… mas com alicerces e não apenas como ideias soltas. Aumentar a competitividade e tentar manter mais tempo os nossos talentos jovens, inclusivamente com um renovado enquadramento fiscal. Evitar que maus adeptos estejam presentes nas competições é simplesmente utopia. Em vez de sintonia, os pontos de vista dão ideias divergentes e não ajustadas para melhorar o futebol. Uns e outros não podem pensar que estão acima dos outros cidadãos e não podem ser criticados, com a possibilidade de serem sancionados: esse é um complexo de falsa grandeza.
A BOLA ROLA A PONTUAR
Q UER na Liga quer em provas europeias, o futebol português, por mais elogios e críticas, mantém sistematicamente as mesmas falhas. Na Luz surgiu a contradição e o jogo teve um momento que derrotou o futebol: o erro da expulsão do jogador do Arouca foi reconhecido com unanimidade, exceto pela equipa de arbitragem (nem o VAR foi aproveitado e até os comentadores da BTV mantiveram unanimidade com os outros comentadores). Momento infeliz que deveria merecer sanção à equipa de arbitragem pela decisão totalmente errada: péssimo começo de quem pretende a perfeição! Melhorar implica liberdade para mudar e essa capacidade falta a muitos. No Dragão, em vez do segundo vermelho a jogador do Marítimo (seria expulso), árbitro mostrou cartão amarelo a jogador do FC Porto que nem entrou na jogada. Dois erros enormes de arbitragem na primeira jornada esclarecem-nos que a presunção do rigor e da sabedoria são sinais fortes de profunda ignorância, de quem não entende o equilíbrio comportamental e não aprende com as falhas. Para culminar, só acrescentando uma opinião de um árbitro que, sobre o tema, defende «castigos pesados para críticos da arbitragem», como se fossem infalíveis, unicamente pela sua presença. Humildade é estado superior da condição humana…
José Fontelas Gomes, presidente do Conselho de Arbitragem da FPF
REMATE FINAL
No Dragão, no jogo com o Marítimo, o presidente Pinto da Costa alcançou os 2.000 jogos da sua presidência, reforçando que no FC Porto «toda a gente trabalha como se não tivesse havido vitórias (…) Trabalhamos a pensar nas vitórias do futuro…» Mais ninguém deverá poder apresentar no currículo de presidência 1360 vitórias, 362 empares e 279 derrotas.
Partiu Chalana, o talento simples e brilhante que nunca poderá ser esquecido pela sua humildade e genialidade. Ficamos mais pobres mas haverá mais uma estrela no céu.