Como formar a melhor equipa

OPINIÃO19.08.202306:30

Nem sempre ganham os mais ricos; também ganham os que têm ideias mais claras!

AVANÇAMOS agora para um período de tempo em que os treinadores se dedicam a formar a sua próxima equipa. Mas será possível definir em abstrato qual é essa próxima melhor equipa? A melhor equipa existe? Em termos abstratos, sou de opinião que não! Existem sim, as melhores equipas consoante as circunstâncias envolventes e os objetivos a alcançar! A melhor equipa é aquela onde os respetivos componentes se empenham inteligentemente na conquista dos objetivos a atingir! E de que é que isto depende? Não só dos habitualmente designados bons jogadores. Muito menos da presença das chamadas figuras ou nomes sonantes. Mas criando sim, condições bem objetivas para que no relacionamento pessoal entre os jogadores acima de tudo dominem os interesses e objetivos comuns. Pertencendo ao treinador conseguir que todos os elementos da equipa colaborem voluntária e responsavelmente na procura do sucesso coletivo; principalmente que esteja atento à complexidade contida no estabelecimento dessas relações, salvaguardando o fato de que cada jogador é uma individualidade cujas características específicas requerem ser respeitadas.

Pertence ao treinador não se precipitar no modo como avalia os diferentes comportamentos de cada jogador. Cumpre-lhe preocupar-se com a possibilidade sempre presente de retirar de cada um o contributo que a equipa requer, nunca se precipitando sobre a opinião que vai formando dia a dia acerca das possibilidades que cada jogador evidencia para poder ser útil à equipa.
 
Quantas trocas de jogadores efetuámos ao longo dos anos que não se justificavam? Bastantes! E a única razão porque aconteceram, foi a de não nos termos dado previamente ao trabalho de encontrar no contributo desses jogadores aquilo que a equipa requeria! Principalmente, o compromisso com que todos os jogadores se envolvam na procura dos objetivos comuns a alcançar. Do sentir por cada um dos jogadores e dirigentes que a velha máxima, um por todos, todos por um, não é uma figura de retórica, mas sim a base em que assenta o desenvolvimento das tarefas coletivas a levar a cabo. E que não restem dúvidas que é ao treinador que pertence desempenhar neste âmbito uma ação decisiva.

NUMA equipa de trabalho (desportiva, federativa, empresarial...), só haverá sucesso quando no respetivo funcionamento forem respeitadas importantes regras como: que a cada um dos componentes desse coletivo lhe sejam correspondidas as expectativas que colocou face à colaboração que presta; e todos gostem da tarefa que lhes foi atribuída e recebam por isso o que consideram merecer. 

No entanto, no que respeita ao sucesso, importa desde já esclarecer que muitas vezes ao alcançá-lo, esquecemos o sofrimento sempre presente na hora das derrotas. Desaprendemos como ultrapassar as dificuldades provocadas pelos momentos de insucesso. E afinal é muitas vezes na derrota que mais e melhor estamos disponíveis para aprender! Demasiadas vezes, o sucesso torna-nos insensíveis à necessidade de não esquecermos as razões que nos conduziram ao topo. Continuarmos afinal um caminho que só foi positivo porque na altura certa soubemos decidir de modo conforme com aquilo que cada situação exigia. 

OUTRA das questões que ressalta sempre na identificação da melhor equipa, é a referência à respetiva coesão. Sendo verdade que é importante que uma equipa seja coesa, importa não confundir com um ambiente interno em que todos os componentes são muito amigos, quase como irmãos! Se o forem melhor, mas não é condição fundamental! A coesão que deve constituir preocupação para o treinador (ou para quem lidera equipas), é a que se refere a uma grande identificação coletiva dos componentes dessa equipa face aos objetivos comuns a alcançar! Uma grande comunhão de interesses individuais e coletivos!

Ao falarmos aqui de como formar a melhor equipa, importa responder desde já à seguinte pergunta: será que o orçamento constitui o elemento decisivo para uma época de sucesso? Sendo importante, não é tão decisivo quanto por vezes é dimensionado. 

DEMONSTRA-NOS a realidade e a experiência que nem sempre vencem as equipas com jogadores contratados a peso de ouro. Ganham sim as equipas com ideias mais claras sobre o que pretendem atingir e que melhor definiram previamente quais os meios financeiros mínimos requeridos para o alcançarem! Quem tenta formar e organizar a melhor equipa, necessita antes do mais contribuir para a identificação coletiva com os objetivos comuns que se pretendem alcançar. Razão porque um dos primeiros passos a ser dado pelo treinador, uma vez aceite o convite para ser responsável pela preparação de uma determinada equipa, deva ser o de definir quais são esses objetivos. 

NUM determinado momento da minha vida de treinador profissional propus o seguinte: «A época que se inicia agora, face ao que já pudemos constatar relativamente às maiores ou menores valorizações introduzidas nas restantes equipas participantes, requer da nossa parte a ambição necessária para nos assumirmos como uma equipa aqui e ali capaz da obtenção de resultados surpreendentes pela positiva. O facto de partirmos do último lugar da época anterior e sabermos que nos desportos coletivos só após algum tempo de preparação e competição é possível alcançar resultados satisfatórios, não pode nem deve constituir entrave para sermos devidamente ambiciosos.»

«Claro que ainda estamos integrados num segundo grupo da escala de valores atualmente existente na Liga Profissional e as equipas que atualmente fazem parte do grupo com mais qualidade, estão num patamar competitivo difícil de alcançar a curto prazo. O que não é o mesmo que dizer que são invencíveis!»

«Por outro lado, se vão aos play-off da Liga Profissional oito equipas e são sete as equipas atrás designadas, tal significa que há para já uma luta a travar, no sentido de disputarmos um lugar nos play-off! Que ninguém duvide da vontade que a equipa vai ter de superar as dificuldades e procurar emergir como um parceiro competitivo que ninguém poderá menosprezar!»
 
«No desafio que aceitei, integra-se também a intenção de o meu trabalho dar frutos no âmbito da formação de jogadores que venham a integrar no futuro a equipa profissional. Gostaria mesmo assim de não alimentar posicionamentos românticos quanto a esta questão.»

Eprossegui ainda na minha proposta: «Uma coisa é o interesse e a necessidade dessa tese constituir uma das bases do trabalho a desenvolver para o futuro, outra é o realismo necessário que todos necessitamos possuir quando nos debruçamos sobre a composição de uma equipa profissional que se pretende que não arrisque a sua permanência na Liga Profissional ficando em último lugar! Entre uma coisa e outra há que não hesitar quanto às decisões a tomar a curto prazo!»

«Entre norte americanos e comunitários iremos ter sete estrangeiros, e mesmo assim está claro para todos nós que, para verdadeiramente competirmos ao nível a que aspiramos, faltam ainda nesta equipa dois jogadores com experiência competitiva suficiente para poderem ser alternativas claras nas funções de primeiro base e de extremo/poste.»

«Por outro lado, seria importante igualmente que ficasse claro que a intenção de abrir vagas na equipa profissional para jogadores locais, não pode nem deve ser uma decisão tipo administrativo! Necessita ter da parte dos jogadores locais a resposta que se impõe, através do aparecimento nos treinos que vamos iniciar, de jovens que, para além do seu potencial técnico e morfológico, não só revelem a ambição necessária para imporem a sua candidatura, como principalmente estejam dispostos a treinar no mínimo quatro horas por dia ao longo ano!»

«Existe um conceito fundamental no qual baseio a minha filosofia de ação nos escalões de formação que pode ser divulgado. Quando interrogado acerca do Modelo de Jogador que ao longo da sua vida sempre procurara e que tantos êxitos profissionais lhe permitiu alcançar, John Wooden, antigo treinador da Universidade de UCLA e talvez até ao momento um dos melhores treinadores de basquetebol do Mundo, afirmou que mais do que jogadores altos, recrutou jogadores motivados para jogarem a grande altura (com muita ambição!), mais do que jogadores fisicamente fortes, procurou jogadores capazes de jogar forte (com agressividade!), mais do que jogadores rápidos, sempre pretendeu jogadores capazes de executar rápido (velocidade de execução!).»

«Outro passo importante para a formação da melhor equipa, é a das diferentes circunstâncias envolventes que cada treinador vai encontrar, necessitando de se adaptar e compreender cada vez melhor a história e a cultura da coletividade em que vai trabalhar.»

«Neste clube, rapidamente foi possível apreender que a grande motivação dos dirigentes do clube era a de, sem invalidar o interesse que tinham por se projetarem ao mais alto nível da modalidade, nunca perderem de vista o que os havia levado a fundar o clube - a formação de jogadores. Razão porque tenho de me focar em conseguir que a percentagem de jogadores locais vá aumentando na equipa profissional.»

«As competências necessárias para um quadro dirigente ou treinador do sector infantil e juvenil, são específicas e implicam uma formação própria, não tendo nada a ver com as referentes às do Alto Rendimento desportivo. Na realidade desportiva portuguesa, um dos aspetos mais gravosos da prática de muitos clubes reside precisamente na indefinição quanto às diferenças existentes na orientação a dar à Iniciação e Formação desportivas, relativamente ao Alto Rendimento».
 
«Necessitamos assim saber cuidar desta questão com a profundidade que ela justifica. A qualidade e a especialização hoje exigida no âmbito da formação dos dirigentes e dos treinadores que desempenham funções nos clubes, impõe que em devido tempo saibamos delimitar áreas de intervenção diferenciadas quanto a atividades que sendo complementares, como é o caso da Formação de jogadores e equipas de Alto Rendimento, requerem quadros e estruturas administrativas com um grau de especialização diferente.»

«Ao basquetebol do nosso clube pede-se-lhe que consiga superar a tentação sempre contida no facto de fazer do rendimento desportivo ponto exclusivo de referência, organizando-se a nível interno de modo a conseguir atribuir à formação de jogadores, treinadores e dirigentes a importância que ela justifica. Assumindo-se no tempo como uma verdadeira simbiose entre Escola de Formação de Jogadores, Treinadores e Dirigentes e Centro de Alto Rendimento desportivo.»

E assim foi! Não só formámos a melhor equipa possível dentro das circunstâncias e contexto, como alcançámos os objetivos propostos, objetivos esses que estavam para além da própria equipa a constituir, pois tratava-se também de deixar uma herança de um melhor clube, de melhores dirigentes e, principalmente, de uma consistência futura que ajudasse a evitar os habituais altos e baixos de resultados competitivos provocadores de enorme desgaste organizacional.