Como abelha que suga o pólen
DE repente, tão sorrateiramente como uma abelha suga pólen de uma flor, João Almeida entrou no coração dos portugueses. Malta que não é apaixonada pelo ciclismo, como este vosso servo, passou a olhar de forma diferente para a modalidade. E nos próximos anos, sempre que houver Tour, Vuelta ou Giro, lá estaremos a puxar pelo João. O nosso menino soma características de alguns grandes atletas portugueses: a tenacidade de Carlos Lopes, o destemor de Joaquim Agostinho, a serenidade de Fernando Pimenta e o talento de Cristiano Ronaldo. Com apenas 22 anos. Para já, como início de conversa, 4.ª posição no Giro. Melhor, em grandes voltas, só o homem de Brejenjas: 2.º na Vuelta-1974 e 3.º nos Tours-1978 e 1979. João Almeida demonstrou, nestas três semanas italianas, qualidades de trepador, contrarrelogista e até sprinter. Tudo junto, parece-me, será suficiente para poder sonhar, um dia, em suplantar os lugares de Joaquim Agostinho. Aguardemos.
DE repente, tão suavemente como uma formiga integra um carreiro, João Almeida fez-nos esquecer (temporariamente, é certo) as guerrilhas do futebol português. As guerrilhas de Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira e Frederico Varandas, mas também, entre outros, de António Salvador e Rui Pedro Soares. Agora, dois anos depois de Bruno de Carvalho ter saído de cena, confirmamos que o mal do futebol português não era personificado apenas pelo ex-presidente do Sporting. Tal como não é personificado somente pelos presidentes de clubes, mas também por muitos diretores de comunicação intoxicantes e intoxicados. Tudo junto, parece-me, será suficiente para podermos sonhar, um dia, em falarmos de desporto sem termos de falar em presidentes de clubes. Voltemos a aguardar.
DE repente, tão previsivelmente como um rio corre da nascente para a foz, Pedro Gonçalves está a dar nas vistas. Já dava no Famalicão e agora dá no Sporting. Não se sabe até onde chegará este Sporting. Sente-se, sim, que quando chegarmos a maio, se nada de muito estranho se tiver passado, Pedro Gonçalves será uma das maiores figuras da equipa de Rúben Amorim. Tal como Darwin Núñez o será no Benfica. O uruguaio parece ter tudo para ser grande: velocidade, argúcia, disponibilidade física, solidariedade e humildade. Quando a época acabar, seja qual for a posição do Benfica, Darwin será figura de proa na águia de Jorge Jesus. Fábio Vieira tem talento a sair por cada poro. Ainda não terá tudo para ser titularíssimo no FC Porto. Talvez lhe falte, de momento, mais poder físico. Porém, quando o tiver, seja ou não a curto prazo, será destaque da formação de Sérgio Conceição. Tudo junto, Pedro Gonçalves, Darwin Núñez e Fábio Vieira, mas também Rodrigo Pinho, Thiago Santana ou Rúben Lameiras, entre muitos outros, será suficiente para sonharmos com uma Liga bem interessante. Aguardemos mais uma vez.
DE repente, tão insolitamente como o golaço que marcou ao Portimonense em setembro de 2017, André Almeida lesionou-se. Gravemente. O defesa do Benfica é um dos jogadores que mais aprecio em Portugal (podem rir: é verdade). O número 34 raramente é bem-visto pelos benfiquistas. Por vezes, com razão. A maioria delas, porém, sem sequer uma pontinha dela. O meu argumento não é o talento, mas uma palavra com 14 letras que André Almeida personifica na plenitude: profissionalão (sim, são 14). Podemos ser imprescindíveis sem muito talento. Tudo junto, parece-me, será suficiente para lhe desejar um regresso o mais rápido possível. Aguardemos, a finalizar.