Com ‘couscous’ é bom!...
Os meus leitores, e a direção deste jornal que me desculpem por este meu comportamento, que parece pouco sério, de transcrever em parte um artigo que escrevi em Novembro de 2015, isto é, há quase três anos. Mas vão ver - acho eu - que vem a propósito, tenham ou não lido então, ou já não se lembrem dele. Eu, obviamente, me lembrei com uma das últimas novelas, que aliás ainda não terminou, e que tem por protagonistas, principais ou acessórios, Jorge Jesus, Rui Vitória e um desconhecido de Paulo Gonçalves que dá pelo nome de Luís Filipe Vieira!
Escrevi então que até às 22 horas e trinta minutos do domingo, dia 23 de Novembro de 2015, estava convencido que o treinador Rui Vitória não queria ser comido de qualquer jeito. A partir da conferencia de imprensa, dada em seguida a um jogo da Taça de Portugal, fiquei ciente que o actual treinador do Benfica não queria era ser comido de cebolada, ou seja, parecia ser tudo uma questão de acompanhamento ou de tempero.
Tinha uma certa ideia do que significaria a expressão ser comido de cebolada ou comer de cebolada, mas resolvi utilizar um motor de busca, neste caso o google. Resultados: cerca de 45.600 resultados para «comido de cebolada» e de 38 400 para «comer de cebolada»! Muito longe de seis milhões! Os mais recentes, como é óbvio, dizem respeito àquele pensamento filosófico-culinário acima referido.
Contudo, quanto ao significado da expressão não encontrei nada. Recorri pois a um dicionário de língua portuguesa para ver o significado do particípio passado do verbo comer: que foi ingerido; que se comeu; gasto, carcomido , corroído ; que se gastou ou dissipou; que se suprimiu ou eliminou; que se saltou ou omitiu; que se ganhou ou conquistou; que foi possuído sexualmente; que foi enganado, que caiu num logro.
Pareceu-me assim que não ficam dúvidas que a afirmação de Rui Vitória de que «não quero ser comido» significava que não queria ser enganado. Mas de cebolada porquê? Não gosta de cebola? Ou gosta tanto que come qualquer coisa desde que tenha cebola ou seja de cebolada? Ficámos com a sensação que a questão era realmente de condimento!...
Rui Vitória caiu no logro de pensar que era a primeira escolha da famosa estrutura para iniciar um projecto novo, depois de voluntária e assumida ruptura com o treinador anterior, Jorge Jesus. Foi comido como? Com mostarda? Rui Vitória foi enganado ao dizerem-lhe que tinha as mesmas condições de Jorge Jesus? Foi comido como? Com molho de maionese ou de cocktail?
E perguntei se Rui Vitória não se sentia comido ao ver todos os dias a estrutura ( que não os adeptos ) a manter presente Jorge Jesus, com os ataques permanentes a este na comunicação social e nos tribunais. Achava-se comido, mas com ketchup?
Escrevi também que não me permitiria dar qualquer conselho ao Rui Vitória, enquanto treinador, pois já disse várias vezes que, enquanto tal, e embora não perceba da matéria, o apreciava pelo trabalho desenvolvido no Vitória de Guimarães. Mas como estávamos no domínio da culinária, em que aquele parece um concorrente do ‘Masterchef’ com a presença do Chef Jorge Jesus, sempre lhe direi que não se deixe levar pelas receitas dos seus ajudantes de cozinhado.
Concluí então que na caldeirada em que se havia metido, o importante era a matéria prima. Se ela não for boa e de qualidade, não há cebola que disfarce. Recomendava-lhe que se assumisse como chef ou acabava a comer-se a si próprio. Com mostarda ou ketchup, com molho de maionese ou simplesmente ... de cebolada!...
Passaram-se três anos e hoje posso chegar à conclusão que a questão não estava no tempero, mas no acompanhamento.
Com efeito, desde o final da época passada, com a perda do penta, da actuação na Liga dos Campeões e o afastamento da Taça de Portugal e da Taça da Liga, que a maioria dos adeptos do Benfica queriam ver o Rui Vitória pelas costas. Os lenços, no entanto, continuavam a servir para se assoarem e não para dizer adeus, ao treinador!
Porém, a partir da derrota com a SAD do Belenenses, no Jamor, os lenços começaram a sair da algibeira para acenarem ao pobre do Rui Vitória, que, com cebola ou sem cebola, passou a engolir tudo o que havia para engolir, inclusivamente, o sapo de não se excluir a vinda de Jorge Jesus de imediato, em Janeiro ou só no final da época para o substituir.
Curiosamente, Rui Vitória afirma agora que, no Benfica, «não há cartas fora do baralho», numa tentativa de fazer esquecer que, em momento recente e há um ano, ele próprio foi carta fora do baralho, designadamente, daquele com Luís Filipe Vieira joga à sueca com Jorge Jesus!
Como o Jorge Jesus não pode voltar já e o Rui Vitória não se importa de ser comido, desde que não seja de cebolada, o mesmo continuou a ser treinador do Benfica não obstante aquele continuar a dar entrevistas, ou a mesma em várias versões, para manter acesa a chama do verdadeiro desejo de Luís Filipe Vieira - o regresso de Jesus - que não coincidirá com a totalidade ou a maioria dos benfiquistas. E aqui saúdo os benfiquistas com memória!...
O Jorge vem mesmo dizendo que bom filho a casa volta, só não sabendo se usa a expressão popular ou se se quer referir à parábola do filho pródigo. Para os cristãos a parábola significa o principio do arrependimento; mas no contexto da saída de Jorge Jesus para o Sporting, do que se disse e do que lhe disseram, da forma que o trataram que incluiu uma acção onde se disse o que se sabe, julgo que a questão do regresso não tem a ver com sentimentos morais de arrependimento ou similares, tudo não passando de questões relacionadas com o aparelho digestivo, designadamente, com o estômago. Tudo gente de fácil digestão!...
Finalmente, ao fim de três anos, percebi que a questão de Rui Vitória não é realmente o tempero, mas o acompanhamento: com couscous não se importa de ser comido. O melhor mesmo é ir comer couscous para o sítio certo. Quanto aos outros, comem o que quer que seja, com couscous ou de cebolada!...
Somos os últimos (37º) do ranking quanto ao tempo médio do jogo efectivo - 50,9%. Que importa o tempo que se joga futebol, se é muito ou pouco, dentro das quatro linhas. O que importa é o que se joga fora das quatro linhas, e aí somos os primeiros, somos os mais divertidos. O que importa, é quem é que come quem ou quem é que é comido por quem!...