Com asas para voar
Interesse em Guendouzi é uma notícia estimulante para os adeptos da águia e, talvez, o início de um novo ciclo e de uma nova política de gestão do futebol
NA próxima sexta-feira, os jogadores do Benfica apresentam-se no centro de treinos do Seixal para exames médicos durante o fim de semana, a que se seguirá o primeiro treino, no dia 28, com a presença de Jorge Jesus.
Em relação ao que poderá ser a identidade da águia na versão 2021/2022 muito se tem escrito e falado mas, objetivamente, sobre mudanças importantes, até ao momento, pouco se conhece.
Saiu Pedrinho para o Shakhtar, por bom preço, e nada mais se terá passado. Gilberto, Chiquinho, Gabriel e Taarabt, tudo gente vulgar, continuam por lá; nas laterais, mantêm-se os mistérios de sempre, agora mais na esquerda, e na frente de ataque, de concreto, Darwin recupera de operação a um joelho, tal como Rodrigo Pinho, que não joga com regularidade para aí há seis meses, Gonçalo Ramos continua escravo das vontades do treinador e Seferovic tenta fazer pela vida na seleção suíça, mas não está fácil namorar a Premier League.
O panorama não é particularmente atraente, mas partindo do princípio de que Jesus se sentirá satisfeito com o reforço do corredor central, pode ser que se descubra uma solução razoável em tempo útil, significando essa solução, do meu ponto de vista, a eliminação de alguns nomes que têm sido divulgados, porque de banalidades está o plantel cheio.
E M título de primeira página na edição de ontem, A BOLA deu conta do interesse da águia em Guendouzi, um jogador giro, como melhor o consigo definir, jovem, de uma rebeldia encantadora, malandro, que pensa o jogo depressa e que enche o campo com uma disponibilidade física apreciável, apesar do seu aspeto falsamente franzino.
Trata-se de uma notícia estimulante para os adeptos encarnados e, quem sabe, o início de um novo ciclo a que corresponda uma nova política de gestão do futebol profissional, mais seletiva, talvez mais cara, mas com uma lógica de continuidade e mais protegida de caprichos de treinadores e dos empresários que os amparam.
O Benfica até escolhe bem, o pior vem a seguir: sem espaço nos plantéis, os jovens são cedidos a outros emblemas e, por razões que me escapam, acabam por ser terceiros a recolher os louros e o grosso dos lucros, como adiante recordo em duas situações, uma resolvida, a outra pendente.
Guendouzi começou por ser falado para o Marselha, mas o clube francês mudou a agulha para Gerson, do Flamengo, e ficou sem orçamento, alegadamente, para acolher os dois. Garante quem acredita que há sinais do destino que devem ser interpretados e… aproveitados.
C RISTANTE, médio de 26 anos, contratado pela Roma, em junho de 2018, foi um dos convocados por Roberto Mancini para a seleção de Itália que está a surpreender na fase final do Euro 2020, pela frescura do futebol que pratica.
Ainda com a idade de 19 anos, alguém do Benfica, e bem, viu nele um jogador de futuro, além de excelente investimento, tratando-se de um jovem com passagem por todas as seleções italianas de formação, e o negócio realizou-se, à data, por uma quantia a rondar os cinco milhões de euros.
Em contraposição, alguém do Benfica, e mal, incluindo os treinadores com voto na matéria, presumo, por desinteresse, falta de paciência ou mera negligência, nunca lhe deu a devida atenção ou não viu nele atributos que outros descortinaram.
Mais tarde, quando se mudou para a capital italiana, depois de ter andado por aí, logo os mensageiros simpáticos se encarregaram de anunciar ter-se tratado de um bom negócio para a águia, com um lucro próximo da dezena de milhões de euros, sem explicarem, porém, que um clube desportivo descobre talentos para construir equipas mais fortes e não para se transformar em entreposto de compra e venda de futebolistas.
L EMBREI-ME de Cristante ao ler em A BOLA que Jorge Jesus quer observar Krovinovic, médio croata de 25 anos, que o Benfica contratou ao Rio Ave em 2017, por 3,5 milhões de euros, mas que as águias, ao preço atual, avaliam em oito milhões, o que pode dar a entender, mais uma vez, que se coloca em primeiro lugar a estratégia de supermercado em prejuízo da construção/valorização do plantel.
É verdade que uma lesão grave num joelho prejudicou a afirmação do médio croata, mas também não é nenhuma mentira que Rui Vitória não deve ter feito muita força pela sua permanência.
Numa altura em que ainda subsistem muitas interrogações acerca do Benfica que está a ser renovado, mas sendo pacífico o reconhecimento de que existe abundância de gente sem interesse em plantel que se pretende dominador, ganhador e conquistador, considero relevante que Jesus, sobretudo em tempo de vacas magras, queira fazer uma análise cuidada dos jogadores com ligação contratual ao clube, pelo menos dos que lhe chamam mais a atenção.
Krovinovic tem a seu favor a idade, a vontade, a irreverência e algum mérito. Não será um génio, mas tem ainda uma margem de progressão que valerá a pena trabalhar. Além de que, da ideia que retenho dele, não fica a dever nada a alguns dos que lá estão, pelo contrário. Teve azar…