Clough e dúvida
O que um extravagante inglês tem a ver com Mr. Pedroto (e com o FC Porto-Benfica)
COMO jogador a carreira de Brian Clough fora fugaz sem deixar de ser fulgurante - gravíssima lesão, algures por 1962, impediu-o de continuar no Sunderland. Tinha 27 anos, logo se tornou no treinador - genial e extravagante. Agarrando o Derby County na II divisão, levá-lo-ia às meias-finais da Taça dos Campeões de 1972/73 (eliminando o Benfica de Jimmy Hagan) - uma das suas primeiras decisões por lá fora despedir duas mulheres que pusera a tratar das «refeições controladas» que dava aos jogadores por as ter apanhado à gargalhada após derrota. Desbritanizou-lhe a ideia de jogo - com mais posse e menos correrias, mais passes e menos cruzamentos pelo no ar - e explicou-o:
– Se Deus quisesse que o futebol fosse jogado nas nuvens tinha colocado relvados dentro delas…
Capricho afastou-o Derby, lançou-se, aventureiro, à terceira divisão, no Brighton. Quando Don Revie substituiu Joe Mercer na seleção inglesa, o Leeds chamou-o a treinador - e desconcertantes foram as palavras de Clough no balneário, antes do primeiro treino:
– Podem atirar as vossas medalhas todas para o lixo porque o senhor Revie não as ganhou de forma bonita...
Guerra de egos precipitou a sua saída ao cabo de 44 dias - o caso virou filme: Damned United. Entre paródias em torno do seu vício pelo álcool, saltou para o Nottingham Forest, deu-lhe as duas históricas Taças dos Campeões - e, pelo caminho, ouviu-se-lhe a confissão:
– Existem treinadores que levam a invenção tão longe que se iludem pelos seus atos, não conseguindo ver o que fazem. E existe Mr. Pedroto, capaz de fazer e refazer equipas, criar sistemas de jogo e estruturas inesperadas, sempre a fazer crescer os seus jogadores…
Com esse Pedroto dentro da sua cabeça, Sérgio Conceição tem feito do FC Porto o que ele é. Mais logo, ver-se-á se esse Pedroto dentro da sua cabeça bastará (uma vez mais) para compensar o que parece ser o maior talento que o Benfica tem (sobretudo no seu ataque...).