Classificações, qualificações e exaltações (patéticas)
1. Continua o campeonato. Sem público, mas com muito ruído. Sem excitação, mas com muitos excitadores. Sem campeão, mas com muitos não campeões.
Tem sido desolador o futebol jogado. O que é compreensível, depois de uma longuíssima quarentena. Ao fim das três jornadas já disputadas em Junho, vale a pena atentar na sua classificação e compará-la com o momento do campeonato interrompido, ou seja com as 24 jornadas até Março.
Se exceptuarmos o Sporting e a sua chicotada psicológica, todos os outros clubes que ocupavam os primeiros 6 lugares em Março estão com muito menor rendimento, com realce para o Sp. Braga e FC Porto, logo seguidos pelo Benfica, Rio Ave e Vitória de Guimarães.
Embora a comparação seja feita com apenas 3 jornadas (uma quase pré-época), verifica-se que o desempenho das melhores equipas é semelhante ou mesmo pior do que as outras. No entanto, com o desenrolar da parte final da competição, é provável que a normalidade ressurja.
No caso dos dois candidatos ao título, mais parece jogar-se para vice-campeão do que para campeão.
2. A última jornada, correu melhor ao meu Benfica, que, pela primeira vez, conseguiu aproveitar o inesperado insucesso do seu rival. Havia quem prognosticasse que ficaria a 4 ou 5 pontos, mas aconteceu que igualou o rival. Num terreno dos mais difíceis, venceu bem, ainda que com um equívoco no onze. Refiro-me à escolha de Dyego Souza para titular. Uma aposta sem brilho e muito azarada. Fez a assistência para o golo do Rio Ave, esteve na base de anulação do golo de Rafa e até cortou o remate de Pizzi, num livre perigoso à entrada da área. Na 2ª parte, houve o Seferovic da época passada: com um golo importante (curiosamente o seu terceiro seguido ao Rio Ave, se considerarmos o 3-2 da Taça de Portugal), um remate à barra e mais umas boas iniciativas. Outro sinal positivo foi o desempenho de Nuno Tavares, que, finalmente, jogou na sua posição de lateral-esquerdo. Finalmente, Weigl evidenciou que está mais perto do seu real valor, marcando um inédito golo que valeu dois cruciais pontos.
Não deixa de ser intrigante (mas habitual) a falsa polémica sobre a arbitragem, por parte de portistas opinadores e frequentadores de redes sociais. Certamente para branquear o escandaloso penálti a seu favor assinalado pela dupla Xistra /Esteves. É já de si estranho que o juiz de campo tenha assinalado a falta, mas então o que dizer do VAR Esteves que, pelos vistos, não estava. Há uma regra que sigo para escrutinar a acção de árbitros. O erro humano é justificável ou, pelo menos, compreensível, quando algo que existiu não é percepcionado pelo juiz. Mas é de todo inexplicável que se assinale como tendo acontecido aquilo que nunca se passou. Neste caso, não há erro, há fantasia, não há precipitação, há invenção. Sobretudo para quem, sentadinho, vê a imagem as vezes que quiser e nas velocidades que desejar. Como foi possível o tal VAR confirmar o que flagrantemente não aconteceu? Efeitos da pressão do FCP e sua direcção de propaganda sobre a mesmíssima dupla que, oito dias antes, arbitrou o jogo do Benfica?
Pois, perante isto, nada melhor que malhar noutra arbitragem (a do R. Ave- SLB), que foi bem mais séria e competente, mesmo considerando a decisão mais difícil de não validar o golo de Rafa, numa interpretação com alguma dose de subjectividade, podendo cair para um lado ou para o outro. Surpreendeu-me o sempre elegante e fleumático treinador do Rio Ave, Carlos Carvalhal, ter perdido as estribeiras nas declarações a seguir ao jogo. A grande maioria dos técnicos gosta sempre de se esconder na arbitragem quando defrontam o Benfica. Já quando se trata do FCP é tudo falinhas-mansas e compreensão até dizer basta… Mas quem é que de boa fé pode ter dúvidas sobre as expulsões? No caso de Nuno Santos, diz-se que «foi sem querer». Claro que sim. E depois? Se fosse por vontade, quase não haveria faltas nos jogos e muito menos expulsões. Recordo-me de, no campeonato da época passada, um choque bem menos violento de Jonas contra o guardião do Portimonense, ter levado à sua expulsão e a dois jogos de suspensão. Aí, os agora críticos, acharam bem a decisão.
Absolutamente ignominiosas foram as ofensas e ameaças ao jogador Nuno Santos e a insinuação de que se deixou expulsar. De facto, trata-se de um ex-atleta do Benfica (que também esteve alguns anos no FCP, o que, para certas (i)lógicas mentecaptas, é suficiente para gerar acusações de favorecimento ou benefício). Felizmente, Taremi não falhou o golo do Rio Ave, caso contrário já se estaria a dizer que tal teria sido a consequência de alegado interesse do Benfica. E quando o agora portimonense Jackson Martínez falhou um penálti no Dragão aos 44 minutos (havia 0-0), não percebo por que razão as mesmas cabeças não tiraram conclusão idêntica.
3. Entretanto, a UEFA marcou para o quente mês de Agosto a final eight da Liga dos Campeões, a disputar na Luz e em Alvalade. Lisboa vai ser, assim, barriga de aluguer para a fase final da Champions. Mais para a frente se verá se há público nas bancadas, mas pressinto que interesses mais altos se levantarão e que isso vai acontecer. Esta decisão coincide com alguma preocupação quanto à continuada presença do vírus e, sobretudo, quanto aos seus efeitos sempre que há ajuntamentos indesejáveis. Não está, pois, isenta de risco esta escolha da capital portuguesa.
O que aconteceu de absolutamente patético foi o cerimonial das mais altas figuras do Estado - o Presidente da República, Presidente da Assembleia da República e Primeiro-ministro - mais três ministros e o SE do Desporto (7 figuras para 7 jogos de 8 equipas) no qual auto-celebraram tal distinção, em regime de selfie-reunião. Discursos e encómios de uns para os outros e destes para os primeiros, como se estivéssemos perante uma exaltação de um feito assinalável, uma espécie de milagre no tal jeito de barriga de gestação. Com dedicatória estapafúrdia do Primeiro-ministro aos profissionais de saúde, uma espécie de prenda antecipada dos Reis Magos da futebolândia. Nem oito, nem oitenta. Sem dúvida, uma decisão que pode vir a ser interessante e que levará Lisboa aos quatro cantos do mundo (o presidente da CML bem o referiu). Mas, não se faça disto uma exploração tão patrioteira e populista.
Já agora, gostava de saber quem, na Europa, se ofereceu também para tal iniciativa?