Chuta, Éder!...

OPINIÃO25.06.202107:00

Há algum português que não gostasse de ver o Éder como embaixador da Seleção Nacional?

CONFESSO que ponderei escrevê-lo antes do Euro. Não o fiz e não me perguntem porquê. Talvez por esperar que acontecesse e não ter querido pôr a carroça à frente dos bois. Mas aqui vai agora, exercendo, mais uma vez, o meu direito à liberdade de opinião: comigo, o Éder seria embaixador da Seleção até ao fim da vida!
Não sei se o rapaz fez mal a alguém na Federação, nem sei se alguém chegou ou a não a admitir convidar o Éder para acompanhar a Seleção neste Europeu. No mínimo, neste Europeu.
Mas se o Éder não fez nada de mal, ser não pisou o risco ou não violou qualquer regra, só o que ele fez há cinco anos e só o que ele passou a representar justificam tudo. Mesmo que a Federação não o queira, o Éder passou a ser o nosso embaixador.
Não vale de muito a nossa vontade. Mas pelo menos será um orgulho para o Éder. Que ele bem merece!
Não digo que o Éder devesse ter sido convocado, agora, ou que volte a justificá-lo no futuro, como jogador da equipa. Nada disso. Convocá-lo para os 26 deste Europeu pareceria, talvez, até um pouco misericordioso e o Éder não merece isso. Com o Éder ou com qualquer outro, nunca nada poderá ser tratado no plano da misericórdia.
Para ser convocado, o Éder teria de dar resposta ao que o selecionador exige. É assim que deve ser. Agora ou mais à frente.
Estar em forma, revelar eficácia, ter tido uma boa época, mostrar frescura física, bons resultados e rendimento, enfim, ser capaz de preencher os requisitos que o levaram ao Euro, por exemplo, há cinco anos.
Não me cabe a mim avaliar se Éder estava ou não em condição de fazer parte dos eleitos de Fernando Santos. Não fui eu que o observei, nem o vi jogar vezes suficientes para ter sequer uma opinião, e a verdade é que não me custa nada admitir que o rapaz não fizesse parte da lista de potenciais convocáveis pelo selecionador.
Mas na verdade, nem é disso que estou a falar.
Aceitando, aliás, como muito provável que nunca mais venhamos a ver Éder ser convocado para jogar na Seleção, então mais uma razão para o podermos ver, a partir de agora, como o novo embaixador da Seleção.
Devia estar com a Seleção neste Europeu - no mínimo neste Europeu -, e, já agora, passar a estar em todos os Europeus que se seguissem.
Lembram-se do Eusébio? Pois sem entrar, evidentemente, nas sempre ridículas comparações, como já não há, infelizmente, Eusébio, a partir de agora seria Éder o embaixador. Por homenagem e reconhecimento e pelo que ele representa para o futebol português e para os adeptos.

TALVEZ daqui por 50 anos ninguém se lembre já do nome da grande maioria dos jogadores do Portugal Campeão da Europa em 2016. Mas aposto que ninguém esquecerá o nome de Cristiano Ronaldo e… o de Éder. Ninguém se esquecerá do nome do Éder!
Éder não foi só uma das figuras daquele inesquecível momento; ele foi a figura daquele inesquecível momento! E se perguntarmos a cada um dos adeptos da Seleção, muito poucos, ou mesmo nenhum, deixaria de votar no Éder para embaixador da Seleção.
Experimentem, aliás, ir ao youtube e escrever Éder, chuta daí!... e verão se não voltam a arrepiar-se. Ai vão-se arrepiar, vão, tão certo como eu me chamar João!...
Naquele histórico chuto à baliza dos franceses, Éder representou a melhor versão dos portugueses. Foi corajoso, ambicioso, atrevido, ousado, explosivo, surpreendente, lutador, trabalhador, confiante, decidido, desenrascado e determinado. Ainda por cima, pareceu encarnar o espírito de Eusébio e absorver toda a fé de Fernando Santos. Num único momento.
Éder fica para história do futebol português como Salvador Sobral para a história da canção nacional. Serão dois inesquecíveis e dois inevitáveis. Pode Éder nunca mais jogar e Sobral nunca mais cantar, mas serão ambos incontornáveis e memoráveis recordações do que de mais nobre tem a cultura popular portuguesa.
A história de Éder não devia ficar apenas no papel e na memória. Devia merecer uma presença real e permanente enquanto pudesse ter uma permanente presença real junto da Seleção. Enquanto houver Éder, Éder deve estar com Portugal. Sempre. Porque se temos um troféu que é a Taça, também temos outro troféu que é o Éder. Que jamais deixará o imaginário dos portugueses!

LAMENTO que Éder não tenha ainda clube para a nova época e espero, com toda a franqueza, que possa ter ganho já dinheiro suficiente para viver confortavelmente caso o futebol lhe vire (espero que ainda não) definitivamente as costas. Mas não ter ainda clube é um problema dele. E só dele. Podemos lamentar, mas só isso.
Não ser o embaixador da Seleção Nacional já não será apenas um problema que lhe diga respeito apenas a ele, mas também aos responsáveis da Federação e da Seleção, e, pelo menos, a todos os que, como eu, gostariam de o ver como convidado permanente da equipa nacional portuguesa.
Como o símbolo que passou a ser. Como o representante de todos os jogadores que já vestiram a camisola das quinas. Como a referência do espírito que todos desejamos ver na Seleção. E como emblema e, ao mesmo tempo, retrato de como é possível com perseverança, vontade, garra, confiança e muito trabalho chegar um dia a tocar o céu e a encher o coração de tantos a tantos portugueses!
Não quero (nem faria, naturalmente, qualquer sentido), sublinho, estar a comparar Éder a Eusébio. Era o que mais faltava. Eusébio é incomparável. É único. É o maior. Eterno. Inigualável. Nem comparo Cristiano Ronaldo com Eusébio, quanto mais Éder.
E Cristiano Ronaldo é, para mim, note-se, o grande futebolista português da história e a maior figura de sempre da história do futebol mundial. Discutível, como todas, mas é a minha opinião e exijo vê-la respeitada. Nem me interessa se é ou não o mais talentoso de sempre, sendo que por acaso até faço parte, naturalmente, dos que defendem Messi como o mais talentoso futebolista que alguma vez se viu.
Mas Ronaldo é a maior figura, o maior goleador, a maior celebridade, a personalidade mais marcante, o mais universal, seguramente o mais admirado e, com certeza absoluta, o mais seguido. O maior da história, portanto.
Éder não é nada disso. Ele sabe que nunca será recordado por ser ou por ter sido um daqueles grandes jogadores que a história sempre recorda. Não tem, nem vai a tempo de ter, uma gloriosa ou sequer marcante carreira. Não jogou, nem vai jogar, em clubes de topo mundial. Não discutiu, nem discutirá, nos clubes por onde passou ou por onde vier ainda a passar, as grandes vitórias ou os grandes títulos.
Éder é, porém, outra coisa. Uma coisa que talvez não se explique e apenas se sinta. Éder não é, apenas e só, mais um dos campeões europeus, com todo o respeito por todos os bravos do pelotão que a 10 de julho de 2016 concluíram com inigualável sucesso a maior e mais valente de todas as cruzadas da Seleção. O Éder é, realmente, outra coisa. Nem mais nem menos do que  ninguém, mas simplesmente o Éder!
Haverá sempre um antes e um depois de 1966, com Eusébio, mesmo sem ganhar!
E haverá sempre um antes e um depois de 2016, com Éder!
Éder é agora um símbolo do nosso Portugal. É, ao mesmo tempo, referência da nossa tradicional alma lusitana, e novo ícone, transversal à sociedade e às diferentes gerações.
Éder é e será sempre especial. Tão especial e histórico que nunca mais ninguém esquecerá que foi ele, com aquele fabuloso remate e aquele tremendo e explosivo golo, que nos deu o maior título da história da nossa Seleção Nacional e nos fez viver o que nunca tínhamos vivido enquanto adeptos fervorosos e apaixonados pela equipa que a história tratou de registar como a «equipa de todos nós».

NÃO sei, realmente, se a Federação Portuguesa de Futebol alguma vez pensou, ou pensa, tomar a iniciativa de ainda convidar Éder a marcar presença neste Europeu ou em próximos europeus, nem sei se alguma vez pensou, ou pensa, tornar, na realidade, Éder o novo embaixador da Seleção Nacional, desígnio que o faça acompanhar a equipa e a estar junto de todos os que fazem, e continuarão a fazer, a história da Seleção Nacional.
O que sei é que não serei certamente o único português a votar no Éder se nos for pedida opinião.
Por fim, espero que também a UEFA não se esqueça de Éder, ou a nossa federação não deixe de o indicar, e o possamos ver, a 11 de julho, a depositar a Taça no palco da final para ser entregue ao novo campeão. Ele bem o merecia.
E já agora, que o campeão possa ser, de novo, Portugal.
Tinha muita graça!