Chegou a hora de virar a página
Não são muitos, apenas dez por cento da lotação, mas fazem toda a diferença. Em Inglaterra, dependendo das ordens de restrição locais, alguns clubes já recebem adeptos e acendem velas de esperança por um retorno tão cedo quanto possível à normalidade. Disse-o muitas vezes nestas páginas, ao longo dos penosos meses que levamos de pandemia, que jogar, mesmo sem público, era essencial para que a indústria do futebol, em todas as vertentes, pudesse sobreviver.
Com a distribuição de vacinas já em processo acelerado em vários países, o horizonte de esperança alarga-se e vê-se, com crescente nitidez, uma luz ao fundo do túnel. Em Portugal, apesar de tudo, talvez não fosse pior, ultrapassado o pico da segunda vaga, que se começasse a avançar com a liberalização progressiva do acesso aos estádios. Porque, na verdade, por cá o futebol nem sempre recebeu o tratamento que merecia e na maior parte das vezes foi discriminado relativamente a outras atividades púbicas, desportivas, culturais e políticas, com maior potencial de contágio.
Na presente conjuntura lusitana, com a vacinação a começar nos primeiros dias de 2021, fará sentido que a FPF, a Liga e cada clube juntem forças no sentido de pressionar, a uma só voz, o Governo para que o regresso faseado dos adeptos ganhe forma.
Infelizmente, muito por culpas próprias, fundadas em comportamentos (imputáveis essencialmente a dirigentes de clubes) que nada dignificaram o setor junto da sociedade, o futebol foi perdendo, ao longo dos últimos anos, capacidade reivindicativa. Por isso vive segundos regimes fiscais punitivos e na crise do Covid-19 foi sempre tratado muito abaixo do que a equidade ditaria.
É tempo que os clubes percebam que os danos provocados pela pandemia são por demais extensos para que continuem de costas voltadas, divididos entre penáltis, foras de jogo e polémicas VÁRias, que podem servir para entreter as franjas mais básicas, mas minam uma força conjunta que faz falta para acelerar o processo de regresso dos adeptos aos estádios.
Se não perceberem até que ponto esta questão é essencial, se não tiverem a lucidez que os faça entender o que está realmente em causa, então mais vale que o último a partir não se esqueça de apagar a luz do aeroporto...