Carta ao Luís 

OPINIÃO28.07.201901:57

Escrevo de Viseu mas não esquecendo Castro Daire, uma bonita vila a meio caminho entre Lamego, cidade e diocese, e a minha querida cidade natal. No cimo de um monte, num antigo castro, fica Castro Daire e a convite do Luís, sempre Chaves, quase que regressei à minha infância. Vimos a final dos sub-19 e a alegria paira bem no ar. O Luís, emigrante na Suíça, ali em plenos Alpes de língua francesa, nunca esquece o seu torrão natal, as suas origens, o seu Benfica, a nossa Viseu, o nosso Portugal. Acompanhou desde sempre o João Félix - já quase Rei de Madrid depois da extraordinária exibição frente ao Real Madrid numa derrota humilhante (7-3) da equipa de Zidane - e vem ver o Benfica, de propósito, muitos vezes. Agora de Genebra a Lisboa é um pulo, acessível! Ele sente, lá bem no fundo, a Pátria e, em cada Verão, promove um jantar de confraternização. Uma ampla confraria! Como ocorreu ontem! Junta os amigos da Suíça com os amigos da terra. Junta novos e menos jovens. E sentimos bem o que é este interior que sofre mas resiste, que chora mas nos emociona, que nos acolhe com uma simpatia que, acreditem, perturba. E sentindo esta comunhão entre Filhos que regressam por poucos dias e menos jovens que resistem ano após ano, foi, com o carinho do Luís, sempre Chaves, que quase regressei à minha infância. Ao lado de Castro Daire virava-se, por um caminho maior mas bem atrativo, e ia-se para Moimenta da Beira e para Aguiar da Beira, para Foz Coa - antes e depois das gravuras… - e para a Meda. Li na passada sexta feira, Dia dos Avós, um interessante artigo acerca dos Avós. A síntese assumia que «os avós nunca morrem, apenas ficam invisíveis». E «dormem para sempre nas profundezas do nosso coração». Acreditem que ainda hoje, mesmo já nesta terceira idade, sinto a sua falta. Olhava ontem para alguns e algumas Avós em Viseu e em Castro Daire. O xaile colorido ou preto, o fato quase domingueiro e a bengala bem engraxada. E regressei à infância, muito mimada. Dos tempos dos figos e dos alperces que antecediam as primeiras uvas. Dos dióspiros e das broas que anunciavam as Festas. Dos Remédios a São Mateus, às diferentes saudações a Nossa Senhora ao longo deste Agosto que vai começar. Da bisavó Josefina e dos meus Avós maternos e paternos. Das duas Avós Marias, que de tão diferentes, me moldaram na dignidade de olhar o outro e na disponibilidade de, em verdade, abraçar os outros. O que sei é que a sua perda foi a minha primeira despedida. E com eles e elas foi um pouco de mim. E, agora, em cada dia dos Avós, o(a)s recordo com uma imensa saudade. E olho para os meus três netos - sim sou três vezes avô - e tento igualar a infinita ternura que eles me proporcionaram, as carícias que me dedicaram, as histórias que me contaram e os presentes que me deram. Sei bem que os vi envelhecer. Como o Alexandre Maria, o José e o João me veem agora. Sei que os vi nascer e estou a ver crescer. Como eles me acompanharão no meu adeus ao Mundo, a este Mundo. Mas o que recordo é que com a bisavó Josefina escutava, num velho rádio de pilhas, ali em Valflor (Meda), os jogos do Benfica e aprendi, com ela retida numa cadeira de rodas, a ver as grandes penalidades não marcadas, e bem relatadas, ou os golos do outro mundo, sonoramente arrebatadores. Logo celebrados com um cálice de um vinho do Porto de uma colheita selecionada. Depois com o saudoso Senhor meu Pai acompanhei os êxitos e assumo-o, as derrotas do Viseu e Benfica e percebi bem o que era ser Dirigente, em puro regime de voluntariado. Mas com as angústias, que são de ontem, de hoje e de também amanhã, no que concerne ao pagamento de salários ou à compra de resultados. Ter largos anos dá nisto. Ter memória. Saber de estórias e conhecer a história. Ter participado no processo legislativo de algumas leis acerca, por exemplo, da violência no desporto ajuda a entender estes tempos modernos e os seus protagonistas e sem que muitos conheçam a verdadeira génese do processo legislativo. Por mim digo que conheci o futebol burguês, e a sua consolidação, hoje numa inequívoca vertente empresarial e em que a classe média - e por excelência a média alta! - tem um estatuto especial, porventura o único que lhe resta  para uma relativa afirmação pessoal. Agora até temos o regresso de um outro futebol de rua que, aliás, tem, neste momento, um interessante projeto - que importa acompanhar e acarinhar - de prática desportiva e «a sua utilização como estratégia inovadora de intervenção, no combate à pobreza e à exclusão social». E importando, aqui, uma saudação a todos os parceiros e, entre eles, para além da Associação CAIS, a Federação Portuguesa de Futebol. Nas antevésperas do arranque do seu canal, o novo Canal 11 e que não deixará de ser, decerto, uma efetiva novidade nestes tempos de mudanças e de reorganização do espetro televisivo português. E, aqui entre Viseu e Castro Daire, o Luís Chaves mima-nos a cada instante. Queijo e vinho, grelhados de uma vitela que um garfo esmaga, chouriço e farinheira. E, no final, pão de ló que adoro e os viriatos da Amaral que nunca dispenso. E torrados são mesmo divinais… E no intervalo desta degustação de um património gastronómico singular escuto a alegria pela conquista do Mundial de hóquei em patins e à volta das mesas não se esquecem muitos dos presentes que hoje termina a Volta à França. É que a Suíça francesa é… mesmo francófona! E ainda se analisam, numa profundidade serena, os últimos jogos de preparação das grandes marcas do nosso futebol, se avaliam as contratações, por excelência as do Benfica (RDT e Caio muito bem!) e se projetam estas pré-eliminatórias das duas competições europeias em que estão envolvidos clubes portugueses. Com a certeza que o Guimarães «segue para a próxima»! Na despedida do Engenheiro Júlio Mendes e da sua afirmativa liderança. E ainda se sorri ao confirmar que o Académico de Viseu em razão do Regulamento Disciplinar da Liga (artigos 274º. e 275º) joga hoje, de pleno direito, a primeira ronda da Taça da Liga. E, já agora, mais uma fatia de pão de centeio com este queijo da Serra que nos orgulha e o olhar para os meus colegas Avós que acariciam o cabelo dos netos e das netas acabadas de chegar e os enchem de carícias nestes dias em que eles sentem, por vezes no seu perfeito francês, o cheiro e a alma, a nobreza da pobreza e que estas terras, mesmo no meio deste crasto que lhe dá o nome, sabem tudo do futebol e do desporto em geral e que esperam - sonham! - um sorteio da Taça de Portugal para terem a esperança, em regra esfumada, de verem por estes lugares  os grandes nomes do futebol português. Escrevo-lhes daqui. Da Beira Alta. Lá fora toca o sino. Não é, hoje, o alerta de um qualquer incêndio. É, de verdade, a Missa de alva a renovar o dia sobre a noite. E nós, Avós, - não é meu querido Joaquim? - sabemos bem o que é renovar o dia sobre a noite. É a alegria do Alexandre Maria e do Tomás, do José Maria e da Carolina, do João Maria e da Vera, da Julieta e da Maria. E todo(a)s um dia virão, com tempo, a esta Beira Alta que nos entusiasma e sempre nos ampara e embala. A convite, estou certo, deste Luís, Amigo do seu Amigo, rijo beirão, puro benfiquista, assumido academista e, acima de tudo, um emigrante que nunca se esqueceu do colchão de palha onde largos anos adormeceu! Tantos Amigos e Amigas juntou! Onde o desporto, na pluralidade das suas cores e paixões, também disse presente! E aqui fica, nesta simplicidade, o registo. Bem hajas, LUÍS! Um abração beirão!