Carta a Lage

OPINIÃO14.06.202004:00

Na imagem que vi de si em Portimão, não vi, caro Bruno Lage, apenas o seu desalento e a sua angústia, vi uma frase do Sepp Herberger:

- O depois do jogo é sempre o antes do jogo.

Filosófico, o que o Herberger queria dizer é que, quando um jogo acaba o treinador tem de começar logo a ganhar o seguinte dentro da sua cabeça - na cabeça que tem de pôr nos pés dos jogadores para que eles não se tornem piores do que são. (E o pior que se tem visto nos seus, ainda não o vejo só em culpa sua...)

Na imagem que vi de si em Portimão, não vi, caro Bruno Lage, apenas o seu desalento e a sua angústia, vi uma frase do Marcelo Bielsa, também:

- Para mim, no futebol, o mais importante é a comunicação, como treinador dependo da palavra acima de qualquer outra coisa, em que circunstância for…

Astuto, o que o Bielsa queria dizer é que no futebol a palavra de que ele depende (todos os treinadores dependem) é a que permite que, aos jogadores, se transmita a força da equipa, a ideia do jogo, o vinco da sua alma - para que ela, a equipa, não se acobarde ou inferiorize, não sucumba à pressão ou à ameaça. (E se tudo isso que já se viu cristalino em si - se vai sombreando agora, para lá de si, também não me parece que seja só por culpa sua, no dom perdido da palavra...)  

Na imagem que vi de si em Portimão, não vi, caro Bruno Lage, apenas o seu desalento e a sua angústia, vi uma frase do Javier Clemente, igualmente:

- Prefiro morrer porque me matam a partir de fora do que morrer porque me matam a partir de dentro…

Não sei o que você, caro Bruno Lage, prefere. Ou se está, já, sequer, a ser vítima de feridas a supurarem dentro do balneário (não, não me parece...) Do que não tenho dúvidas, contudo, é que já estão a matá-lo a partir de fora - através de imagem injusta: a do treinador que à janela da sua cabeça e do seu coração já só tem nuvens negras e inseguranças, ansiedades e desatinos (e tudo isso a saltar para o fundo dos pés dos seus jogadores...)