Capricho dispendioso

OPINIÃO10.08.202206:30

Frederico Varandas, Hugo Viana, Rúben Amorim: o ponto final na relação de Slimani com o Sporting merecia um fim mais bonito

Ahistória não acontece pela primeira vez no Sporting, que tem outros casos por resolver no plantel atual, ainda menos no futebol (nacional e internacional). Olhando apenas para dentro, confirma-o, por exemplo, o tratamento dispensado pelo Benfica a futebolistas que não convenceram Roger Schmidt, independentemente do estatuto que traziam do passado, e os encarnados, coordenados com o técnico alemão, colocaram-nos, também, a treinar com a formação secundária (B), que compete na Liga 2 e, no Seixal, trabalha em horários diferenciados. Slimani regressou a Alvalade em janeiro, porventura já à boleia das eleições programadas para março. Incompatibilizou-se com Amorim e o técnico, com luz verde da administração, mantém-no fora do grupo, à espera de mudança de ar que nunca mais acontece.

Infelizmente, digo-o eu, o Sporting não encontrou neste Islam, já com 34 anos, a solução que ambicionava para dispor de mais argumentos no ataque. O regresso a Alvalade, cerca de seis anos depois da saída para o então campeão da Premier League, o surpreendente Leicester, resultou num fracasso desportivo e financeiro. Os números não admitem mais interpretações.

O atacante ingressou nos leões em 2013/2014, contra o pagamento de 300 mil euros ao CR Belouizdad; marcou 57 golos em 112 jogos pelos leões, desempenho que convenceu os ingleses a acionarem a cláusula de rescisão de 30 milhões de euros. Valorização recorde, porventura o melhor negócio na história longa e rica do leão. E, durante três épocas, vitórias numa Taça de Portugal e numa Supertaça! Islam Slimani, depois do sucesso no Sporting, confrontou-se com o insucesso e andou muito de malas às costas: incapaz de impor-se no Leicester, o argelino passou por Newcastle, Fenerbahçe e Mónaco até fixar-se (mal) no Lyon. Na seleção, em outubro de 2021, tornou-se no melhor marcador da Argélia, totalizando, neste momento, 42 golos em 88 jogos.

Para voltar a Portugal, o internacional argelino rescindiu com o Lyon, da Ligue 1, de França, e aceitou redução de vencimento na ordem dos 50%! É dinheiro. Mesmo assim, os números do contrato válido por época e meia (mais uma de opção), posicionam-no no topo da lista dos mais bem pagos em Alvalade, com 3,2 milhões de euros por época (1,6 líquidos). A 8 de abril, a… bronca. Existem rumores sobre todos os acontecimentos desse dia na Academia de Alcochete, mas os factos importam-me mais do que as conversas de café e as mensagens que recebi de forma direta ou indireta, por desconfiar da imparcialidade do(s) transmissor(es) da informação: no essencial, Rúben Amorim, na véspera da jornada 29 da Liga 2021/2022, não incluiu Islam Slimani entre os convocados.

Depois, nas declarações durante as conferências de Imprensa (do técnico) ou em desabafos nas redes sociais (do futebolista), divórcio tão claro como a água. «Quem treina melhor é convocado», exclamou Amorim. «Treino sempre arduamente pelo meu clube», reagiu Slimani. Na impossibilidade de um entendimento, clube e jogador procuram solução, que não se- rá nunca diferente do adeus definitivo, após segunda passagem pelos leões mais do que frustrante: só 10 jogos, 817 minutos de utilização, mas ainda assim 7 golos!

Em janeiro, a SAD, talvez entre sorrisos, recebeu a proposta para fazer regressar um futebolista popular entre os adeptos leoninos, discutiu-a com a equipa técnica, ouviu com satisfação o «sim» de Rúben Amorim, treinador necessitado de um jogador diferenciado para uma posição tão específica, e concluiu a operação, mas o capricho saiu-lhe dispendioso. Confirmando-se a mudança do argelino para o Brest, da Ligue 1, muito provavelmente a troco apenas de poupança na folha salarial, é saída por porta pequena, nunca grande!

Frederico Varandas, Hugo Viana, Rúben Amorim: o fim da relação de Islam Slimani com o Sporting merecia um fim mais bonito. E o Sporting continua sem um 9.