Campeão só o Liverpool
OS profissionais de saúde são os novos heróis, tal como os serviços de socorro e de segurança. Bastou este susto grande para se dar a importância devida a quem todos os dias a merece e que não a vê reconhecida por uma sociedade que dá preocupantes sinais de violência, egoísmo e falta de valores, fruto de indisfarçável crise de autoridade em que agredir médicos, professores, polícias e até magistrados no exercício das suas funções se transformou em prática verdadeiramente abominável. É uma minoria que assim se comporta, argumentarão os mais condescendentes, pois sim, mas poucos já são de mais.
Numa situação em que é a saúde pública que está em causa, tudo quanto se refere ao futebol fica no armário onde se guardam as coisas de pouco valor. A época está irremediavelmente afetada, dado que, sem certezas quanto ao controlo total da pandemia, a solução, qualquer que ela seja, terá de ser encontrada à escala continental e assumida pela própria UEFA.
Mesmo que o vírus comece a dar sinais inequívocos de abrandamento com a brevidade por todos desejada, creio que muito dificilmente isso acontecerá de uma forma uniforme que abranja todos os países por igual, de aí que, em nome do bem comum, não se vislumbre outra saída que não uma decisão tutelada pelo organismo que gere o futebol em todo espaço europeu e que recolha o beneplácito de uma maioria que integre as principais ligas.
NO essencial, como li em A BOLA, na edição de ontem, em trabalho assinado pelo jornalista Ricardo Quaresma, em equação estarão quatro alternativas, a saber:
1. O campeonato concluir-se em condições normais, se houver condições para tal;
2. O campeão, as despromoções e as subidas da Liga 2 serem encontrados através do sistema de play-off;
3. O campeonato não terminar e não ser atribuído o título;
4. Ser considerado campeão o clube que estava em primeiro lugar no momento em que a competição foi interrompida.
A reunião da UEFA com as suas 55 Federações associadas, mais a Associação Europeia de Clubes, a Associação das Ligas Europeias e a Associação Internacional dos Jogadores, está marcada para hoje, mas já muito se sussurra por aí, na habitual tentativa de influenciar decisões. Neste aspeto , os nossos vizinhos espanhóis têm estado particularmente ativos, antecipando prováveis medidas, ora noticiando que no caso de não ser possível concluir as competições deverá ser aconselhado às federações que seja declarado campeão quem liderar a classificação no momento da interrupção, ora, numa perspetiva aparentemente mais equilibrada, defendendo a conclusão normal dos calendários, como fez Javier Tebas, presidente da Liga espanhola, ou, ainda, como derradeira hipótese, estendendo o campeonato a «duas temporadas diferentes», como alvitrou o presidente da Federação italiana.
Em rigor, estamos numa fase em toda a gente julga saber de tudo, mas ninguém sabe de nada.
Partindo-se do princípio que a via mais provável apontará no sentido de os campeonatos serem definitivamente suspensos, apenas em Inglaterra o campeão está encontrado, hoje, como daqui a um mês. Trata-se do Liverpool, com mais de vinte pontos de vantagem sobre o segundo classificado, que é o Manchester City. Um título que persegue há 30 anos e que deve ser assinalado com a dignidade que Jurgen Klopp e os seus jogadores irrecusavelmente justificam. Mesmo assim, não é a mesma sensação, entre uma decisão administrativa e festejar com os adeptos na derradeira jornada da Premier League. Na opinião do antigo jogador Alan Shearer, será uma grande desilusão para o Liverpool se a prova não recomeçar. Ninguém o vai apanhar, é verdade, mas não completar a época tem de ser a última hipótese a ser colocada em cima da mesa, sublinhou.
Em França (PSG, 12 pontos de avanço e menos um jogo), a questão do campeão será também pacífica, mas nos restantes casos há mais do que um candidato em cada país: Juventus (63 pontos) e Lázio (62), em Itália; Barcelona (58) e Real Madrid (56), em Espanha; Bayern (55), Dortmund (51) e Leipzig (50), na Alemanha; FC Porto (60) e Benfica (59), em Portugal.
A decisão sobre a atribuição de títulos campeão cabe à federação de cada país, mas em face da complexidade do problema, é igualmente compreensível que as mesmas federações prefiram colocar na UEFA a responsabilidade por uma deliberação abrangente que as liberte de polémicas e conflitos com os seus clubes.
Cá por casa, os sábios profissionais também já começaram a debitar teorias. Com o mau gosto do costume. No resto, é esperar serenamente, na certeza de que Portugal está muito bem representado pelo presidente da FPF, Fernando Gomes.
Importante é o combate que o nosso país está a travar com a epidemia. Por isso, pede-se aos canais de agressão comunicacional dos clubes, sobretudo aos mais ferozes, que fiquem em casa por tempo prolongado. A bem da saúde dos adeptos.