Campeão ainda em obras
Há cinco anos, Oblak fugiu para o Atlético de Madrid motivado pela legítima aspiração de jogar numas das melhores ligas do mundo, com a visibilidade que a portuguesa não lhe dava, mas quem está recordado sabe que a verdadeira razão que o levou a tomar essa decisão deveu-se ao facto de o seu valor não ser reconhecido pelo treinador do Benfica na altura.
guarda-redes esloveno percebeu que, a ficar na Luz, arrastaria a sua carreira de emprestado e não hesitou quando o clube espanhol lhe estendeu o convite como prova de confiança na sua irrecusável classe, que o coloca hoje entre os melhores do mundo e que a estrutura técnica encarnada nunca enxergou.
Se a história se vai repetir ou não saberemos mais tarde. A previsível dispensa de Vlachodimos não deixa de ser uma surpresa, mas desde que começaram a circular nomes de gente célebre para o render, como Cillessen ou Keylor Navas, enfim, mesmo não se vendo na posição um caso urgente para resolver, em face das alternativas noticiadas, nada a dizer. No entanto, trocá-lo pelo despromovido a terceiro guarda-redes da Juventus, devido ao regresso de Buffon, de experiência zero na Champions e da mesma altura de Vlachodimos (1,88), por isso o reparo de encher pouco a baliza, aparentemente, terá pouco cabimento. Além de obrigar ao dispêndio de uma quantia acima dos 10 milhões. Só não será um negócio pouco recomendável se alguém descortinou no italiano qualidades muito relevantes no período em que representou o Génova e que atestam a aquisição.
Por outro lado, quando se falou na cedência de Svilar para jogar com regularidade, admitiu-se que a ideia seria ficar com dois guarda-redes de nível elevado, o tal peso pesado mais o grego. Tinha lógica, mas os últimos desenvolvimentos sugerem que Vlachodimos vai à vida dele e Svilar fica onde está. Vá lá entender-se…
Com o plantel, em linhas gerais, estabilizado e estruturado, fruto do novo modelo de gestão, finalmente ativado com a ascensão de Bruno Lage a treinador principal, não seria suposto ver o campeão ainda em obras por esta altura, mas há sempre situações sensíveis que demoram mais do que o previsto a resolverem-se.
Na circunstância, houve que clarificar o futuro de Salvio, que já não viajou com a comitiva para o Estados Unidos. Cessa a sua ligação ao Benfica e volta à Argentina para alinhar no Boca Juniors.
Tudo tem o seu tempo e o de Salvio estava no limite do prazo de validade. Até já teria expirado. Acredita-se que foi uma decisão difícil de tomar, mas foi a mais sensata e favorável a todas a partes.
NO sábado à noite, em Coimbra, a família benfiquista sossegou, não tanto pelos oitos golos marcados à Académica, também ela a enfermar dos mesmos problemas, mas, sobretudo, devido à declaração de Bruno Lage, o qual, pela primeira vez, se referiu aos abandonos de Jonas e João Félix para apelar à contenção crítica. «Deixem esta malta trabalhar como está a trabalhar, correr como correu, com bola e sem bola, é isso que pretendemos», afirmou.
Lage tem a noção perfeita das dúvidas e dos receios dos adeptos encarnados dado não ser fácil convencê-los de que nenhuma consequência comprometedora advirá das saídas de Jonas e Félix, jogadores de diferentes gerações mas ambos determinantes na reconquista. Os dois contribuíram com 26 golos no Campeonato em meia época de utilização regular, uma marca que de modo nenhum deve ser desvalorizada.
De Tomas quer demonstrar que foi um bom investimento. Tem golo, toque fino, sabe movimentar-se, lê bem o jogo e vê-se que o grupo o acolheu de braços abertos, mas, sozinho, não fará esquecer a dupla Jonas-Félix. Precisa do amparo de Seferovic, mas, se calhar, vai ser ele a orientar o suíço.
A temporada é longa e as lesões não avisam, motivo pelo qual se aceita a prioridade com o lugar de guarda-redes desde que se faça o investimento adequado na outra ponta da equipa. Sofrer menos golos é objetivo louvável, mas num emblema que por vocação histórica promove a cultura de ataque essa medida apenas será verdadeiramente eficaz se, em simultâneo, for realizado um esforço para aumentar a sua capacidade concretizadora. Que é suficiente para consumo interno, mas talvez de menos para as ambições europeias que o presidente definiu e o treinador aprovou.
De Tomas não é Jonas, mas reúne credenciais para dar o nome a uma nova dinastia goleadora. Quanto à vaga aberta por Félix a questão é mais complexa. De entre os que estão não se vislumbra quem justifique tão gigantesca promoção. Por isso, talvez não fosse mal pensado concentrar energias e euros no ataque: saíram dois e entrou um. Está deficitário.