Campeão à vista

OPINIÃO15.07.202012:40

O FC PORTO espera comemorar hoje o segundo campeonato em três anos - mérito inquestionável de Sérgio Conceição - e o 22.º em 38 anos de presidência de Jorge Nuno Pinto da Costa, o dirigente que não se cansa de ganhar títulos e adiar o enterro que tanta gente tem anunciado. Basta um ponto para fazer a festa. O adversário é que não será o mais indicado: o Sporting tem sido a besta negra dos azuis e brancos nos últimos tempos e é a equipa que mais danos causou a Sérgio Conceição.

Lembre-se que nas últimas duas épocas os leões, em duelos de altíssima intensidade, impediram o FCP de ganhar duas Taças de Portugal e duas Taças da Liga… superiorizando-se sempre (!) no desempate por penáltis. É claro que ninguém espera que o FC Porto não consiga pelo menos empatar com o baby Sporting, mas convirá lembrar que Rúben Amorim derrotou Sérgio Conceição nos dois jogos que fez  ao serviço do Braga - um deles valeu a vitória na Taça da Liga - e que o Sporting, com Amorim, não perdeu qualquer jogo e detém a melhor performance do período pós-covid - 17 pontos em sete jornadas, contra 16 pontos do FCP.

O FC Porto sobe ao Dragão amputado de dois pesos pesados - Jesús Corona e Sérgio Oliveira -, contra a ausência do argentino Marcos Acuña do lado dos leões. São baixas suscetíveis de tirarem algum brilho ao espetáculo, mas a verdade é que vemos, nos dois lados, jogadores e ideias à altura da tradição do clássico - o primeiro de sempre jogado à porta fechada. Na miudagem do Sporting sobressai o potente Jovane Cabral, que tem feito muitos estragos e belos golos (que poderoso pontapé tem ele!) em quase todos os jogos da era Rúben Amorim; do lado portista, arrisco dizer que o pé esquerdo de Fábio Vieira, pelo que se tem visto, ainda vai dar muitas alegrias aos adeptos portistas; para além da maior experiência e traquejo dos jogadores azuis e brancos, avulta o caráter e competitividade de um coletivo claramente moldado à imagem de Sérgio Conceição, um guerreiro por natureza. Não haverá os golpes de asa de Corona, mas não faltarão músculos a arfar e ossos a ranger num onze de grande porte atlético que esperneia, compete e, sobretudo, discute todas as bolas do primeiro ao último minuto. É por isso que vão ser campeões.

E é por isso que Sérgio Conceição, ao fim de três anos, se prepara para entrar na galeria dos treinadores portistas que foram pelo menos bicampeões. Por lá se encontram nomes como Mihaly Siska, José Maria Pedroto, Artur Jorge, Carlos Alberto Silva, Bobby Robson, António Oliveira, José Mourinho, Jesualdo Ferreira e Vítor Pereira. Sérgio fica em boa companhia.

  Rúben Amorim disse que «se o FC Porto for campeão os jogadores do Sporting devem sentir a dor da festa». Julgo que é uma tentativa de começar a incutir no futebol do clube aquilo que lhe falta há uma eternidade: aversão à derrota!, uma das componentes da cultura de exigência existente nas instituições ganhadoras. É claro que Amorim não tem qualquer responsabilidade no descalabro que foi a época do Sporting (é o quarto treinador em exercício), mas é um facto que se os leões perderem no Dragão essa derrota - a 16.ª da temporada, um número inédito no historial leonino - não deixará de constar do seu currículo. Independentemente do resultado de hoje, o Sporting vai fechar esta década sem ganhar qualquer campeonato - o que não acontecia desde os anos 30 do século passado - e completar pela primeira vez 19 anos sem ser campeão, igualando o pior jejum do FC Porto. E a travessia do deserto está para durar enquanto os homens (com egos mais ou menos inflamados) que se têm sucedido na presidência do Sporting não perceberem onde é que o clube tem falhado e onde é que urge arrepiar caminho. Parte da resposta encontra-se na estatística em anexo…