Camelos!...
Ficará este como um campeonato de vergonha num pequeno país assente em tanta areia, dominado pelo poderoso emir Al Thani
OMundial de Futebol do Catar que está a d ecorrer no país dos camelos, animalzinho que naquelas paragens abunda, não podia deixar de ser uma pátria em que as duas boças são emblema nacional, boças que representam os entorses na existência de um país, curtíssimo no seu território nos minúsculos quilómetros que, em Portugal, são menores que a distância entre Lisboa e Porto.
Mas mesmo sendo tão pequeno em tamanho tem demasiada areia na engrenagem duma vida saudável. Há pobres, há ricos e há ultra-milionários. Há petróleo e há gás transformado em dinheiro que vai para o bolso duma dúzia e sobretudo para o porquinho do emir Al Thani, sucessor de seu pai Hamad.
Com 42 anos, três mulheres e 11 filhos, a fortuna atrapalha-o porque não sabe o que fazer com ela. Investe no mundo inteiro, tendo maior património em Inglaterra do que a Familia Real Inglesa para além dos investimentos pelo mundo inteiro através do fundo soberano Qatar Investiment Authorit. Por isso, o apetite pelo desporto e assim controla o Paris Saint-Germain, tendo recentemente entrado em Portugal, adquirindo 21,67% do Sporting de Braga, certamente não demorando a nomear o presidente António Salvador como emir do Sameiro. E, não seria de admirar, se ficasse com todos os negócios de venda de papas com sarrabulho e cozido à portuguesa.
Mas o que o emir Al Thani se tem esquecido é da gentinha que vive naquele areal imenso, com uma população indigena de pouco mais de 70% e a restante de gente migrante, população que vive (!) sem ter direito a ser gente e as mulheres apenas para parirem e trabalharem. Bebidas alcoólicas só em casa, enquanto os homossexuais não podem existir. Sem dúvida um país assente em areia.
MAS ganhou a organização do Mundial 2022. Custou muito subornar (perdão, premiar) a quem deu um jeitinho, com Joseph Blatter, polémico presidente da FIFA, a declarar, tarde e a más horas, que estava arrependido de beneficiar o Catar em detrimento dos Estados Unidos da América, tendo ainda a lata de recentemente afirmar que também não deveria ter consentido a inscrição do Irão no torneio. Ora este senhor suíço, graças a Deus, foi para longe gozar as prebendas do emir Al Tharin, os acrescentos do seu amigo Platini e duns souvenirs presidenciais de Sarkosy, depois daquele chá das cinco bebido no confortável segredo de um gabinete do Eliseu. E o presidente francês não ficaria de mãos a abanar pois vendeu uns aviões para o país das Arábias. Tudo tratado seriamente. Ninguém duvida. Nem os camelos.
Como remate de toda esta vergonha, o actual líder da FIFA, Gianni Infantino, um advogado ítalo-suiço que sucedeu a Blatter, depois do mundo inteiro se insurgir pelo Catar-2022, deu uma grande entrevista que nos apetece destacar quando afirmou, tentando anular as críticas e passar uma mensagem contra o preconceito. Disse que se sentia catari, árabe, africano, deficiente e gay.
Também classificou as críticas vindas da Europa, pois, segundo Infantino, os países europeus deveriam pedir perdão pelo que fizeram ao mundo nos últimos 3000 anos antes de querer dar lições. Infantino, talvez de cima do seu camelo, também falou sobre o Irão, afirmando que a FIFA recebeu pedidos para excluir o país da Copa, por causa das acusações da opressão às mulheres que, entre outras proibições, não podem frequentar os estádios. Mas diz que defendeu a presença dos iranianos porque a FIFA não é a ONU. Este Infantino é mesmo…infantil.
NA verdade, este campeonato é de vergonha. Mas nós, portugueses, não podemos cuspir para o ar, pois já tivemos o nosso campeonato crivado de vergonha, quando, no México, fizemos triste figura fora e dentro do relvado. Mas fiquemos pela recordação já que os principais responsáveis já cá não estão.
E para terminarmos, por hoje, com algum sorriso, lembremos a regra no país dos camelos que proíbe as bebidas alcoólicas, ou mesmo um inofensivo copo de vinho. É natural que eles não conheçam a nossa pinga, mas em 1966, em Londres, no mundial de lágrimas para as nossas cores, naquele jogo com os ingleses que teríamos de perder para que a saudosa Isabel II não tivesse de abdicar, tal era a sede do triunfo dos britânicos, houve um convidado, o leixonense presidente Ramos Gouveia, já saudade, que transportou um garrafão do bom vinho verde tinto de Ponte de Lima e todos os presentes mataram saudades e esqueceram os desgostos.
Realmente os cataris, ou quem manda neles, são mesmo camelos, só bebendo água.