Bruno na senda de Ronaldo

OPINIÃO25.02.202003:00

Bruno Fernandes - Ao quarto jogo com a camisola do Manchester United o antigo capitão do Sporting marcou, jogou, assistiu, inventou e encantou os adeptos do seu novo clube com os quais vai construindo uma relação  que  tem tudo para ser feliz. Como praticante de  imensa qualidade, viu abrir-se-lhe a porta da liga mais fantástica do mundo e a possibilidade de trabalhar num país em que se atribui ao futebol a importância social e cultural que verdadeiramente tem e em que se valoriza o jogo e o artista, enobrecendo o espetáculo como só os britânicos conseguem.

Bruno está onde sempre desejou, ciente do deu infindo virtuosismo e sem receio de se sujeitar aos mais elevados graus de exigência competitiva. Em Inglaterra cada  jogo é vivido com entusiasmo e prazer, num permanente teste aos limites das emoções, porque o adepto comum percebe que um jogo é um jogo, apenas isso. Momento de comemoração, de frustração, de choque de sentimentos, mas somente um jogo e…  uma festa.

Bruno é um génio a executar  e sentia-se incomodado numa realidade pacóvia como a nossa em que a arte de bem jogar não merece o devido relevo por causa da patológica tendência em ajavardar o fascínio  do futebol com arbitragens, árbitros e a desconfiança que lhes está associada em obediência ao primado da suspeição como convém a quem se habituou a dar mais valor ao negrume da noite do que à transparência do dia. Ambiente, porém, que os grandes jogadores suportam cada vez menos. Na senda de Cristiano Ronaldo, creio que o United vai ganhar bom dinheiro com o seu novo reforço português.

Jackson Martinez - A indignação de Marega vai caindo no esquecimento e, não tarda, fica definitivamente arquivada na prateleira dos assuntos sem importância. O presidente da Liga já veio a público prometer o seu empenho para que casos semelhantes não se repitam e o presidente do Conselho de Disciplina da FPF foi igualmente célere em alertar para a generosidade do regulamento, ou seja, preparou o terreno  para não se ficar à espera de penas severas a uma minoria de adeptos que, dizem, não representam nem o Vitória de Guimarães, nem os seus associados, nem sequer os seus grupos organizados de adeptos, apesar de o mais conhecido  estar referenciado pela polícia pela violência com que se manifesta.

Não é só o racismo, é também a intolerância e o ódio, amplamente difundidos por presidentes, que não olham a meios para alcançar um fim, treinadores, cheios de acritude por se sentirem rodeados de  fantasmas,  e especialistas em comunicação, ou em confrontação, por ser serem os transmissores da má vizinhança entre as famílias do futebol.

Antes que o tema alastre no esgoto das redes sociais, esperando que fique por aí, quero manifestar que estou ao lado de Jackson Martínez na sua profunda desilusão por ter falhado o penálti no jogo com o FC Porto, ninguém podendo adivinhar o que seria a sua história se o elegante avançado colombiano o tivesse concretizado. Elegante é o termo que me ocorre e que reflete a imagem de um futebolista superiormente dotado e que fazia, e ainda hoje faz, coisas extraordinárias com uma facilidade espantosa. Como se a bola tivesse asas e voasse ao ser tocada pela sua bota.

Nota-se que joga em esforço, mas a magia continua lá, irreverente, impetuosa e surpreendente. Falhou o penálti. Atirou a bola para a bancada dos claqueiros. Quando foi substituído  o público levantou-se, em sinal de agradecimento. Não só por ter representado o emblema do dragão, mas principalmente pelo jogador que foi, que é, e merece a homenagem sincera de quem teve o prazer de o ver espalhar a sua arte. Artur Jorge, o primeiro treinador português a conquistar a Taça dos Campeões Europeus, para o caso dos mais jovens não saberem, disse-me  um dia que as pessoas podem não gostar de futebol mas ninguém  fica indiferente quando ele é bem jogado, como Jackson Martínez sempre fez.  

Wendel - O médio leonino estava em risco de exclusão e, no entanto, provocou  a admoestação com cartão amarelo no jogo com o Boavista. Se calhar nem  provocou, terá sido por distração, o que, na prática, significa o  mesmo: foi um cartão estúpido, não daqueles quase arrancados à força para uma suspensão controlada no jogo seguinte, quando o adversário é acessível e convida a tal gestão. O que não é o caso. Na próxima jornada o Sporting desloca-se a Famalicão para defrontar a grande surpresa deste campeonato (6.º com 33 pontos) e está obrigado a triunfar de modo a  não facilitar na luta pelo terceiro lugar, com Sporting de Braga, dono da posição com um ponto de vantagem.

Vai ser necessário um Sporting na máxima força, ou quase…  Wendel fica a descansar. De propósito ou não é irrelevante, mas ver um cartão amarelo como ele viu é, no mínimo, sinal de falta de cabecinha.  Se antes era a sombra de Bruno Fernandes que o inibia, agora será o quê?